Quando estive no belíssimo Château de Chambiers (clique aqui para ler o post), no Vale do Loire, a proprietária, Anne Crouen, estava profundamente arrasada por causa de resenhas negativas que havia recebido no Trip Advisor. Das 38 que o seu castelo havia merecido até então, 29 eram extremamente positivas. Mas, um belo dia, ela se desentendeu com alguns convidados de um casamento celebrado em seus domínios e a vingança veio através de críticas exageradas e mentirosas, por parte de vários membros do mesmo grupinho, o que fez com que a cotação do estabelecimento caísse.
Em outra ocasião, no Vietnã, reservei um hotel pelo Booking e, ao chegar no lugar, quis morrer quando vi uma obra gigantesca exatamente ao lado. Depois de acordar às 7 da manhã achando que estava em Islamabad, e certa de que a próxima martelada atingiria a minha cabeça, quis cancelar a minha reserva (já paga) a todo custo. O staff foi extremamente solícito e me transferiu para um hotel (bem melhor) da mesma rede, sem acréscimo – desde que eu não os detonasse no TripAdvisor (chantagem à qual eu prontamente sucumbi, por questões de sobrevivência). Só para que se tenha uma ideia da preocupação deles, no Sudeste Asiático, onde espeluncas horrendas abundam, muitos estabelecimentos trocam de nome freneticamente para livrarem-se da maldição de críticas negativas que, somadas, acabam fazendo com que os clientes simplesmente não apareçam.
Por essas e muitas outras, considero o TripAdvisor a mais poderosa de todas as ferramentas internéticas para o viajante.
Há anos não reservo um quarto sem dar uma olhada no site. E ao indicar um hotel, tanto profissionalmente como a um amigo, não o faço sem consultar o oráculo. Pela minha experiência, considero que quando as críticas são esmagadoramente positivas (alguns chegam a ter 100% de elogios), não tem erro. Mas – e aí está a questão que quero levantar – é preciso ficar esperto às críticas negativas e saber reconhecer (e ignorar) os chatos, os sem noção e os vingativos. Sem um pouco de interpretação, você corre o risco de deixar de lado lugares que valem a pena. E muita atenção: caso você tope com um comentário elogioso até deixar chega, repara quantas avaliações essa pessoa já fez na plataforma. Se for um comentário é batata: 99% de chance de que foi alguém do próprio estabelecimento quem o fez.
Os vingativos – Lendo as críticas do Château de Chambiers, é fácil reconhecer os vingativos. As criticas negativas aparecem mais ou menos na mesma data, uma seguida da outra. Ou seja, o grupinho sentou um belo dia junto e combinou, “vamos sentar para escrever sobre aquela chata do castelo?”. Pelo o que Anne me contou, o problema foi com a água: toda a patota resolveu tomar banho ao mesmo tempo e a pressão caiu. Ela tentou explicar que isso era normal em um castelo de 1800 (que mantém a sua estrutura original), mas os hospedes continuaram a achar tudo um absurdo. As críticas falam do acontecido, mas acrescentam baratas, pulgas e atacam a proprietária diretamente. Gente, se as outras tantas pessoas que assinam os comentários positivos passaram alguns dos momentos mais incríveis de suas vidas ali, é nítido que não havia pulgas, baratas e uma bruxa terrível tomando conta do lugar, não?
Os chatos – Os chatos são epidêmicos nas críticas de hotéis baratos. Por exemplo, entre as críticas do hotel Grand City Berlin KuDamm (clique aqui para ler o post), bom e baratíssimo, há vários deles: reclamam do tamanho do quarto, da cor do tapete, do segurança noturno que não fala inglês, da cortina do banheiro um pouco velha. Fala sério! O cara paga 30 euros por um hotel em plena Berlim e espera o que? Críticas como essa, que só caberiam num hotel mais caro, ajudam a fazer a cotação do lugar cair. Por essas e outras, vale ler com cuidado as negativas para ver se são relevantes ou não. Nesse caso, das 135 resenhas, 34 eram ruins ou péssimas. E eu reservei mesmo assim (e adorei!), porque soube detectar os chatos.
Os sem noção – Nos países do Sudeste Asiático, por uma questão cultural, na maioria das vezes não há cortina ou box separando o chuveiro do banheiro (a menos que seja um hotel de luxo e/ou focado em hóspedes ocidentais). A ideia é que a água flua constantemente, lavando também o chão. Daí vai o cidadão americano queixar-se que o seu banheiro estava sempre molhado num hotel em Cingapura! Certa vez, dei até risada com um inglês indignado com a falta de “room facilities for tea”, como se o mundo inteiro tivesse a necessidade de tomar chá o tempo todo. Por falta de flexibilidade cultural, críticas sem noção como essas também requerem interpretação e, acima de tudo, bom senso.
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