Isla Batimentos, Bocas del Toro, Panamá: a Jamaica é aqui
Na única rua pavimentada da ilha, os casarões de madeira colorida ainda estão lá, intactos e cheios de vida
A história do arquipélago Bocas del Toro é parecida com a do sul caribenho da Costa Rica. Suas cidades nasceram junto com o cultivo da banana pela empresa United Fruits, no século 20. Por isso, assim como nas costarriquenhas Puerto Viejo e Cahuita, grande parte da população descende dos imigrantes majoritariamente jamaicanos que foram trazidos para trabalhar nas plantações.
O diferencial da Isla Bastimentos (no norte do Panamá, perto da fronteira com a Costa Rica) em relação às demais localidades desta parte do Caribe é que ali pouquíssima coisa mudou desde então. Na única rua pavimentada da ilha (onde não há carros nem motos), na cidadezinha de Old Bank, os casarões de madeira colorida erguidos pela United Fruits para abrigar os seus trabalhadores ainda estão lá, intactos e cheios de vida. Com exceção dos sound systems colossais emitindo reggae o tempo todo, o tempo parou.
O turismo só agora começa a se desenvolver. Há menos de meia dúzia de pousadas simplérrimas na “cidade” e apenas um lugar que pode ser chamado de restaurante. No mais, situações como essas são parte do dia-a-dia:
“Vende-se sanduíches e wraps”, diz a placa. “Um sanduíche, por favor?”. “Yeah, Loco… you know… I don’t have bread, you know? I also don’t have wraps, you know Loco? So… Loco… I don’t have sandwiches, you know?”.
Curtir Bastimentos é curtir uma viagem no tempo, em slow motion, indo e vindo por sua única rua, observando a vida acontecer na calçada e através das janelas.
Uma família inteira que chacoalha ao som de um reggaeton ensurdecedor (daqueles que fazem as carnes balançarem involuntariamente) enquanto a filha menor lê gibi na sala como se nada estivesse acontecendo. Um grupo de rastafaris que discutem em altos berros em guari-guari (um dialeto do inglês jamaicano absolutamente ininteligível) enquanto emitem fumaças pouco ortodoxas. A criançada que desce as poucas ladeiras do vilarejo de carrinho de rolimã. A batucada africana que anima um aniversário. Os adolescentes de cabeleira a la Vanderrama (eles são vários!) que vão e vêm com pranchas de surfe embaixo do braço.
E entre uma experiência antropológica e outra… pegar a trilha até a alucinante Playa Wizzard, uma odisséia no barro que pode levar de 40 minutos a 4 horas, dependendo da sua habilidade de chafurdar com elegância e da quantidade de chuva que tenha castigado a ilha nos últimos dias.
E se você for lá…
Fiquei hospedada no Bomerang, que na verdade é o hostel Yellow Jack que acabou de mudar de nome depois de ser comprado pelo jovem René, um chileno que, quando sobra um tempo, trabalha como cozinheiro de bandas de Heavy Metal em turnê pela América Central. Mais “roots”, impossível, assim como todos os outros da cidade. A localização, porém, é ótima e à prova de reggaeton.