Imagem Blog Além-mar Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, quase dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Um boteco brasileiro em Lisboa

Pastel, aipim, caipirinha, sambinha do bom. O Boteco da Dri trouxe um pouco do melhor da "baixa gastronomia" brasileira para Portugal

Por Rachel Verano
Atualizado em 6 mar 2020, 13h57 - Publicado em 12 out 2018, 16h27
A fachada colorida em pleno Cais do Sodré, à beira-rio
A fachada colorida em pleno Cais do Sodré, à beira-rio (Bruno Barata/Reprodução)

O pastel é frito na hora e servido quentinho (só quem vive em Portugal sabe a falta que isso faz, pois aqui a regra é servir todo e qualquer salgado frio, como se fosse a coisa mais normal do mundo). Como recheio, o clássico trio boêmio: queijo, camarão e carne.

O trio de pastéis: quentinhos e perfeitos
O trio de pastéis: quentinhos e perfeitos (Bruno Barata/Reprodução)

A mandioca aterrisa macia por dentro, dourada e crocante por fora, também quente. Para acompanhar, caipirinha de verdade, feita com cachaça (que não é a 51!), limão e açúcar branco. Das caixas ecoa Jorge Bem, Elza Soares, Novos Baianos. Preciso dizer algo mais? Tá feita a festa!

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O aipim dourado e macio: ô meu Brasil brasileiro
O aipim dourado e macio: ô meu Brasil brasileiro (Bruno Barata/Reprodução)

O Boteco da Dri, à beira-Tejo no Cais do Sodré, abriu as portas no mês passado com a proposta de mostrar a Portugal que a gastronomia brasileira é mais do que rodízio, picanha e feijoada. E de apresentar a Lisboa a nossa gostosa cultura de bar, de informalidade, de comida para partilhar, de passar horas “enchendo a cara” e “jogando conversa fora”, como bem define o chef, o goiano Pedro Hazak.

O chef Pedro Hazak, de Goiânia: viva a comfort food!
O chef Pedro Hazak, de Goiânia: viva a comfort food! (Bruno Barata/Reprodução)

A cozinha cumpre muito bem a sua parte. Ao lado da mandioca e do pastel, a lista de petiscos inclui um delicioso pão de queijo feito na casa, com queijo Minas, e caldinho de feijão. Sabe aquela cozinha confortável, de mãe, que a gente só encontra em boteco? Tem também.

O pão de queijo: feito na casa, com queijo Minas
O pão de queijo: feito na casa, com queijo Minas (Bruno Barata/Reprodução)
Close no pão de queijo, que ele merece!
Close no pão de queijo, que ele merece! (Bruno Barata/Reprodução)

A picanha e a feijoada estão lá no menu, como não poderia deixar de ser, mas brilham lado a lado com o picadinho, servido com arroz e farofa, e um surpreendente estrogonofe de filé com arroz e batata palha, que demora mais de três horas para que a carne possa ser apurada no capricho. Fica claro: de comfort food Pedro entende muito bem. E estende essa sabedoria até altas horas: a cozinha só fecha às 3h da manhã, o que faz do Boteco da Dri um boteco de verdade, aquele porto seguro no meio da madrugada. É muito amor.

O genial estrogonofe: colo de mãe
O genial estrogonofe: colo de mãe (Bruno Barata/Reprodução)

Na minha modesta opinião, o único lapso do Boteco da Dri é conceitual. Ele se intitula um boteco carioca e gosta de fazer referência à mulher brasileira, à garota de Ipanema e todo aquele blá. Tudo bem que criamos um marketing vencedor por anos a fio, mas o Boteco da Dri é mais do que isso.

Desfile de caipirinhas de verdade: como manda o figurino
Desfile de caipirinhas de verdade: como manda o figurino (Bruno Barata/Reprodução)

Reconheço ali mais traços da minha Minas Gerais e da minha querida São Paulo do que propriamente do (meu tão amado também) Rio, para dizer a verdade. Ok, ok, o Cristo Rei do outro lado do Tejo pode até lembrar o Cristo Redentor depois de umas e outras , mas as minhas referências ficam um pouco por aqui.

O picadinho com arroz e farofa: teletransporte
O picadinho com arroz e farofa: teletransporte (Bruno Barata/Reprodução)

Para ir direto ao ponto, eu diria que o Boteco da Dri é um autêntico boteco brasileiro sem fronteiras – porque isso ele é de alma. Me lembrou demais o Filial e o Genésio, na paulistana Vila Madalena; ou o Tizé e tantos outros do bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Me fez sentir saudades do Brasil, cantarolar uns sambinhas de raiz, me teletransportar durante as horas que passei ali. Mesmo ao me deparar com poréns como uma maionese para acompanhar o pastel e outra para a mandioca. Provei as duas e achei deliciosas, mas… melhor não, né? Pastel é pastel, mandioca é mandioca, e para mim eles se bastam. 

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A batida de coco, praticamente uma sobremesa
A batida de coco, praticamente uma sobremesa (Bruno Barata/Reprodução)

Talvez ainda demore para que o ambiente seja realmente de boteco. Tem um quê de seriedade, tem uma luz que não é nem de restaurante, nem de bar, tem aquele clima de que precisa de um clique para acontecer. Falta uma baguncinha. Que venha! Se depender da batida de coco, do sanduba de pernil e da deliciosa inspiração do Pedro, a diversão tá garantida!

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