Olímpia o ano todo: um dossiê da Orlandinho caipira (quiçá nova casa do Playcenter)
Turisticamente falando, o paulista é sortudo. Friozinho na Mantiqueira, praias e badalação no Litoral Norte, cavernas no Petar, um tudo na capital. Só que certas latitudes ao noroeste do mapa do estado, aquele que faz zigue-zague em muitas de nossas calçadas, nunca se destacaram como grandes motivadoras de viagem. Isso, porém, mudou. Mesmo. Estão aí 1,65 milhão de viajantes/ano para atestar.
Pertinho de São José do Rio Preto, Olímpia, esse destino com vocação família/casal, que já ostenta o parque aquático mais visitado da América Latina, o Thermas dos Laranjais, vive um rebuliço de empreendimentos que a credenciam como uma potencial Orlando paulista. Claro, sem aquele glamour, porém com alma e calor o ano todo. A seguir, um dossiê sobre a cidade.
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Como chegar a Olímpia
Tudo bem, 447 quilômetros a partir de São Paulo (SP) são um bom chão, mas, assim como os casamentos da Deborah Secco, é muito rápido. A rota cumpre Bandeirantes e Washington Luís, um retão que não dá pra ser mais camarada, ainda que a gente se sinta assaltado sempre que cruza os pedágios, que exigem quantias de R$ 68,20 na ida e R$ 68,20 na volta (ora, pra quê serve o IPVA?). Calcule o gasto de combustível para ter uma estimativa do que vem.
Há quem aproveite os voos da TAM que separam a capital de São José do Rio Preto. Cheguei a achar uma tarifa de R$ 114 ida e volta. No aeroporto aluga-se um Uno por R$ 99.
Thermas dos Laranjais, a origem
Ao chegar, a gente sente falta de um charminho, de um centro histórico à la Paraitinga, de uma igreja graciosa, mas em solo olimpiense é fácil de se achar, já que todos os caminhos levam à avenida principal, a Aurora Forti Neves, que desemboca no parque aquático Thermas dos Laranjais.
O inusitado é que o parque aquático foi semeado por acaso, algo que pede uma contextualização histórica. Voltemos ao fim dos anos 50, época em que a cidade, que hoje beira os 51 mil habitantes, era morta, morta. Tanto que permitiu que um grupo de americanos perfurasse o solo atrás de petróleo. O que eles acharam, em vez de ouro negro, foi água quente vinda de um lençol freático que faz parte do Aquífero Guarani, um supermanancial de água doce.
No início da década de 80, ele mesmo, Paulo Maluf, então governador, colocou sua Paulipetro na região para chafurdar mais o solo em busca de petróleo. Eles perfuraram outro poço, sem sucesso. Então, em 1984, Benito Benatti, presidente do Thermas até hoje, teve uma ideia: criar um clube. Ele canalizou a água do poço por meio de dutos até a propriedade (onde hoje está o parque) a 5 quilômetros de distância.
Aquele que era um simplório clubinho de interior cresceu e se tornou, em 2001, um complexo que hoje gera 6 mil empregos diretos e indiretos, e é, segundo relatório divulgado pela consultoria americana Themed Entertainment Association, o quarto parque aquático mais visitado do mundo. Só perde para: Chimelong Waterpark (China), Typhoon Lagoon (Orlando) e Blizzard Beach (Orlando).
O segredo do crescimento meteórico? “O Thermas dos Laranjais é como um clube, não há fins lucrativos, então o superávit é reinvestido em melhorias”, explica Gustavo Serrano, homem do marketing.
Thermas dos Laranjais, modo de usar
O Thermas dos Laranjais não exclui ninguém. Há rampas para cadeirantes por todo o lado, embora algumas façam necessário um empurrãozinho de terceiros. As 54 atrações são divididas entre radicais, família, para a terceira idade e infantis. As crianças a partir de 2 anos piram tentando escalar a bolha gigante.
Com um pouco mais de idade, dá pra ficar sob o baldão, um chuveiro gigante que a cada três minutos despeja mil litros de água sobre as cabeças. Pequenos também curtem a única atração não-aquática, a fazendinha, ampliada e habitada por uma fauna que vai de pôneis a tucanos. Sou um amante dos bichos, mas quase que essa característica toma ares literais.
