Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Raio-x do Longitude 131, um acampamento de luxo com vista para Uluru, no deserto da Austrália

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h24 - Publicado em 24 mar 2015, 10h23
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Mergulhar no deserto australiano é uma experiência que transcende o turismo. O calor, o sol, as moscas e a aridez castigam o corpo e cutucam a alma. As terras que cercam Uluru, o gigantesco monolito que emerge do deserto australiano, pertencem aos aborígenes Pitjantjatjara, para quem a pedra tem conotação religiosa. Num lugar assim, a intervenção da vida moderna deve ser pensada com sensibilidade. E essa é a maior das virtudes do acampamento de luxo Longitude 131, amparado por dunas suaves e com vista para Uluru.

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O acampamento (eu implico com a palavra “glamping”, sorry) tem quinze tendas dispostas nas laterais de um pavilhão onde há um restaurante, um lounge e uma pequena biblioteca. A arquitetura é delicada. Apoiadas sobre finíssimos pilotis, as tendas pairam sobre o chão, como se não quisessem interferir em excesso na vida dos lagartos que transitam pela areia vermelha (e como transitam!). A única extravagância do conjunto é uma piscina. Ainda assim, ela é respeitosamente pequena. No auge do calor da tarde, nunca dei tanto valor a alguns metros cúbicos de água.

 

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As tendas espalhadas pelo deserto, mirando Uluru

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Outro ângulo do "acampamento", com Kata Jura (a outra formação rochosa do parque) de pano de fundo

Outro ângulo do “acampamento”, com Kata-Tjuta (a outra formação rochosa do parque) de pano de fundo

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Simples e belo: um caixote de vidro espelhado e metal coberto por uma lona inteligente

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O perfil estiloso das tendas

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A piscina: o único lugar onde você consegue sobreviver ao ar livre no auge do calor da tarde

O quarto é um caixote de metal e vidro, simples e belo, coberto por uma lona inteligente que permite a ventilação e evita o superaquecimento. Uma parede de vidro, espelhada por fora, se abre para o deserto, mirando exatamente em Uluru. Em meio a um lugar tão inóspito, poder contemplar todas as nuances do maior ícone do outback australiano no conforto de um ar condicionado – e do alto de uma cama king size forrada com lençóis de algodão de trilhões de fios – é um privilégio incomensurável. É impressionante a quantidade de pássaros que sobrevoam os arbustos. À noite, quando o calor dá uma trégua, é possível abrir a janela (há uma tela de proteção) e observar a chuva de estrelas. O silêncio é absoluto. Vez ou outra, uma rajada de vento faz a tenda balançar sutilmente. Uma cuidadosa inspeção do solo com a potente lanterna que faz parte dos equipamentos do quarto revela assustadoras lacraias (elas lá, você aqui). De manhã, o espetáculo do sol nascendo, delineando o contorno da pedra pouco a pouco no horizonte, é impagável.

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Cada tenda leva o nome de um explorador relacionado com a história de Uluru. A minha rendia homenagem a Ernest Giles, pioneiro nas dificílimas travessias do deserto no século 19. Nas paredes, manuscritos e fotos do explorador fazem você respirar um pouco do clima daqueles tempos. A paleta de cores combina com o entorno: ocre, marrom, beije. Com a pedra colossal emoldurada na janela, não faria sentido distrair os olhos com mais detalhes do que há ali.

 

Os mimos dentro do quarto incluem amenidades da divina marca britânica Molton Brown, equipamento de som Bose, Ipad, internet wi-fi, cafeteira Nespresso e a máquina de fazer espuminha da mesma marca. Docinhos incríveis aparecem em momentos estratégicos. O mini bar é uma mina de ouro, mas falta tempo e uma brechinha de apetite para aproveitá-lo, já que as refeições e aperitivos são um escândalo.

