Exposição: Jamaica com Bob Marley e mais além
Jamaica, Jamaica!, em cartaz no Sesc 24 de Maio, apresenta uma panorama político, social e musical da ilha caribenha
Após o sucesso da mostra na França, no Cité de la Musique – Philharmonie de Paris, Jamaica, Jamaica!, chega em São Paulo ainda mais completa. Com curadoria do jornalista e diretor cinematográfico, Sébastian Carayol, e produção e realização do Sesc São Paulo, a nova exposição inaugurada no dia 15 de março no Sesc 24 de maio apresenta um panorama social, político e, principalmente, musical da terceira maior ilha das Grandes Antilhas e destaca o impacto da música jamaicana em outros países, especialmente naqueles que foram marcados pela diáspora africana.
A mostra, que apesar de ter um espaço inteiramente dedicado ao grande ícone do reggae, Bob Marley, não fica limitado a ele. Por meio da exposição de discos, banners, folhetos, maquetes, fotos, instrumentos originais e áudios de importantes figuras políticas e estrelas musicais, Jamaica, Jamaica! interage diretamente com o público dando a ele uma visão mais ampla do país, diferente daquela criada pelo senso comum.
Diante dos oito núcleos montados no ambiente, (divididos em 400 anos, independência Ska!, Ei, Mr Music, Som no “sistema”, Black-Man Time, Nós Somos de Trenchtown, Estilo Dancehall e Um olhar sobre a trajetória do reggae no Brasil), a exposição reconstrói a história da ilha dando destaque para os períodos que mais a impactaram politicamente e socialmente e discute sobre a importância da música em cada um destes momentos.
Música Jamaicana
A história musical da Jamaica vai muito além do reggae. Conhecida como o berço de vários gêneros musicais que hoje se tornaram populares ao redor do mundo, ela se inicia ainda no período de escravidão, em 1670, com o surgimento do mento nascido da mistura da música folclórica rural, dos cultos religiosos e das danças e cantos trazidos da África Ocidental.
No entanto, foi com o ska, gênero musical que surgiu após a independência da ilha, que o movimento musical ganhou mais importância no país. Encabeçado pelo grupo Skatalites, ele misturava elementos já difundidos localmente, como o calipso e o mento, com o R&B norte-americano, o jazz e o blues. Em 1950, a popularização dos sound system reuniu os jamaicanos que se divertiam nos bailes ao ar livre ao som de novos estilos que estavam pipocando dentro e fora do país.
O reggae surge após a disseminação de gêneros como o dub e rocksteady. Trazendo em suas letras os ideais do movimento rastafári, o amor e a luta contra os conflitos armados que atingiam Trenchtown, um dos guetos mais famosos do mundo, Bob Marley & The Wailers se firmaram como uma das bandas mais importantes da Jamaica. Após se separar do grupo, Marley atingiu sucesso internacional com músicas como No, Woman no cry e I Shot the Sherriff. Logo após sua morte, o ritmo que predominou foi o dancehall, feito para dançar nas ruas e nos bailes.
Influência da música jamaicana no Brasil
Um espaço dedicado a influência da música jamaicana no Brasil foi feito especialmente para a mostra. Na sala Mistério Sempre Há De Pintar Por Aí: Um olhar sobre a trajetória do reggae no Brasil, é possível entender mais sobre a inserção do reggae no país, que teve início nos anos 50, no Maranhão, com a introdução dos primeiros sistemas de som, chamados na época de radiolas. Na Bahia, a divulgação do estilo coincidiu com o início da cultura dos blocos afro que contribui para a criação do samba-reggae que depois passou a ser conhecido como axé music.
Em 2000, o dub e o dancehall fizeram parte da vida noturna de São Paulo e em seguida os sound system ganharam popularidade nas periferias da cidade. Na mostra, o que mais chama a atenção é a forma como o período foi relembrado: pela exposição de algumas fotos e pôsteres de eventos que aconteceram na cidade e por outros que acontecem atualmente no centro de São Paulo, como a festa FLASH Dancehall.
O oitavo espaço, dedicado ao Brasil, conta com instrumentos do Olodum e com a exibição do documentário “Kaya N’Jamaica: Gilberto Gil na terra de Bob Marley“, que mostra a imersão do cantor Gilberto Gil, um dos primeiros a trazer o reggae para o Brasil, no país de Bob Marley. Uma bela lembrança para os fãs de Gil.
Interatividade
A interatividade está presente em toda a exposição. Além das “caixas de som” com entrada para fones de ouvido (onde é possível ouvir as músicas e os discursos de políticos jamaicanos), o visitante pode ter uma ideia de como funcionam os equipamentos de sound system, os sistemas de sons portáteis que agitavam as ruas da Jamaica na década de 50.
Na sala Dub it Yourself, (uma das partes mais divertidas da exposição) um painel tátil fica exposto para as pessoas praticarem as técnicas dos selecta (os “djs” da época) como a separação de frequências, o uso de sirene e efeitos sonoros e a variação do volume.
O espaço contribui para destacar a importância do sound system, que influenciou a criação da cultura de bailes ao ar livre, o design de pôsteres e a criação do primeiro estúdio jamaicano, o Studio One, responsável por lançar artistas como Bob Marley e The Wailers, Burning Spear, Alton Ellis, Horace Andy e The Skalites.
Já a utilização de vídeos durante a exposição, principalmente aqueles com apresentações de artistas, ajudaram a criar um ambiente ainda mais musical.
Rádio Jamaica
Jamaica Broadcasting Corporation foi a primeira rádio a ser criada na Jamaica, em 1959, sendo portanto, a primeira rádio voltada exclusivamente para a música da ilha. Em homenagem a ela, o Sesc 24 de maio disponibilizou uma web rádio 24h feita unicamente para a exposição, que transmitirá músicas e playlists criada pelos curadores convidados. |
Até o dia 26 de agosto, o Sesc 24 de maio irá contar com uma programação especial sobre o país, com apresentação de filmes, aulas de produção de dreads, palestras com grandes figuras jamaicanas, oficinas demonstrativas de operação de sistemas de som e outras atividades que dialogarão diretamente com a mostra. Não perca!
Jamaica, Jamaica! fica em cartaz até o dia 26 de agosto de 2018, com visitação de terça a sábado, das 9h às 21h, e aos domingo e feriados, das 9h às 21h. O atendimento a grupos pode ser agendado através do email agendamento@sescsp.org.br. A entrada é gratuita.