Quem nunca? Você está em um lugar extremamente fotogênico e usa a hashtag mais óbvia para dar uma espiada – e uma comparada – nas imagens mais recentes registradas por ali. Resolvi xeretar quando estava no arquipélago de Bazaruto e…. mas essa não é a Preta Gil? Não nos cruzamos por questão de horas. “Posso afirmar que cheguei ao lugar mais lindo que já fui na vida”, disse a cantora ao aterrissar. E seus mais de 4 milhões de seguidores se perguntaram: que paraíso é esse? Pode deixar que eu explico.
O refúgio escolhido por Preta e seu marido Rodrigo Godoy para descansar após a odisseia do carnaval foi o Azura Benguerra Island. O hotel, concebido no estilo “luxo pé na areia”, fica na ilha de Benguerra, integrante do arquipélago de Bazaruto. Se eu pudesse, guardaria esse segredo dentro de uma caixinha, para que ficasse eternamente do jeitinho que está. Ao sul de Moçambique, o lugar é absolutamente afastado dos roteiros mais batidos (até para quem se aventura pela África) e conta com pouquíssimos hotéis – todos de alto nível e com capacidade para poucos hóspedes. O curioso é que, apesar de remoto, o arquipélago é de fácil acesso. Basta voar para Johanesburgo, na África do Sul e, de lá, pegar um voo (da Airlink ou da LAM) até Vilanculos, de onde parte o helicóptero para Benguerra.
Também é possível chegar lá de barco. Acontece que os dez minutos de voo do aeroporto de Vilanculos até os domínios do Azurra Benguerra Island não são apenas um transfer. Cercados de águas mornas e rasas num escandaloso azul turquesa, os bancos de areia que caracterizam a região desenham e redesenham o Oceano Índico na medida em que a maré trabalha. Vista de cima, a imagem é de arrancar lágrimas. Na ida, o cenário era um. Na volta, com a maré baixa e o céu azulíssimo, as linhas brancas no mar azul eram mais intensas e formavam composições totalmente diferentes. O voo foi um dos momentos de glória da viagem, no qual o desespero por registrar cada segundo superou com folga qualquer possibilidade de medinho de altura. Pode embarcar sem medo. Os helicópteros da Archipelago Charters (US$ 210 por pessoa/trajeto) são novos e de primeira linha e, por motivos óbvios, têm grandes janelas panorâmicas do teto ao chão. Além do “transfer”, eles também fazem voos panorâmicos por outras partes do arquipélago.
O hotel tem apenas 18 acomodações divididas em cinco categorias — incluindo uma espetacular villa presidencial. Preta e eu ficamos em uma Infinity Beach Villa, que tem um quarto enorme com jeitão de casa de praia, banheiro-latifúndio com banheira, rain shower e chuveiro ao ar livre. Mas o paraíso se materializa na área externa, que tem um deque e uma piscina de borda infinita, além de um gazebo com uma day bed. Tudo isso de frente para o Oceano Índico e com privacidade total. A cama king size é forrada com lençol de algodão egípcio 400 fios e as amenities são de marcas africanas de produtos orgânicos (entre elas a adorável Africology – anotem esse nome). Um espetáculo de lugar para passar a lua de mel.
Cada suíte tem o seu mordomo. Isso traduzido no jeito moçambicano de ser acaba significando um verdadeiro anfitrião, que ao final de algumas horas já é praticamente alguém da família. Jantares surpresa pé na areia, mensagens fofas no café da manhã, fim de tarde num pufe gigante cercado por uma coroa de flores e muitos outros mimos fizeram parte do meu itinerário. Repito: um espetáculo de lugar para passar a lua de mel.
O passeio estrela para quem está no Azurra Benguerra é o island hopping pela região de Bazaruto, a bordo de uma poderosa lancha. Uma das paradas obrigatórias é na ilha que dá nome ao arquipélago, que pode ser identificada de longe com por sua enorme duna dourada, que se reflete em um espelho d’água formado na maré baixa (matador de fotogênico). Vale a pena enfrentar o calor e subir ao topo da gigante de areia para ter uma vista dos arredores. O tour também tem uma paradinha para fazer snorkel num arrecife que parece um aquário (dica amiga: use uma roupa de neoprene para se proteger das águas-vivas). Mas a apoteose é o piquenique na espetacular praia de North Point, uma tripinha de areia-açúcar cercada pelo Índico dos dois lados. Com direito a pufes, mesa, guarda-sol, vinho branco geladinho e pratinhos leves escolhidos previamente.
Outro passeio que superou as minhas expectativas foi velejar em legítimo dhow – embarcação típica do sudeste da África, movido por uma grande vela rústica. Genialmente, o staff acomodou dois pufes dentro do barco para que ficássemos no bem-bom, e muniu-se de um bar portátil, de onde saíram belos gin & tonics. Acaba não, mundão. Num fim de tarde épico, foi lindo ver a impressionante habilidade do nosso “capitão” para domar o vento. E divertidíssimo brincar de adivinhar quantos segundos exatos faltavam para que o sol desaparecesse no mar como uma bola de fogo. O legítimo “modo férias”.
Um hotel de luxo em um país paupérrimo e carente de recursos precisa ter uma política social. Fundado pelo britânicos Christopher e Stella Bettani, um casal apaixonado por Moçambique desde os anos 1900 (visionários, portanto), o hotel envolve a comunidade seriamente em seu trabalho. A maioria dos funcionários são nativos da ilha e foram formados pelo próprio Azura, que financia uma escola em Benguerra e administra uma fundação. Um dos momentos mais bacanas da minha passagem por lá foi, surpreendentemente, a apresentação de dança das crianças da comunidade local. Cheios e alegria e de espontaneidade, eles acabam chamando os hóspedes para dançar. Costumo quase enfartar de desespero quando esse tipo de coisa acontece –timidez residual que levo dentro — mas nessa ocasião acabou sendo realmente divertido.
As tarifas começam em US$ 655 por dia, por pessoa, e incluem acomodação, wi-fi nas áreas públicas (não há internet nos quartos e nem TV por uma questão de filosofia do lugar – aplausos!), todas as refeições, refrigerantes, refrescos e uma seleção de bebidas alcoólicas (uma ressalva: a lista de vinhos incluídas é um pouco enxuta demais). Também estão incluídos no pacote o cruzeiro de dhow no pôr do sol e um giro de Land Rover pela ilha.
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