Imagine a cena: eu, sentado em uma cadeira de rodas, meu único meio de locomoção, transitando entre os animais. Chega uma cabra pelo lado direito, outra se assanha e se aproxima pelo esquerdo. Ambas começam a lamber a cadeira, meu braço… Sei que era sinal de amizade, mas apareceu uma terceira por trás. Quando dei por mim, um bode estava à minha frente, tão amistoso que queria subir no meu colo, e eu encurralado. O quê? Rodas, pra que te quero! Parti sem me despedir de meus novos amigos.
O pessoal mais velho, mas não só, costuma aproveitar a piscina de pedras que massageiam e o complexo de hidros conhecido como Poço Bandeirantes. A gente fica muito zen imerso, roçando naquelas pedras, mas os 38,5º de temperatura da água cozinham a pele depois de uns 20 minutos. Acho até que eles esquentam bem para que o sujeito não fique lá por uma, duas horas, algo que seria tentador com uma temperatura mais amena.
Famílias e casais não escapam da Praia Azul, piscina de ondas com uma areia que lembra a de aquários caseiros, e da Piscina da Sonolência, com espreguiçadeiras para relaxar na maciota. O hit é o Mar de Israel, com sal no esquema Mar Morto, onde até quem não sabe nadar pode mergulhar, pois é fato, não afundarás. É legal, mas o sal que besunta o corpo frita eventuais machucadinhos como espinhas.
Já que falamos do parque aquático latino mais requisitado, há toboáguas gigantes em profusão, como o Tomboágua, no qual se desce em pé. E, entre as novidades recentes, estão o Rio Selvagem, na qual a gente pega uma corredeira numa espécie de xícara, e o Surf Master, pista em meia-lua para dropar, mais legal e possível de se aproveitar do que a quixotesca pista de surfe das antigas.
Ah, lá dentro há bar-restaurante, meio bizarro, as pessoas podem ficar mergulhadas dentro de uma espécie de aquário enquanto beliscam. E aquelas barraquinhas tradicionais de parques, com quitutes como pastel e brotinho a R$ 8.
Ingressos: de segunda a sexta, R$ 60 para adultos, com possibilidade de meia entrada, e R$ 10 para crianças de até 6 anos; no fim de semana, o ingresso para marmanjos sobre para R$ 90.
Os novos parques de Olímpia
O sucesso do Thermas dos Laranjais têm atiçado outros empreendedores. O Playcenter, quiçá o parque mais afetivo dos paulistas, que fechou as portas em 2012, pode renascer em Olímpia. Roger Ely, diretor do finado espaço da Marginal Tietê, esteve na cidade com o arquiteto Michel Gorsk e segue à procura de um terreno para instalar o Tornado e outros clássicos.
Se o Playcenter ainda é incerto, o Hot Beach, parque aquático a ser inaugurado em dezembro, estará no mesmo terreno que o Hot Beach Resort, que também está em obras. A previsão é que abra em soft opening no fim do ano. Terá 484 apartamentos.
Para não ficar atrás, a turma do Thermas dos Laranjais arranjou uma área para construir um parque de diversões, que deve nascer até 2017, a 150 metros distância do aquático. Como há um rio ente os dois terrenos, eles serão conectados por um teleférico ou trenzinho.
Onde ficar em Olímpia, por perfis + aeroporto…
Se o número de gente que aporta em solo olimpiense cresce ano a ano, motivo pelo qual já existe até uma área para a criação de um aeroporto, a hotelaria segue o rastro como o Clint Eastwood em Dirty Harry. Até 2008 havia no município míseros 687 leitos. “Chegaremos a 22 500 leitos em 2016”, afirma Paulo Duarte, diretor de turismo da prefeitura.
Uma ambiciosa obra hoteleira é uma aposta do Grupo Privé, de Caldas Novas (GO), e atende por Olímpia Park Resort, condomínio de prédios altos previsto para 2017 no qual quem compra uma unidade desfruta durante 28 dias no ano. São até 12 proprietários por apartamento (o de um quarto custa R$ 42 mil), que fazem um rodízio de datas a cada ano. Nos dias em que o apê estiver vago, ele será alugado como um quarto de hotel. Outro no mesmo esquema é o Hot Beach Suítes, que, ao lado do parque aquático Hot Beach, contará com 442 apartamentos e previsão de entrega para 2018.
