Tudo por uma selfie: turistas lotam La Palma para ver erupção de vulcão
Em meio à maior tragédia vulcânica dos últimos 100 anos na Europa, ilha de La Palma vira hit do feriadão na Espanha
Voos esgotados e hotéis lotados como há muitos anos não se via. Essas seriam ótimas notícias para uma ilha turística no contexto pós-pandêmico. O destino em questão, no entanto, é o palco da maior tragédia vulcânica dos últimos 100 anos na Europa. Jorrando lava, cinza e gases tóxicos há mais de 40 dias, o vulcão de La Palma, nas Ilhas Canárias, já arrasou uma área de 900 hectares e destruiu mais de 1800 construções, incluindo umas 900 casas e duas escolas. Dois dias atrás, um terremoto de cinco pontos na escala Richter sacudiu a ilha – o mais forte dos 42 que fizeram a terra tremer desde que a erupção começou. Mesmo assim, milhares de turistas acharam oportuno viajar para esse cenário dantesco para curtir o feriadão.
“É um fenômeno que vale ser visto, uma experiência única”, dizem os turistas em entrevistas à TV espanhola. Sob o olhar incrédulo dos moradores, que denunciaram a falta de empatia aos noticiários nacionais, eles não se acanham em tirar fotos sorridentes, tendo como pano de fundo a lava que escorre, soterrando as casas, os sonhos e as memórias de centenas de famílias, muitas delas instaladas provisoriamente nos mesmos hotéis dos recém-chegados. Diante disso, é impossível não se lembrar da modelo Nana Gouvêa posando com os destroços do furacão Sandy em Nova York, em 2012, o que lhe rendeu um cancelamento eterno.
Como você pode ver no vídeo acima, alguns desses turistas consideram sua presença valiosa: “estamos ajudando a reerguer a economia local”. De fato, esse “altruísmo” é bem-vindo – mas só daqui uns meses, quando a erupção for coisa do passado e La Palma estiver, de fato, se reerguendo das cinzas (já longe do interesse dos vulcanólogos amadores de plantão). Neste feriado, no entanto, essa curiosidade mórbida obrigou os bombeiros e outros serviços de emergência a armar uma operação de guerra para tentar impedir que o fluxo de pessoas (mais de 10 mil estão chegando por dia) não interrompa as rotas de evacuação e atrapalhem os resgates em andamento. Ávidos por chegar o mais perto possível da lava, esses visitantes indesejáveis também podem aumentar o movimento nos hospitais, sobretudo por problemas respiratórios decorrentes pela inalação de cinzas e gases. Tudo por uma selfie.