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Guia completo da Ilha do Cardoso: o Éden tem golfinhos e botos!

Já quase na divisa do Paraná, um litoral intocado e maravilhoso

Por Bruno Favoretto
Atualizado em 27 fev 2017, 15h02 - Publicado em 28 set 2016, 12h25
Noeli é guia ambiental e ainda trabalha no bar da família / Lucas Lima
Noeli é guia ambiental e ainda trabalha no bar da família / Lucas Lima (/)
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Praias desertas, trilhas na Mata Atlântica, arqueologia, golfinhos! Isso tudo no litoral sul paulista. Conhece a intocada Ilha do Cardoso?

Pois, se você gosta de tudo isso, deveria. Um litoral esquecido, rústico, um idílio quase no Paraná para quem quer desacelerar, desligar o WhatsApp. Pode ser até seu destino agora no fim do ano.

Sai que é sua, Taffarel / Rogerio Palatta
Sai que é sua, Taffarel / Rogerio Palatta

Antes de tudo, pit-stop mandatório em Cananeia, a colonial
Antes de aportar nesse lugarejo tão especial, há Cananeia, a 261 quilômetros de São Paulo por uma estrada que enche os pacová, é verdade: a Régis Bittencourt (BR-116), funil rodoviário que conecta as regiões Sudeste e Sul.

A via melhorou de 2008 pra cá por causa da privatização (IPVA pra quê???), mas ainda requer atenção.

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Dá para ir de ônibus com a Intersul, que parte do metrô Barra Funda.

Embora São Vicente seja a primeira vila oficialmente fundada por lusitanos na América, em 1532, Cananeia tem razões para brigar pelo debut.

Cananeia foi encontrada em 1502 por uma embarcação portuguesa comandada por Américo Vespúcio, logo depois do descobrimento em Porto Seguro, em 1500.

Tartaruga marinha num tanque do Museu de História Natural / Rogerio Palatta
Tartaruga marinha num tanque do Museu de História Natural / Rogerio Palatta
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Os exploradores, que de gente fina não tinham nada, acharam uma aldeia habitada pelos guaranis da tribo carijós, que jamais haviam visto um veículo que se movesse sobre a água.

Uma série de registros de navegação garantem a Cananeia o mérito de ter sido o primeiro povoado do Brasil.

Além do casario histórico cananeiense e da igrejinha São João Batista, desde 1577 na Praça Martim Afonso de Sousa, Cananeia prima pela produção intensiva de ostras, que vêm dos mangues, o que deixaria o sabor menos intenso graças à água salobra.

Voadeira levando turistas de Cananéia para a Vila do Marujá / Alécio Cezar
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Voadeira levando turistas de Cananeia para a Vila do Marujá / Alécio Cezar

Prove-as também em versões gratinadas no Naguissa (Avenida Luís Wilson Barbosa, 402), japonês famoso pelos mariscos, e no Ponto das Ostras da Rua Pero Lopes, 125.

Depois, rume ao píer para não perder a balsa, pois carros não entram na ilha, estacione aqui, cobra-se uns R$ 20 por dia. Senão vais padecer como Adoniran até amanhã de manhã.

Eô, Eô, boto-cinza! / Dedoc Abril
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Eô, Eô, boto-cinza! / Dedoc Abril

Chegando à Ilha do Cardoso com golfinhos e botos no encalço 
Há duas opções pra chegar: lancha rápida para quatro pessoas, que cruza as águas em uma hora por uns R$ 250, ou pegar a balsa da Dersa, que gasta 3 horas, mas é beeeem mais barato, R$ 35, ligue 13/3358-2741.

Na travessia, botos exibem barbatanas e garças nos sobrevoam. Há picos de quase 1000 metros de altura. Grude as vistas na água: podem aparecer golfinhos!!! Em pleno litoral sul paulista.

