Um giro por alguns picos grafiteiros da capital
Consta que a palavra grafite vem do italiano graffito e que as primeiras manifestações dessa arte urbana se deram nos tempos do Império Romano – são famosas as pichações que se faziam nos muros de Pompeia antes de o Vesúvio botar um fim na brincadeira.
São Paulo só provou desse néctar destilado pelos sprays no fim dos anos 70, bem antes da era OsGemeos, quando o etíope Alex Vallauri (1949-1987) botou sua arte no espaço público. Coisas que aprendi com a Flavia Liz di Paolo, que me guiou individualmente em seu tour de Street Art (flavializ.com; desde R$ 200). São roteiros customizados que podem envolver até transporte de luxo e que preveem visitas a ateliês com artistas dispostos a falar com os turistas.
Foi assim que conheci a portenha Zumi, que nos esperava no Beco das Corujas, nas imediações da Rua Natingui, na Vila Madalena. Enquanto criava um mural com antílopes em uma realidade psicodélica (veja a foto), a chica contava que aprecia inserir animais no contexto urbano e que desembolsou R$ 800 em tintas naquele muro.
Esse beco, com riachinho, ainda reserva exemplares de, entre outros, Mimi The Clown, Paulo Ito e Dedo Verde, que pintou jardins com estêncil, técnica sobre molde vazado que permite desenhos em série, a mesma usada pelo misterioso inglês Banksy.
No vizinho Beco do Batman, expoente grafiteiro da cidade ao lado do metrô Santana e da ligação Leste-Oeste, a diversidade de estilos tocou tanto quanto a conversa com o Ninguém Dormi, grafiteiro que já era traficante aos 6 anos de vida, mas se salvou com o vício artístico.
“Eu era invisível pra mesma sociedade que agora quer comprar meu desenho”, disse, ao lado de outro artista retumbante, o Boleta.
Beco do Aprendiz, ateliê do Mundano, galeria King Cap, intervenção de crochê em um poste na altura do 35 da Rua Aspicuelta… As experiências desse tour fizeram um paulistano enxergar melhor sua cidade. Graças a um etíope.