Morre um ícone. Em funcionamento desde 1941, a Vinçon acaba de anunciar que fechará as portas no Passeig de Gràcia, a avenida mais elegante de Barcelona. Até o fim do mês, fará uma megaliquidação de queima de estoque, com descontos progressivos que devem chegar a 40%. Mas isso não é uma boa notícia.
Instalada num magnífico casarão modernista que pertenceu ao pintor Ramon Casas (projetado pelo arquiteto Antoni Rovira i Rabassa), a loja era a grande referência do design numa cidade que, apesar de já ter vivido momentos mais férteis, é um polo de criatividade nesse sentido. Pode parecer exagero ficar de “luto” pela perda de uma loja (que aliás era caríssima e bem fora das minhas possibilidades), mas o buraco é mais embaixo.
O Passeig de Gràcia passou por uma ampla reforma recentemente. Teve suas calçadas ampliadas, instalou uma ciclovia mais espaçosa e ficou mais bonito e gostoso para passear. Até aí, ótimo. Mas, ao mesmo tempo, o endereço ficou ainda mais chique e cobiçado pelas redes internacionais que, cada vez mais, pressionam as lojas que não pertencem aos grandes grupos multinacionais a pegarem seus banquinhos e saírem de mansinho, na medida em que os velhos contratos de aluguel vencem e propostas indecorosas vão sendo feitas pelos pontos comerciais.
Em nota publicada junto com a notícia do fechamento da loja, a direção da marca diz algo que dá uma ideia do problema (desde 2008, o faturamento caiu pela metade):
“O objetos de bom desenho contemporâneo, majoritariamente fabricados na União Europeia e que são as base da nossa coleção ficam deslocados entre os de luxo e os fabricados no extremo oriente”.
Recentemente, outro ícone da cidade, o Colmado Quilez, um magnífico empório à moda antiga, se viu ameaçado pela questão do aluguel exorbitante e por pouco não abandonou a sua gloriosa esquina na Rambla de Catalunya (vizinha ao Passeig de Gràcia).
Não se trata apenas do fechamento de lojas bacanas. O que pega é a “mesmificação” das grandes cidades do mundo. Cada dia mais, a parisiense Champs Elysées, a Quinta Avenida de Nova York, a George Street de Sydney, a Oscar Freire de São Paulo ou a avenida X do raio que o parta são mais iguais: Louis Vuitton, Starbucks, Gucci, H&M, Zara, Chanel, Nike, Mc Donalds, Dior…
O que nos salvará de tanta mesmice? Modestamente, vou fazendo a minha parte, me tornando cada vez menos consumista e usando o meu suado dinheirinho para comprar experiências diferentes ao invés de coisas iguais, seja quando viajo, seja na cidade onde vivo.
Siga @drisetti no Tiwtter e no Instagram
* Todas as imagens foram reproduzidas do site da Vinçon.