Uma piscina de bordas arredondadas e águas azuis, as águas do Rio Douro, o casario medieval de fachadas coloridas subindo suavemente as ladeiras do Porto. A paisagem se completando naturalmente, como se uma coisa fosse uma sequência da outra.
A primeira imagem que provavelmente o mundo conheceu do The Yeatman, o primeiro hotel realmente UAU de Vila Nova de Gaia, foi um choque. Tudo milimetricamente calculado para um enquadramento perfeito, num ângulo até então bem raro. Desde aquele agosto de 2010, o Yeatman entrou para a lista dos (meus) lugares para conhecer antes de morrer.
Então apareceram alguns momentos menos turísticos ou jornalísticos na minha vida profissional. Uma visita técnica nas salas de eventos, um passeio pelos jardins e áreas comuns e o Yeatman perdeu o lugar que ocupava no ranking do meu coraçãozinho de jornalista de viagens. Achei, num primeiro momento, tudo grandioso demais, desolado demais, colorido demais, sem propósito demais.
Ainda bem que eu voltei.
Mal coloquei os pés no Yeatman – agora como hóspede – e minhas impressões mudaram. Até chegar ao quarto (talvez um pouco longe demais, pois se uma coisa é certa é que as proporções não mudaram) eu me deparei com inúmeros ângulos daquela mesma paisagem que havia me impressionado tanto 12 anos atrás. Nem a chuva e a melancolia de um dia ultra nublado, nem as paredes amarelas cor de pastel de nata, nem os lobbies redondos e recheados de colunas foram capazes de tirar a magia.
Então entrei no meu quarto e foi uma sequência de UAUs. Um carpete macio, alto e delicioso onde eu podia passar todas as noites sem colchão. Uma cama gigantesca com mil travesseiros gritando meu nome. Uma varanda com duas espreguiçadeiras e aquela mesma vista estarrecedora. E – golpe baixo – uma banheira estrategicamente posicionada ao lado de uma janelona de madeira no banheiro que, quando aberta, se esparramava sobre a mesma vista do rio e das casinhas coloridas. Com direito a uma garrafa de vinho do Porto para brindar durante um banho de espuma. O Yeatman acabava de se redimir com louvor.
Outras boas novas acabariam por dar o ar da graça durante toda a hospedagem. Sendo um “hotel vínico”, tudo ali é desenhado em torno de experiências que envolvem a bebida – das massagens do spa, onde os produtos usados são Caudalíe, a famosa marca francesa que usa as propriedades relaxantes e rejuvenescedoras da uva e do vinho, até 1.300 rótulos que compõem a adega do hotel (dos quais, 94% portugueses).
Há ainda degustações de vinhos de diferentes regiões portuguesas, jantares harmonizados com a presença dos produtores, workshops e uma loja que vende não apenas garrafas, mas acessórios e uma boa curadoria de produtos tipicamente portugueses. Raridade em Portugal, é possível provar mais de 100 vinhos em taça no bar. E ainda não chegamos aos domínios do chef Ricardo Costa, que trouxe para o lado de cá do Douro não apenas uma, mas duas estrelas Michelin (a cotação máxima em Portugal).
Responsável por toda a cozinha do hotel, Ricardo deixa as suas mirabolâncias e ousadias para o The Yeatman Gastronomic, que tem as estrelinhas vermelhas na porta. No The Orangerie a cozinha é voltada para pratos tipicamente portugueses, mas com uma leitura mais leve e moderna. Eu, que não como carne, fiquei feliz de abrir exceção para o cordeiro mais macio que me lembro de ter provado na vida num menu degustação que não teve nenhum ponto baixo – e ainda terminou com rabanada.
Como durante a minha hospedagem os dias foram passados nos museus do incrível World of Wine (WOW, leia aqui sobre a visita), dos mesmos donos, foi só no último dia que pude me dedicar a explorar sem pressa a tal vista surreal que me chocou em 2010. Ainda fazia um friozinho do lado de fora, então a escolha foi a piscina do spa. A água estava quentinha, o roupão macio, a vista ora com sol, ora com nuvens – mas depois de uma hora entregue às mãos da terapeuta Silvia numa sala batizada Tinta Roriz (uma casta tipicamente portuguesa), tudo pareceu fazer ainda mais sentido.
ANOTE AI: As diárias no Yeatman custam a partir de € 267, dependendo da época do ano. O hotel fica em Vila Nova de Gaia, a poucos passos dos museus do WOW e das margens do Rio Douro, descortinando as melhores vistas da Ribeira do Porto.
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