Pimenta, frutos silvestres, flores. Frutos vermelhos e especiarias. Todo o blá do mundo dos vinhos pode ser experimentado, aqui, pelo olfato. A brincadeira proposta pela Adega Cartuxa, nos arredores de Évora, tem como objetivo tornar o universo mais didático aos amantes da bebida. Como? Passa-se por um corredor, molha-se um pedacinho de papel no líquido (como nas lojas de perfumes) e pronto. Está ali toda a personalidade de cada uva. Essas descrições se referem, especificamente, aos aromas das uvas aragonês e trincadeira, que, juntas, dão origem a um dos vinhos mais desejados de Portugal: o mítico Pêra Manca.
A experiência no “corredor de aromas” das principais uvas usadas na fabricação dos vinhos alentejanos é a etapa final da visita à Adega Cartuxa, gigante que produz 4,5 milhões de garrafas por ano de alguns dos vinhos portugueses mais queridinhos no mercado brasileiro, entre eles o EA, o Cartuxa e o Pêra Manca.
A visita, que sempre termina com degustações (e custa desde € 5 por pessoa), começa em um belo edifício do século 16, passa por salas de envelhecimento de tonéis de carvalho francês e segue pelas instalações que, ao longo dos séculos, incorporaram diferentes técnicas de produção que, hoje, cumprem um belo papel de museu.
É possível ver, por exemplo, ânforas gigantes de fermentação natural desenvolvidas na Argélia, além de enormes tanques de concreto.
Fundada em 1776, a Vinícola Cartuxa tem hoje 700 hectares de vinhedos no Alentejo, sobretudo das castas antão vaz, arinto e roupeiro (a base dos vinhos brancos) e aragonês, trincadeira e alicante-bouchet (a base dos tintos) – mas, a despeito do tamanho, a colheita ainda é majoritariamente manual.
Boa parte da aura da Cartuxa reside hoje no fato de ser a produtora do Pêra Manca, um dos vinhos mais antigos e festejados do país (reza a lenda que era a bebida transportada nas caravelas de Pedro Alvares Cabral quando o Brasil foi descoberto). Naquela época, Pêra Manca era a denominação da região alentejana nos arredores de Évora (por causa dos seculares monólitos, “pedras mancas”).
Com o passar dos anos, o nome passou a designar não a região, mas o produtor. A patente ficou então nas mãos da prestigiada Casa Soares até os anos 80, quando foi adquirida pela Cartuxa. A primeira safra da bebida na casa nova foi a de 1990. Desde então, o vinho so vai para o mercado em safras excepcionais. A penúltima, por exemplo, foi a de 2011, comercializada a partir de 2015 e a última, lançada em 2017, com o resultado da colheita de 2013.
Como tem uma produção limitadíssima, o Pêra Manca não é exatamente fácil de ser encontrado, pelo contrário. A vantagem de quem faz a visita guiada pela adega é que pode comprá-lo in loco, ao preço de € 194 (limitado a uma garrafa por pessoa e condicionado à visita). Por motivos óbvios, o vinho não faz parte da degustação oferecida durante o passeio.
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