Os espanhóis e a mania de falar palavrão
Palavras como joder, carajo, mierda, coño e cagada são tão corriqueiras por aqui que transitam livremente do botequim aos programas de TV
A ideia inicial deste post era comentar sobre o fato do pâtissier mais famoso da Espanha ter acabado de lançar um bolo pra celebrar as coisas que não dão certo. Criação do genial Christian Escribà, The Miscake (fusão the mistake com cake) vem em tamanho P, para as pequenas agruras da vida cotidiana, e G, ideal para grandes tragédias. Nada como o humor – e o açúcar – para nos salvar da dureza do momento atual, não é mesmo?
Mas eis que me deparo com a hilária chamada da matéria abaixo, publicada na revista Time Out, que é uma referência internacional. Fiquei tentando imaginar o surreal que seria ver um título como esse em uma publicação brasileira e decidi mudar o rumo desse post, falando sobre a tórrida relação de amor entre os espanhóis e os palavrões, las palabrotas.
Palavras como joder, carajo, mierda, coño e cagada são tão corriqueiras por aqui que transitam livremente do botequim aos programas de TV. E uma vez que os palavrões mais básicos foram normalizados, é preciso ir muito além quando a ideia é realmente ofender alguém. Você sabe que a coisa é séria quando alguém diz, por exemplo, “me cago en tus muertos!”
Morando aqui há 20 anos, só me dei conta de que o hábito de falar palavrões sem complexos era uma particularidade espanhola quando viajei pela América Central e pelo México. Pelo olhar das pessoas, comecei a sacar que dizer que alguma coisa era “de puta madre” estava soando como ofensa ao invés de elogio, entre várias outras bolas fora. Ups!
Segundo um estudo publicado recentemente pela faculdade de línguas da Universidad Nebrijas, de Madri, que avaliou as palabrotas mais usadas por aqui (cabrón, hijoputa e gilipollas lideram o ranking), ao soltar um impropério, não só comunicamos o significado da frase, mas também expressamos como nos sentimos emocionalmente sem a necessidade de recorrer à violência física. Talvez por isso, sair na mão, por aqui, é uma coisa raríssima. Viva o palavrão!