O Guia Michelin 2017 trouxe belas surpresas para Portugal. Nunca antes na história da publicação o país teve um desempenho tão bom – foram 9 novas estrelas de uma tacada só. Em Lisboa uma delas veio para Henrique Sá Pessoa, um chef que é tão simpático quanto bom cozinheiro, embora sejam qualidades que, claro, não se deve comparar (mas eu me permito especialmente por ser um meio tomado por esnobes famosos e cheios de manias).
Henrique foi premiado pelos serviços e receitas do seu restaurante Alma, casa no Chiado que fica atrás de uma imensa porta escura que não deixa entrever o que se passa do lado de dentro – e se passam muitas coisas. E muitos detalhes. Ou alguém imagina como se faz uma teia com “retalhos”de bacalhau que se parece com as famosas calçadas portuguesas?
Pois bem. O Alma é lugar para ir ao jantar e embarcar nas criações dos menus degustações (desde € 90). Mas não é a única novidade de Sá Pessoa. A mais recente, aliás, abriu as portas há poucas semanas no Príncipe Real, bairro colado ao Bairro Alto que é a bola da vez em Lisboa. No Tapisco, seja no balcão ou nas poucas mesas com clima de bar, reinam as tapas – catalãs e portuguesas e um mix de tudo isso junto. Ponto para a espanholíssima bomba, que aqui ganha recheio de alheira. Para acompanhar, há um bar de vermute (e viva España!).
Um ponto de equilíbrio entre todas as cozinhas de Sá Pessoa (há ainda outros dois endereços na cidade) é a presença de seus ingredientes do coração: leitão (geralmente a barriga) salmonete e cenoura. Para ter um gostinho de leve, vale se juntar à multidão que lota diariamente o Time Out Market– ali, o chef tem um stand de fast-gourmet-food onde serve até 800 refeições por dia. Sim, 800, mas só no auge do verão, quando a cidade está lotada.
Morador do Benfica, de olho no movimento turístico (acaba de colocar um apê no Airbnb), e sempre ávido por novidades (as próximas incluem um ateliê de experimentações na região de Marvila), Henrique não esconde a sua preocupação com a invasão de estrangeiros e o consequente aumento dos preços em Lisboa, de maneira geral. “Eu quero ter sempre portugueses às mesas dos meus restaurantes”, diz ele. “Senão tudo deixa de ter sentido.” Que assim seja. E que a gente possa estar sempre ao lado deles.