O boto-cinza é um pequeno cetáceo tipicamente costeiro / Dedoc Abril
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O boto-cinza é um pequeno cetáceo tipicamente costeiro / Dedoc Abril

Se você não os vir na travessia, barqueiros organizam saídas para mirar golfinhos e botos nas águas calmas de Itacuruçá.

Golfinhos na baía deles / Rogerio Palatta
Golfinhos na baía deles / Rogerio Palatta

Os caras conhecem pontos estratégicos.  O passeio dura o dia inteiro, com parada na praia para banho e rango. As lanchas partem do píer principal da Vila de Marujá a um preço de R$ 100 por pessoa (para grupos de no mínimo 5 pessoas). Pousadas também costumam vender o esquema.

Dá pra nadar com eles na baía dos Golfinhos / Rogerio Palatta
Dá pra nadar com eles na baía dos Golfinhos / Rogerio Palatta

Ilha do Cardoso, a antropologia

90% do território pertence ao Parque Estadual da Ilha do Cardoso, criado em 1962 e gerenciado pelo Instituto Florestal de São Paulo. É uma miríade de ecossistemas, um mix de manguezais, restingas, sítios arqueológicos e orquídeas (são mais de 100 espécies).

Nesses 15 mil hectares de Mata Atlântica, fração do maior trecho contínuo do país, o propósito é ficar ao pé do mar sem sinal de celular, tiração de onda, energia elétrica.

Passarela sobre o mangue no Parque Estadual da Ilha do Cardoso / Rogerio Palatta
Passarela sobre o mangue no Parque Estadual da Ilha do Cardoso / Rogerio Palatta

Não chega a ter 600 habitantes da ilha, que ganhou seu nome devido à sucessão de moradores da família Cardoso por ali. Hoje, moram no paraíso pescadores, pesquisadores e índios guaranis. A população local vive da pesca e, cada vez mais, do ecoturismo.

Até hoje a ilha guarda ruínas de construções coloniais e de engenhos como o que fica na trilha da cachoeira Grande, a mais visitada das 14 que existem por lá.

Principal deck da Vila do Marujá, na Ilha do Cardoso / Alécio Cezar
Principal deck da Vila do Marujá, na Ilha do Cardoso / Alécio Cezar

Ilha do Cardoso, as praias
Aviso: não esqueça o repelente, é commoditie, pois as picadas das mutucas vão comer soltas.

Marujá: é a mais extensa da ilha, com 18 km de areia clara e plana, sol quebrando na moleira, pois não há sombra. Ao norte, um costão delimita o seu fim. Ao sul, recebe os nomes de Enseada da Baleia, onde há uma vila, e Pontal do Leste. Chega-se à praia por meio de uma trilha tranquila de dez minutos, em meio à restinga, que sai da vila de Marujá. A praia é extensa e de areia batida e, quando a maré baixa, vira uma imensidão branca e cinza – esqueça as águas azuis do Litoral Norte; aqui elas são turvas, resultado do encontro com os rios que descem as montanhas do vale do Ribeira.

Ilha do Cardoso – SP
Alvorada na praia do Marujá, na Ilha do Cardoso / Alécio Cezar

Ipanema: coisa linda e cheia de graça esse círculo de pedras rente aos costões, que forma uma pequena piscina, boa para banho. Da praia sai uma trilha fácil de 20 minutos até a Cachoeira do Ipanema (tens de ir com guia)

Cambriú: apara os fortes, a 4h de caminhada a partir de Marujá, ou 10 km. É linda, quase privativa. Ali, um braço do Rio Cambriú beija o mar. Olhe ao longe e aviste a Ilha do Bom Abrigo.

