Não me perguntem como, mas consegui a proeza de viver 11 anos na Espanha sem ir a Santiago de Compostela. A verdade é que não tinha a menor noção do que era aquela cidade. Dezenas de amigos já estiveram lá. Minha mãe e meu irmão, também. Cheguei a ler (e até editar) matérias sobre a cidade. Vi fotos. Escutei relatos e relatos sobre o caminho. Ainda assim, não sei porquê, não achava que a capital galega ia muito além da bela praça de sua catedral e do misticismo do Caminho. Tinha impressão que, uma vez que já conheço razoavelmente o país, seria “más de lo mismo”, como se diz por aqui. Quanto tempo perdido…
Estive lá na semana passada e posso dizer, com toda certeza, que há muitos anos não me impressionava tanto com uma cidade espanhola. A catedral é um soco no estômago, algo soberbo. E assistir à missa do peregrino, com o botafumeiro em ação (o que acontece em dias santos ou quando um grupo de peregrinos se dispõe a “doar” € 300, como no dia em que estive lá) faz cristãos, pagãos e ateus tremerem.
Mal sabia eu, porém, que a catedral e seu entorno são apenas a comissão de frente para um novelo de ruas estreitas e charmosas que escondem incontáveis igrejas e praças quase tão impressionantes como as da matriz.
O que comove, ao meu ver, é que Santiago não é uma espécie de cidade cenário, como uma Toledo da vida. Santiago ferve, tem vida. Além de ser uma animada cidade universitária e uma meca do catolicismo – e é inegável que se sente uma energia especial no ar por causa disso — é um lugar com uma forte inclinação aos prazeres mundanos. Não é que se come bem por ali. Come-se divinamente, soberbamente, inacreditavelmente. E bebe-se. Bebe-se muito e bem. Os melhores vinhos brancos espanhóis, os albariños, são produzidos nas redondezas.
Os detalhes eu vou lançando nos próximos posts. Enquanto isso, você bem que poderia começar a planejar a sua peregrinação.
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