Quase todo mundo embarca numa viagem com pelo menos um esboço de plano. Dois dias lá, três acolá, uma semana não sei onde. Daí, num dado momento, a viagem sorrateiramente empaca. Geralmente, isso quer dizer que você realmente começou a curtir.
Chegamos à Playa Dominical, um vilarejo pouco desenvolvido à beira do Pacífico freqüentado quase exclusivamente por surfistas, com o intuito de ficar no máximo duas noites. A areia é preta e quente. O mar, entre os mais inóspitos para banhistas: bobeou, afogou. Uma obra ao lado da única pousada que curtirmos anunciava manhãs com fundo musical de serras e martelos.
Mas então chegaram eles…
Ocupamos o único quarto vago no segundo andar, de frente para o mar, do basicquérrimo Tortilla Flats. Antes da nossa chegada, todos os habitantes dos outros tinham se convertido em uma família heterogênea: os engenheiros canadenses, o professor de kite nova-iorquino, a ecologista de bem com a vida, os surfistinhas de vinte e poucos anos…
Demoramos uns 20 segundos para entrar na turma. E daí se seguiram cafés da manhã comunitários, ressacas coletivas, excursões às praias vizinhas, jantares regados a sushi, noites longas, fogueiras na praia, conversas, conversas, risadas, risadas. Vieram os agregados: o americano meio chato (tenho a teoria de que um chato é sempre necessário numa turma), os alemães carpinteiros que andavam vestidos com roupas do século 12 (norma bizarra da escola que estudaram), o hippie do violão…
Dois dias em Dominical viraram quase uma semana. Como no acampamento do Sitio do Carroção, onde passei as férias de julho quando tinha 11 anos, não queria que o tempo passasse e me senti totalmente criança de novo.
“Não tinha a MENOR ideia de que você era tão… err… madura”, me disse um dos surfistinhas da tchurma, o que sugere que a gente REALMENTE parece mais jovem quando está de férias. Ou melhor, quando está empacada nas férias.
E quanto a Dominical? A areia é preta e quente. O mar, entre os mais inóspitos para banhistas: bobeou, afogou.
Siga Dri Setti no Twitter: @drisetti