O Olímpia Park Resort vai se situar a poucos passos do Thermas dos Laranjais, assim como os também grandalhões Celebration Resort, inaugurado em novembro de 2015 com 264 apartamentos, e Royal Star, com spa e também aberto recentemente.
Enquanto esses hotéis não abrem as portas, saiba que há dois perfis de hospedagem. Se você vai com crianças, melhor optar pelos dois resorts colados ao parque aquático, repletos de atividades: o Thermas de Olímpia, conhecido como Tuti e com um dinossauro gigante na entrada, reformado e que reserva atividades para os pequenos como oficinas de arte e show de talentos – não inclui refeições; e o Thermas Park, que tem acomodações com varandas deveras aprazíveis (pena que algumas muito próximas da avenida lateral ao parque aquático), além de meia-pensão, gazebos para massagens, quiosques com espreguiçadeiras e piscina com ofurôs. Ele dá desconto de R$ 10 no bilhete para o parque aquático e, no spa, as massagens são pagas à parte (desde R$ 80).
Agora, se o lance é ficar de namorico, as pousadas são mais oportunas, pois, além de mais em conta, estão em sua maioria fora do asfalto, perto dos bichos. Gostosinhas pra ir de casal é a bucólica Villa dos Anjos, com redes presas a cajueiros em meio a carpas e um viveiro de aves, e a Beco da Lua. As mais novas são a Brudoni e a Villa Italia, a popular pousada do Seu Franco Cozzo, criada onde funcionava em pesque-pague.
Restaurantes e baladas em Olímpia
A cena gastronômica está melhorando, mas pode evoluir bem mais. Tudo gira em torno da Avenida Aurora Forti. A relação pizzaria per capita é colossal. Boa é a Dona Redonda (Avenida Waldemar Lopes Ferraz, 641, 17/3281-4452). Pode ir sem medo na broto de quatro queijos (R$ 28). O dono, o Kléber, que há 20 anos trocou São Caetano do Sul por Olímpia, segue a receita que aprendeu com a avó italiana no bairro do Brás. Também tem pratos executivos, mas o suco não é natural e, pasme, não tem café, algo severo para dependentes como eu.
Outros que valem são o Dat Badan, um árabe com bufê no almoço, e o Jorge’s Bar (Avenida Aurora Forti Neves, 359, 17/3281-3566), o popular boteco do Gaguinho, que prepara uma aromática picanha. Nas imediações do Cine Capitólio, a Hamburgueria (Rua Bernadino de Campos, 1501, 17/3280-7011) é um alvo bom para o viciado nesse tipo de sanduíche.
Não há uma padoca legal. Se você perder o desjejum no hotel, o jeito é encarar o pão com margarina da caidinha Croc Pão (Rua Bernardino de Campos, 1205, 17/3281-4149), atrás da Igreja da Matriz, ou, o que é melhor, se jogar no Bistrô Café 1959, que fica na mesma calçada. No quesito refeição, uma das mais cativantes é a quiche integral com queijo brie, alho-poró, ricota e blanquet de peru, acompanhada de salada.
Todos esses espaços servem para aproveitar a noite. Se sua visita ocorrer em julho, a cidade vai se agitar com o 52º Festival do Folclore, com danças, comidinhas e artesanato. Sim, Olímpia é também a terra do folclore, tema do único museu do município, o Do Folclore (Rua David de Oliveira, 420, 17/3281-6436; grátis), meio fraquinho, daí a onipresença de ícones como bonecas namoradeiras em todo o canto. Por fim, um bar-boliche com fliperama pra entreter, o H2A, também na Avenida Aurora Forti Neves. Duas horas na pista saem R$ 40 de segunda a sexta e R$ 60 no fim de semana.
Mas a cidade deve mesmo é se gabar de suas límpidas águas, esse recurso natural primordial que anda tão em falta e que provoca tanta endorfina em quem faz tchibum.