Além-mar

Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, mais de dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Portugal cancela voos de e para o Brasil

A medida começou a valer na sexta-feira (29) num cenário jamais visto de evolução da pandemia no país

Por Rachel Verano
Atualizado em 29 jan 2021, 23h40 - Publicado em 27 jan 2021, 17h00
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Sem ligação: Portugal e Brasil com voos suspensos a partir de sexta-feira (nils-nedel/Reprodução)

O governo português anunciou nesta quarta-feira (27) uma medida que deu o que falar: a partir da meia-noite da sexta-feira, dia 29, estão suspensos todos os voos de e para o Brasil. Num primeiro momento, a regra vale até o dia 14 de fevereiro, mas há quem diga que o prazo pode se estender por mais tempo. As razões? A evolução da pandemia no mundo, o aumento exponencial dos casos em Portugal e as novas variantes do vírus.

Vale lembrar que as fronteiras entre os dois países seguem fechadas para o turismo, mas a medida afeta de imediato milhares pessoas que se encaixavam entre as autorizadas a viajar (brasileiros residentes em Portugal, portugueses residentes no Brasil, parentes de primeiro grau, cidadãos europeus etc etc). As fronteiras portuguesas também estão fechadas com o Reino Unido.

Portugal vem dominando os noticiários mundiais nos últimos dias por razões nada animadoras: o país está no topo de todos os rankings de piores cenários da pandemia. Além de ser aquele que tem o maior número de casos por milhão de habitantes e o maior número de mortes por milhão de habitantes, todos os dias somos surpreendidos com novos recordes locais. Os últimos dados, por exemplo, referentes ao dia de ontem, 26 de janeiro, indicam novos máximos no número de novos infectados (um acréscimo de 15.073) e de mortos (293). Mesmo com o confinamento praticamente total, a curva simplesmente ainda não parou de subir.

O cenário é bastante preocupante. Estamos vivendo o caos que vimos tomar conta de outros países na primeira onda, com hospitais lotados, filas de ambulâncias na porta e um volume de mortes tão grande para o contexto do país que os crematórios simplesmente não estão conseguindo absorver o fluxo (em alguns casos a espera chega a cinco dias). Os sobressaltos vêm a todo momento – ontem, por exemplo, um hospital nos arredores de Lisboa teve um problema no fornecimento de oxigênio, por sobrecarga na demanda provocada pelo excesso de pacientes, e teve que transferir às pressas mais de 30 doentes para outros hospitais. Já se fala em transferir pacientes para o exterior. É muito triste ver que o país passou de exemplo europeu numa fase a pior país do mundo noutra, num intervalo relativamente curto de tempo.

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O lockdown que vigora agora – e deverá vigorar por algumas semanas, pelo menos, até que o cenário mude – inclui escolas fechadas, comércio fechado, restaurantes e cafés fechados, obrigação do home office e várias limitações no transporte entre regiões do país. Sair de casa, só mesmo para o essencial, como comprar comida, remédios e consultas médicas. As multas para quem não cumprir as determinações chegam aos € 1.000 – e devem ser pagar na hora.

Se é que se pode falar de lições em situações tão dramáticas, a mais óbvia de todas é: a pandemia não acabou. A vacina não chegou para todos. A imunização vai demorar meses, anos até. A consciência – e o cuidado – de cada um é fundamental para uma política coletiva bem sucedida de contenção do vírus. Esperemos por dias melhores.

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