Imagem Blog Além-mar Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, mais de dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu

São Lourenço do Barrocal: um hotel autossustentável no coração do Alentejo

Mel, azeite, vinho, ervas, legumes, verduras e mais. O São Lourenço do Barrocal é a prova de que luxo e auto-sustentabilidade podem andar de mãos dadas

Por Rachel Verano
Atualizado em 16 nov 2022, 18h21 - Publicado em 30 out 2022, 18h35
Edifício branco de dois andares com árvores e pedras na frente
São Lourenço do Barrocal ao entardecer. (Bruno Barata/Reprodução)

O ritual começa com a lavagem dos pés com ramos de alecrim. Segue com uma massagem suave à base de azeite e, com a pele já macia, prossegue com as pindas aquecidas a pressionar e aliviar os pontos de tensão. Ao mesmo tempo em que provocam um ligeiro atrito, as trouxinhas recém-feitas em tecido de algodão recheado com grãos e ervas liberam um aroma inebriante de mato, de verde, de natureza. Estamos no coração do Alentejo e todos os ingredientes usados na terapia são colhidos e produzidos logo ali, do outro lado da janela. No São Lourenço do Barrocal, a menos de 10 quilômetros da encantadora aldeia de Monsaraz, o conceito “farm to table” não se resume à table (mesa). Na verdade, não seria exagero batizá-lo de “farm to everywhere”. Aqui, reina a auto-sustentabilidade – há séculos.

Massagem no spa
Massagem com pindas no spa do Barrocal: ervas e azeite da propriedade. (Bruno Barata/Reprodução)
Um bowl de cerâmica com grãos de arroz e ervas para tratamentos no spa
A mistura que recheia as pindas no spa: ervas diretamente da horta. (Bruno Barata/Reprodução)

Embora o hotel tenha aberto as portas em 2016, a aldeia agrícola de São Lourenço do Barrocal foi fundada em 1820 e, desde sempre, viveu em modo autossustentável. Ali sempre se produziu quase tudo o que se consumia. A ideologia continua a ditar as regras, muito embora haja espaço para uma curadoria do que se faz de melhor em Portugal (a loja é uma perdição). Mas aqui o mel é produzido in loco, o azeite é produzido in loco, a horta abastece a cozinha, as ervas dos canteiros vão parar até no spa e o vinho é da casa. Tudo certificado como biológico.

Garrafa de azeite com um pássaro na embalagem
O azeite produzido no Barrocal: não fosse delicioso, já seria lindo. (Bruno Barata/Reprodução)
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Mesa posta com queijos e taças de vinho
Mesa posta à moda do Barrocal: farm to table (e mais!). (Bruno Barata/Reprodução)

Sobre o vinho, cabem aqui alguns parênteses: os 16 hectares de vinhedos da herdade, plantados em solo de xisto e granito, produzem, em média, apenas 20% em comparação a um vinhedo tradicional, segundo o enólogo José Rogel. É que aqui o objetivo é chegar artesanalmente a um consumidor muito especial: os próprios hóspedes do hotel. Apenas o “excedente” vai para algumas poucas lojas e restaurantes do país. Toda a colheita é feita a mão e a escolha das uvas, diretamente no campo. A produção começou em 2010 e, à produção de brancos, tintos e rosés, este ano somou-se a produção de um belo espumante feito com a casta Aragonez, o qual eu tive o privilégio de tomar a garrafa número 1374 (de 1425). “Somos aventureiros e um pouco malucos”, diz o enólogo. “O resultado ficou bom, com muito potencial.”

Homem em frente a vinhedos
O enólogo José Rogel nos vinhedos: bio e artesanal. (Bruno Barata/Reprodução)
Espumante rosé sendo servido em taças
O espumante do Barrocal: estreia este ano e garrafas numeradas. (Bruno Barata/Reprodução)
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Mais um motivo para escolher o Barrocal como pouso numa escapada “eu mereço” ao Alentejo. Ou você conhece algum outro hotel onde os hóspedes podem dizer que tomaram um vinho feito para eles?

Melhor ainda: aqui eles acompanham as receitas deliciosamente caseiras do chef Celestino Grave.

Posta de bacalhau com grãos em tacho de cobre
O bacalhau do chef Celestino Grave: delicioso. (Bruno Barata/Reprodução)
Sobremesa com petit gâteau decorada com pequenas flores roxas
Petit gâteau morno para o gran finale. (Bruno Barata/Reprodução)
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