Moro há dez anos na Espanha e, a não ser quando leio a revista Hola na sala de espera do dentista, jamais me lembro que esse país tem um rei. Desde o fim de semana passado, no entanto, sua majestade Juan Carlos I de Borbón tornou-se mais real do que nunca.
No último sábado, o monarca passou por uma cirurgia para extrair um tumor do pulmão. E para surpresa geral da nação, preferiu operar-se no Hospital Clinic em Barcelona, ao invés de Madri, capital do país, onde vive e reina.
E não é que eu moro em frente à entrada principal do hospital? Sim, a exatos 5 passos da porta, onde toda a imprensa espanhola acampa desde o último sábado, junto com metade da contingente da policia militar da Catalunha, os Mossos d’Esquadra, que ocupam o lugar do meu ponto de táxi de estimação.
Não sei direito como fazer uma analogia com o Brasil para explicar o peso da coisa. Mas é mais ou menos como se o Pelé estivesse passando por uma intervenção gravíssima – na porta da sua casa.
Tenho me divertido um bocado, e nem preciso sair na rua para saber o que está acontecendo. Quando ouço gritos de “guaaaapaaaa”, é porque a princesa Letícia está na área, na companhia do pirulão príncipe Felipe. Vaias e alvoroço geral? Pintou o presidente José Luis Rodriguez Zapatero no pedaço. “La monarquia es porqueria!”, pronto, lá vem a rainha Sofia encarar o fato de que não são exatamente bem-vindos na Catalunha.
As velhinhas do meu prédio passaram o fim de semana sentadas em cadeiras que improvisaram na calçada, acompanhando o entra e sai. O café caidão que tenho embaixo de casa virou point de jornalistas entediados. Ao descer de semi-pijama para jogar o lixo fora, tive que pedir licença a Andreu Buenafuente, uma espécie de Jô Soares espanhol, que esperava a rainha sair do MEU bar de tapas preferido na hora do almoço.
Quer assistir à saída do rei do hospital? Podemos negociar uma vaguinha no meu terraço…
OBS: As fotos foram reproduzidas de reportagem do jornal La Vanguardia.
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