Ao contrário do que muitos pensam, ‘A Última Ceia’ não é um quadro, e sim uma pintura na parede, de 4,6 metros de altura e 8,8 metros de largura. Chamada de Cenacolo Vinciano em italiano, essa obra de Leonardo da Vinci foi encomendada pelo duque de Milão, Ludovico Il Moro, e fica dentro do refeitório do monastério de Santa Maria delle Grazie.
A passagem bíblica em que Cristo faz seu último jantar ao lado dos apóstolos, antes de ser preso e crucificado, já havia sido tema de muitas outras obras de arte. A grande sacada de Leonardo foi ter escolhido representar o momento exato em que Jesus anuncia que um de seus companheiros ali presentes o trairia. Assim, o resultado é como uma fotografia, que registra as diferentes reações dos apóstolos, ao invés de uma imagem estática de todos jantando.
Imperdível, certo? Com isso em mente, decidi que incluiria a Última Ceia no meio roteiro em Milão, mas deixei para comprar os bilhetes já na Itália. Uma ou duas semanas antes da minha chegada na cidade, dei uma olhadinha no site para comprar os ingressos online e… encontrei tudo esgotado, não só para as datas da minha estadia, mas até o mês seguinte. Não pude acreditar na minha própria estupidez: afinal, estávamos em julho, altíssima temporada no país. Paciência, conhecerei essa obra de Da Vinci em uma próxima.
Quando uma amiga, porém, me contou que viajaria para Milão, fiz questão de alertá-la para não cometer o mesmo erro que eu: “compra logo os ingressos no site!”. A viagem dela seria em meados de setembro/outubro, quando o fluxo de turistas já abaixa consideravelmente, e o meu aviso chegou com um ou dois meses de antecedência. Ainda assim, de novo, já estava tudo esgotado.
Como comprar os ingressos para ‘A Última Ceia’ então?
Intrigada com a dificuldade de se conseguir bilhetes para ver a pintura, decidi conversar com alguns conhecidos e fazer algumas pesquisas. Assim, descobri que ‘A Última Ceia’ não é nem de longe o tipo de atração que você chega, pega uma fila, compra os ingressos e entra. O número de visitantes por dia é limitado e eles são liberados em grupos de 25 pessoas a cada 15 minutos. Ou seja, você e mais 24 pessoas entram, têm 15 minutos para apreciar a criação de Leonardo, e depois são delicadamente convidados a se retirar do recinto.
Os (poucos) bilhetes são colocados à venda no site geralmente com três meses de antecedência. Para garantir sua compra, o esquema é parecido com os dos shows de ídolos pop: assim que os ingressos forem liberados, tem que correr para comprar porque, às vezes, eles se esgotam em questão de dias. Vale reforçar que a procura é maior na alta temporada, entre a primavera e o verão, e que você pode ter mais facilidade se sua viagem for na baixa, entre o outono e o inverno. Consultei o site dia 5 de dezembro de 2018, por exemplo, e havia disponibilidade em dois horários, para apenas uma pessoa cada, no dia 12 de dezembro de 2018 (e eles se esgotaram logo sem seguida).
Dica: para fazer a compra, o site exige um cadastro e, depois, a ativação da sua conta. Faça todo esse processo (preencher seus dados e aguardar o e-mail de confirmação) o quanto antes, para que você não perca tempo quando os ingressos forem realmente liberados.
Mas existem alternativas ao site de vendas oficial. Uma certa quantidade de bilhetes são destinados às vendas por telefone, então vale tentar ligar para o +39 02 9280 0360, que tem atendimento em italiano e em inglês. Dizem que a disponibilidade ali costuma ser maior. A segunda opção é apelar para o passeio ‘A Última Ceia’ do site Get Your Guide, que já inclui a entrada, além do acompanhamento de um guia. Prepare-se, porém, para pagar bem mais caro: o tour custa €44, enquanto os bilhetes avulsos são vendidos por € 12.
E por que todo esse preciosismo?
Tudo isso para preservar a obra de Leonardo da Vinci o máximo possível. Apesar de ser uma pintura na parede, ‘A Última Ceia’ não foi feita seguindo a técnica tradicional de afresco, em que a tinta é colocada sobre a argamassa ainda fresca. O renascentista preferiu pintá-la como se fosse um quadro, aplicando tinta óleo diretamente, e logo de cara deu para ver que a arte não se conservaria por muito tempo. Para piorar as coisas, a parede do refeitório ficava muito próxima da umidade da cozinha.
E o drama não termina por aí. Durante o domínio de Napoleão, a sala foi usada como estábulo e, na Segunda Guerra Mundial, quase todo o complexo de Santa Maria delle Grazie foi destruído com os bombardeios. Por um milagre, a parede com ‘A Última Ceia’ ficou de pé e, desde então, ela passou por diversas restaurações. Sabendo a história assim, dá até mais vontade de ficar no site tentando comprar os ingressos para ver a pintura, né?
Mais dicas e fotos no Instagram: @barbara.ligero