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11 motivos pra um mooquense se orgulhar do que há de mais de raiz no bairro

A leitora Flávia Rossi, que hoje vive em Milão, na Bota, me escreveu recordando um antigo texto que fiz sobre a Mooca num longínquo passado. Felizão, li que ela gostaria de lê-lo novamente, devidamente atualizado, como abaixo 😉 “Bruninho, quer ir com a mamãe pra Cidade?”. Quantas vezes ouvi a Dona Vera falar isso. É que […]

Por Bruno Favoretto
Atualizado em 27 fev 2017, 15h09 - Publicado em 24 mar 2016, 09h40

A leitora Flávia Rossi, que hoje vive em Milão, na Bota, me escreveu recordando um antigo texto que fiz sobre a Mooca num longínquo passado. Felizão, li que ela gostaria de lê-lo novamente, devidamente atualizado, como abaixo 😉

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“Bruninho, quer ir com a mamãe pra Cidade?”. Quantas vezes ouvi a Dona Vera falar isso. É que somos do bairro paulistano da Mooca, onde ainda é comum chamar o Centro paulistano de “Cidade”. Minha mamma, descendente de napolitanos e espanhóis, não só ainda vai à Cidade como adora “passear lá embaixo”, uma referência ao retumbante comércio da Rua da Mooca que se concentra da esquina com a Avenida Paes de Barros à Rua Borges de Figueiredo. Aquilo ali pode não ter glamour, mas, pra quem é insider como eu, é uma espécie de Times Square sem luzes.

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Essas características macarrônicas dão à região ar peculiar em tempos de Snapchat, Periscope… Gostamos de colocar o banquinho na calçada e bater papo, mas a crescente verticalização tem deixado as ruas menos ocupadas do que de costume.

Os imigrantes chegavam ao bairro por esta plataforma / Foto Bia Parreiras

Os imigrantes chegavam ao bairro por esta plataforma / Foto Bia Parreiras

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Embora não tenhamos grande espaço na mídia, que evidencia muito mais as zonas oeste e sul, temos hino. Temos bandeira. Temos brasão. Temos dificuldade com plurais por um resquício da imigração italiana dos séculos 19 e 20 – o idioma não prevê “s” no plural – e não ligamos nem um cazzo. Tem até samba que não é dos Demônios da Garoa nem do Adoniran:

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E tem gente que diz que, no bom sentido, somos xenófobos e só falamos da Mooca. Por que fazemos isso? Porque dificilmente a mídia vai falar algo do bairro que não seja sobre o jogo do Juventus na Javari, o Elídio Bar ou a tradicional confeitaria / trattoria Di Cunto (com filial no Mooca Plaza Shopping), na ativa desde 1935.

Passei a infância no balcão do Elídio com meu pai / Foto Eduardo Albarello

Passei a infância no balcão do Elídio com meu pai / Foto Eduardo Albarello

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Sim, a coxa-creme do Elídio é memorável e a Di Cunto tem ótimas versões dos italianíssimos zeppole e sfogliatelle, mas nem todos manjam o Pastifício Carasi, que tem uma saltenha de quatro queijos macia e deliciosamente pouco canônica.

Temos tanto orgulho desses 456 anos (completados no dia 17 de agosto) porque não nos falta nada. Faculdades? Temos três. Teatros? Dois, um deles o modernista Arthur Azevedo, de 1952 e com chorinho gratuito. Pizzarias? São 100, segundo a subprefeitura – minhas preferidas são a Do Angelo e a São Pedro, inaugurada em 1966, um ano antes da lendária e vizinha Esfiha Juventus.

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Sfogliatelle da Di Cunto, um ponto turístico / Foto Bia Parreiras

Sfogliatelle da Di Cunto, um ponto turístico / Foto Bia Parreiras

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Até uma simples compra doméstica na Mooca tem ar de museu se você for ao Extra (Rua Javari, 403), uma construção de 1897 tombada pelo Condephaat. Lá funcionara o Cotonifício Crespi, palco da primeira grande greve do país, em julho de 1917.

Nossa bandeira tem o Conde Crespi, fundador do Juventus

Nossa bandeira tem o Conde Crespi, fundador do Juventus

Outro ponto de atenção na Mooca são as padarias. De 1897, a Famiglia Franciulli, na esquina das ruas Agostinho Lattari e Capitão Pacheco e Chaves, foi superada pela fartura encontrada na Praça dos Pães e na Cassandoca. Mas ainda há aquelas com mais cara de padaria e que valem a visita, como a Monte Líbano, perita na pasta de alho.

Uma das tantas vilas operárias da Mooca / Foto Eduardo Alabarello

Uma das tantas vilas operárias da Mooca / Foto Eduardo Alabarello

Eu poderia ficar garganteando sobre cantinas, hamburguerias, docerias e outras “erias”, mas vou aproveitar o tempo que resta hoje num papo com meus amigos de infância na Rua Pires de Campos. Pois, diferentemente do que dizia Nelson Rodrigues, a melhor forma de solidão é a companhia de um paulistano da Mooca. Um lugar onde decretamos ódio eterno à vida moderna – e ao futebol moderno, como prega a torcida juventina Setor 2.

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