São Paulo: ilusão de ótica é tema de exposição em casa-museu
O artista suíço Felice Varini criou obras lúdicas, divertidas e que estão em diálogo com o casarão do novo Instituto Artium, em Higienópolis
São Paulo ganhou uma fantástica casa-museu no mês de março no bairro de Higienópolis. O Instituto Artium, ao lado da Praça Buenos Aires, é uma mansão construída em 1921 no estilo eclético Luís XVI. Por anos o lugar serviu de residência para o cônsul da Suécia e depois passou para as mãos do consulado do Japão.
Depois de uma longa restauração, o lugar foi aberto ao público em agosto quando abrigou a exposição Semana 21. Lembro pouco das obras, mas me recordo do êxtase das pessoas que entravam e ficavam (eu fiquei) boquiabertas com os lustres de cristal, o afresco no teto em uma das salas e os revestimentos de seda, que são retratos de uma época em que Higienópolis era dominada por famílias quatrocentonas vivendo em palacetes.
Mas somente agora, com a inauguração da ótima exposição do artista suíço Felice Varini, que a casa ganha o destaque que merece. Muitas vezes um museu é simplesmente um cabide para o que está sendo exposto, mas há casos em que o ambiente faz parte do pensamento criativo do artista que ali expõe. Sem mobiliário algum e usando como suporte apenas as paredes, colunas, o chão e o teto, o olhar dança e o efeito é um delírio visual.
Vik Muniz foi certeiro quando disse uma vez que a função de um museu é se metamorfosear temporariamente a cada exposição, se tornando sempre novo, testando assim os limites do seu próprio significado.
Conto aqui um spoiler que a essa altura já circula em muitas contas de Instagram por aí, mas eu não sabia quando entrei lá no último sábado. Achei que todos aqueles riscos coloridos pintados em cores primárias colados do teto ao chão e passando pela fachada fossem aleatórios. Mas não. Quando eu estava no lado de fora, percebi que se me posicionasse em determinado ponto aquelas linhas aparentemente arbitrárias se encaixavam e formavam pequenos círculos dentro de um círculo maior. E se eu desse um passo para o lado aquela forma bidimensional se desfazia. Eureca! Eu já estava na casa há pelo menos meia hora e não tinha percebido o truque.
Entrei novamente e comecei a buscar o lugar onde toda aquela aleatoriedade de riscos se encaixasse e assim fui “construindo” as 3 obras, uma a uma, formando círculos, quadrados, elipses e triângulos que parecem flutuar sobre a arquitetura. O excelente arte-educador Yves Baeta que estava lá no dia explicou. Trata-se de uma técnica chamada anamorfose, que vem a ser a distorção proposital de uma imagem que pode ser “corrigida” de algumas formas: por meio do posicionamento “correto” diante da obra, com o uso de um espelho ou, como nos dias de hoje, com a câmera do celular.
A área externa do casarão é um jardim com ares minimalistas, pedrinhas brancas, bambus mossô, alguns bancos espalhados, herança de quando o palacete abrigava o consulado japonês. Parece que a próxima etapa será a construção de um café, o que seria muito bem-vindo. Não poderia recomendar mais a visita à exposição de Felice Varini no Instituto Atrium, que tem entrada gratuita.
Serviço
Instituto Artium
Endereço: Rua Piauí, 874 – Higienópolis, São Paulo
Período expositivo: Até 25 de janeiro de 2022
Horário de funcionamento: Terça a domingo, das 9h às 18h.
Entrada gratuita
Agendamento pelo site