Veículos recorrentes na ilha / Rogerio Palatta
Veículos recorrentes na ilha / Rogerio Palatta

Itacuruçá: 15 minutos a pé a partir da sede do Núcleo Perequê, com um quiosque onde os monitores do parque ficam disponíveis para tirar dúvidas e planejar trilhas. Há também uma barraca que vende lanches e bebidas. Daqui partem trilhas que passam por praias, trechos de Mata Atlântica, restinga e sambaquis. O mar é calmo, e a areia fina e plana se espalha por 9 km. Ao norte, a foz do Rio Perequê é um bom lugar para banho. Ao sul, é delimitada por uma réplica do marco do Tratado de Tordesilhas (cuja linha imaginária passava pela ilha), deixado por Martim Afonso de Souza, que esteve aqui antes de fundar a primeira capitania hereditária do Brasil, em 1532, com sede em São Vicente.

Chuveiro de água doce no Núcleo Perequê da Ilha do Cardoso / Rogerio Palatta
Chuveiro de água doce no Núcleo Perequê da Ilha do Cardoso / Rogerio Palatta

Ilha do Cardoso, onde ficar + um forró
O pedaço povoado é a vila de Marujá, com campings e pousadas camufladas entre o mar e o canal, algumas puxadinhos (com alma) das casas dos pescadores. Não espere glamour de Fernando de Noronha.

Boas são a Pousada Ilha do Cardoso e a Caiçarinha (13/3852-1200), ambas com banho aquecido a gás, um luxo, e cobertores, além de siris a circular pelo terreno. A luz é de gerador, que é desligado às 11 da noite.

Outra ok é a Beira-Mar, também em Marujá, a 50 m do ancoradouro da Dersa.

Os preços por ali vão de R$ 50 por pessoa na baixa temporada a até R$ 200 na altíssima.

A não ser que você esteja no forró do Bar do Expedito, que no verão bomba de domingo a domingo, não se ouve um pio, pra dormir como preguiça convicta, é ótimo.

Casinhas da Ilha do Cardoso / Lucas Lima
Casinhas da Ilha do Cardoso / Lucas Lima

Rolê de bike 
Para percorrer os 18 km entre a Praia do Marujá do Pontal do Leste, no extremo sul da ilha, o ideal é alugar uma bicicleta. Aqui, as magrelas não têm freios – e realmente eles não farão falta. Aluguel: R$ 4/hora ou R$ 30/dia, na Pousada D. Tereza (em Marujá, a 500 m do trapiche da Dersa).

Galera no restaurante do Núcleo Perequê / Rogerio Palatta
Galera no restaurante do Núcleo Perequê / Rogerio Palatta

Ilha do Cardoso, onde comer
O peixe é dali mesmo. Assim, a comida não costuma variar (quem fica cinco dias come a mesma coisa cinco vezes), mas os pratos são bons, como no restaurante Ilha do Cardoso (13/3851-1613), da simpática Valdete, que monta um bufê farto de mariscos na alta temporada (R$ 30 o quilo).

Ilha do Cardoso, as trilhas
Quem se arriscar mais à esquerda pode pegar uma trilha de 12 quilômetros até as piscinas naturais – a caminhada cruza um costão rochoso e continua por toda a extensão da praia da Lage. O passeio dura oito horas e pede um guia, que pode ser contratado nas pousadas por R$ 160. Há outras trilhas célebres, como a do morro das Almas, de 2 quilômetros, com árvores repletas de bromélias.

E, se a ilha do Cardoso descansa os olhos, ela também se enche de luz:  Ainda mais

Noeli é guia ambiental e ainda trabalha no bar da família / Lucas Lima
Noeli é guia ambiental e ainda trabalha no bar da família / Lucas Lima

Conclusão do Demônio da Garoa
No verão, chegam ali 1 100 pessoas, número máximo permitido. Dá pra ir até com crianças, que podem ficar soltas numa boa, brincando até umas horas no rio e no campinho de futebol com a supervisão dos adultos, claro.

Marmanjo ou criança, todos piram com as estrelas que forram o céu toda noite, além de plânctons cintilantes que saltam à tona nas águas.

Até o Carnaval, o movimento existe, depois esfria até o próximo crepúsculo de primavera, então é um destino rústico como poucos no estado.

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