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A vista para Uluru do alto de uma cama king-size

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A tenda por dentro, com paleta cores inspiradas no entorno

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Foto tirada da minha janela

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Agora com um pouco de zoom

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Mimos da divina Molton Brown

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O sol nascendo ao lado da pedra, de camarote

O sol nascendo no "acampamento"

O sol nascendo no “acampamento”

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Visitante assíduo

Explorar o deserto não combina com um ambiente engomado. Ao final de cada passeio, você estará descabelado, vermelho e empoeirado. É uma maravilha, portanto, que o clima no “acampamento” seja quase tão descontraído como o de um acampamento sem as aspas. O staff, jovem e afiadíssimo, consegue ser informal sem deixar de ser cinco estrelas. Ufa.

 

Todas as refeições estão incluídas na diária do Longitude 131: café da manhã, almoço, jantar e snacks. O mesmo vale para todas as bebidas, incluindo a magnífica seleção de vinhos australianos servida no almoço e no jantar, o minibar e os drinques no bar do lounge. A má notícia, pelo menos para mim, é que o calor desumano e a baixíssima umidade pedem muita cautela na hora de tomar umas e outras. Um pouco mais de vinho no almoço e você se arrastará como um lagarto no passeio da tarde. Um drinque a mais no jantar e acordar antes das seis da matina se tornará um suplício.

 

Pelos mesmos motivos, a comida é levíssima. A jovem chef australiana Seona Moss passou por cozinhas estreladíssimas e notórias pela conexão com a natureza, como o dinamarquês Noma (considerado o melhor restaurante do mundo pela revista Restaurant) e o francês Pic. “Tento colocar o deserto no prato através da apresentação e das cores”, diz. E isso fica claríssimo a cada refeição. Produtos da região, como pequenas flores, ervas, mel e carne de canguru fazem parte do menu. As refeições definitivamente estão entre as melhores passagens do dia. E o jantar ao ar livre Table 131 é certamente o momento de glória. Uma mesa iluminada por velas é montada no meio do deserto para um pequeno grupo (há a opção de evento privado, a custo extra). Enquanto o banquete em quatro etapas é servido, acontecem algumas performances. Nada muito longo. Primeiro, uma apresentação de didgeridoo (o impressionante instrumento de sopro aborígene). Depois, um pouco de dança. Depois do jantar, meu momento favorito aconteceu quanto um guia, jovem e apaixonado por Uluru, reuniu o grupo ao redor da fogueira para indicar as constelações que só o céu deserto é capaz de revelar.

A "tenda" principal, onde há um restaurante, um lounge e uma biblioteca

A “tenda” principal, onde há um restaurante, um lounge e uma biblioteca

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Detalhe fofo da decoração

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O carpaccio de canguru, com temperinhos que lembram a areia do deserto

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Filé com verdurinhas

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Salada de camarão

 

Dois passeios diários, em grupos de uma média de 12 pessoas, estão incluídos na diária. A cada volta ao hotel após a expedição da manhã éramos recebidos com toalhinhas refrescantes e sorvetinhos. No fim da tarde, depois das caminhadas vespertinas, uma miragem nos esperava no final do caminho: um coquetel com as melhores vistas do parque nacional, regado a canapés, espumantes, vinhos… A fina flor do “eu mereço”.

 

Falarei detalhadamente dos passeios nos próximos posts.

 

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O helicóptero disponível para sobrevoos: um dos passeios extra possíveis

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Preço: US$ 800 por pessoa, por noite (inclui passeios e refeições).

 

Quando ir: A melhor época é definitivamente de maio a outubro, quando as temperaturas são mais amenas durante o dia.

 

Quanto tempo: A maioria das pessoas fica em Uluru de dois a três dias. O pacote de passeios do hotel é pensado para dois dias. A partir do terceiro, caso o hóspede não queria repetir o programa, pode reservar os passeios extras (voo de helicóptero, passeio de camelo etc) ou explorar Uluru por conta própria (algo totalmente viável para quem aluga um carro). Eu optei por ficar apenas duas noites e achei mais do que suficiente.

 

O público: Maioritariamente casais em lua de mel e casais de meia idade (para cima).

 

Indicado para: Qualquer um que preze serviço de qualidade, excelência na gastronomia e um pouco de socialização (uma vez que os passeios são feitos em grupo).

 

Contra-indicado para: Os que não curtem experiências em grupos (ainda que pequenos).

 

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