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Mulher é proibida de fazer check-in em hotel porque viaja sozinha

Nupur Saraswat foi impedida de se hospedar em hotel na Índia; segundo a política do hotel, não são aceitas mulheres solteiras - será que isso é justo?

Por Ludmilla Balduino
27 jun 2017, 17h01

Nupur Saraswat, artista e engenheira ambiental que vive em Singapura, foi impedida de fazer o check-in em um hotel na cidade de Hyderabad, no sudoeste da Índia, por ela estar viajando sozinha.

Apesar de já ter feito uma reserva para se hospedar no hotel Deccan Erragadda, Nupur foi informada no momento do check-in que, entre as políticas do estabelecimento, está a de não aceitar mulheres solteiras entre os hóspedes. Casais de moradores locais ou que não sejam casados também são proibidos de se hospedar ali, de acordo com as regras do hotel.

A justificativa que o hotel dá para a proibição é que a região em que ele se localiza “não é o lugar certo” para mulheres solteiras.

Do lado de fora do hotel, com as malas na mão e sem saber para onde ir, Nupur entrou em contato com a companhia de reservas de hotéis Goibibo, onde ela fez a reserva, e pediu auxílio.

A primeira reação da Goibibo foi recusar ajuda, mas depois de Nupur postar em sua página pessoal do Facebook sobre o caso, a empresa decidiu cooperar: além de retirar o Deccan Erragadda de sua lista de reservas, conseguiu acomodá-la em outro hotel da cidade.

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Sobre a justificativa do hotel, de que a região não é o lugar certo para mulheres sozinhas, Nupur manda o recado: “Desta forma, eles decidiram que eu estou mais segura nas ruas do que dentro do hotel. Engraçado, né, como o patriarcado funciona?”.

Depois de a Goibibo responder, ela escreveu outro post no Facebook que, definitivamente, colocou um ponto final nos argumentos de quem defende o hotel porque faz parte da política dele proibir mulheres.

Então, se você acha que o hotel está certo e ela está errada porque a política do estabelecimento é clara, leia isso:

“Há aqueles que estão tentando silenciar esse caso perguntando ‘por que você está fazendo barulho se a proibição é claramente a política do hotel?’ Bem, eu estou fazendo barulho porque eu não estou pronta para me acomodar. Eu não estou pronta para viver com medo, com insegurança. Eu não estou pronta para ter um sistema complexo me obrigando a viajar apenas quando eu tiver um homem para me acompanhar. EU NÃO ESTOU PRONTA PARA SER ACOMPANHADA.”

“Então escuta o seguinte: uma revolução está em curso. Mulheres viajam sozinhas, e viajam para todos os lugares. As empresas que vão sobreviver são aquelas que têm isso em mente.”

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E agora, manas, quem é mais clara? A Nupur, é lógico. E eu digo mais:

Não é porque existe uma regra que ela é inquestionável. Quando uma regra vai de encontro com os desejos da sociedade – como o caso desta, que proíbe mulheres sozinhas de se hospedarem no hotel, ou aquele caso, da companhia aérea que impediu o embarque de passageiras que usavam roupas justas – ela deve ser questionada sim, e só este questionamento faz com que a regra mude.

As mulheres querem viajar mais, e não importa se estão viajando sozinhas ou não. As mulheres querem se hospedar em hotéis, e não interessa se são solteiras ou são casadas. As mulheres também querem viajar de avião, e não interessa o tipo de roupa que estão usando, até porque na maioria das vezes em que ocorre discriminação por causa de vestimenta, é uma discriminação comumente relacionada com as diferenças entre classes sociais. Uma pessoa bem-vestida é, normalmente, uma pessoa que aparenta ser rica. Então quer dizer que só “rico e bem-vestido” pode andar de avião? Você acha isso justo?

É sempre bom lembrar que o direito das mulheres de votar – algo muito básico hoje em dia – foi uma conquista das mulheres que não aceitavam que apenas homens votassem. As regras mudam, e elas só mudam quando a gente se junta para questionar, para debater, para falar, para não aceitar. 

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