Guia do Safári na África do Sul: raio-X do lodge das celebridades, Royal Malewane
Nem pestanejei quando descemos do 4X4 para, a pé, seguir os rastros de um rinoceronte savana adentro. Em fila indiana, a palavra de ordem era andar da maneira mais silenciosa possível. Nik, nosso jovem ranger, estava na escolta de escopeta em mãos. Passos à frente, Solly, o tracker (guia local que conhece a região desde o berço e ajuda o ranger a encontrar os animais), caminhava atento a qualquer movimentação entre os arbustos. Então ouvimos um bramido (acabei de aprender esta palavra) assustador. Nik se colocou em posição de alerta e, com ar grave, ordenou que recuássemos. Com o coração saindo pela boca, fui sugada de volta para o planeta Terra: Adriana, o que você está fazendo –a pé – atrás de três RINOCERONTES?
Foram os primeiros safáris da minha vida. Nascido e criado em São Paulo, meu cérebro foi envolto por uma espécie de nuvem de irrealidade. Horas depois de fazer check-in no Royal Malewane, vi um leopardo desfilando despreocupado a pouquíssimos metros das minhas retinas. Também avistei um rinoceronte negro, animal arisco e em risco de extinção — restam menos de 4 mil no planeta, para que se tenha ideia do privilégio de observá-lo de perto. Isso sem falar nos elefantes, hipopótamos, búfalos, leões… e no grupinho de rinocerontes brancos que estava discutindo a relação justamente quando nos aproximamos (o bramido, aparentemente, não tinha a ver com a nossa presença).
Meu estado de transe não foi só culpa da bicharada. Entre uma expedição e outra, a atmosfera do Malewane me jogava em outro túnel sensorial que ia desembocar no universo dos exploradores britânicos da época vitoriana, só que em versão contemporânea. Isto é, com a mesma aura de glamour, mas com ar condicionado, piscina de borda infinita, spa e coisa e tal (Sir David Livingstone está revirando na tumba neste exato momento) – caso contrário, os habitués Elton John, Justin Bieber e Charlize Theron não dariam conta do recado.
FICHA TÉCNICA
O lugar
O Royal Malewane está localizado dentro da Thornybush Private Game Reserve, uma reserva natural particular de 13 mil hectares, na área conhecida como Lowveld, nas proximidades do portão Orpen do Kruger National Park. Exclusividade pouca é bobagem: são apenas 6 quartos e duas suítes nababescas, para um máximo de 20 hóspedes (no total). O lobby, se é que se pode chamar assim, é um enorme deque de madeira forrado com tapetes persas, sofás senhoriais e obras de arte – dois magníficos guepardos de bronze guardam a entrada. O spa, coordenado pela simpática chilena Paula, tem raia de 25 metros aquecida, sala de vapor, hidromassagem e suítes privadas para massagens e tratamentos (o cardápio é vastíssimo). O hotel ainda tem academia (ann? eu?), biblioteca e uma loja bonita. Não há cerca entre a savana e a área do hotel. Justamente por isso, um segurança escolta os hóspedes da área social aos quartos. Eventualmente, os bichos podem dar um “oi” sem aviso prévio, tanto no lobby quanto no terraço dos quartos.
Como funciona
Como na maior parte dos safari lodges, o ranger é o seu anfitrião e também a figura mais importante do pedaço: ele faz as vezes de despertador de madrugada, é seu guia nos game drives, toma um drinque com você no fim da tarde e, eventualmente, participa de um jantar especial. Os game drives (safáris de 4X4) acontecem duas vezes ao dia, de manhã e no fim da tarde, sempre com o mesmo grupo. Tudo está incluído no preço, inclusive as (muitas) refeições e as (muitas) bebidas, à exceção dos rótulos premium.
Dupla ranger + tracker
De um ranger competente e gente boa depende grande parte do sucesso de seu safári. E eu não poderia ter dado mais sorte. O jovem Nik (Nikolas Vounnou) foi aprendiz do lendário Juan Pinto, o ranger de todos os rangers do Royal Malewane. Com 6 anos de experiência e uma lista enorme de qualificações extras (entre outras coisas, é um expert em pássaros), ele é um poço inesgotável de entusiasmo pela natureza – nos dias de folga, ele muitas vezes aproveita pra fazer… safári. Além de eficiente, ele é extremamente cuidadoso com os hóspedes, sempre pendente de se todos estão bem e ajustando os horários de saída às preferências do grupo (éramos 5 num carro com capacidade para 10). Em suma, um cavalheiro. Seu anjo da guarda é Solly Mongwe, o tracker de sorriso dulcíssimo, com 11 anos de casa e faro afiadíssimo, com quem se comunica em línguas africanas e telepatia.
O safári
Dos seis lodges de safári por onde passei, entre África do Sul e também Tanzânia, foi o único em que vi os Big Five em menos de 24 horas: leopardo, leão, búfalo, elefante, hipopótamo e rinoceronte. Precisa dizer mais?
Detalhes que fazem a diferença
Os veículos usados pelo Royal Malewane são do tipo Land Rover Defender, considerado um 4X4 “macio”. Não há proteção lateral nem superior. Há mantinhas macias para o frio e capas de chuva disponíveis. Duas coisas que só vi no Royal Malewane: óculos protetores são distribuídos quando anoitece (para evitar insetos nos olhos) e o ranger usa um fone de ouvido para ficar conectado com os demais guias pelo rádio, sem incomodar. Aleleuia, irmãos! Tem coisa mais chata do que barulho de rádio quando você quer contemplar a natureza?
Os quartos
O quarto tem uma supercama de dossel forrada com lençóis de algodão de milhões de fios e travesseiros de pluma, tapetes espetaculares e uma salinha de estar com lareira. Tudo isso diante de uma parede de vidro que se abre para a savana. O frigobar é acrescido de um armário de drinques para embebedar um exército em grande estilo e, sobre uma mesinha de mármore ao lado do sofá, não falta a garrafinha de cristal com licor, um clássico dos safari lodges. O banheiro é um primor com banheira vitoriana, rain shower, amenities (aos montes) Molton Brown e paredes de vidro. O terraço é matador: espreguiçadeiras na sombra, outras no sol e uma magnífica piscina de borda infinita.
Gastronomia
Um dia “normal” no Malewane: dois cafés da manhã (um antes e um depois do game drive matinal), almoço em 3 etapas, high-tea, drinque durante o safári, drinque pós-safári (na lareira), jantar em 4 etapas. A culinária do chef britânico John, por suas palavras: “cozinha colonial em apresentações bonitas”. O serviço, pelas mãos do altíssimo e simpatissíssimo Vetro, é impecável, assim como a seleção de vinhos sul-africanos e europeus (explicados detalhadameeeente pelos gerentes de plantão). À mesa, talheres de prata, belas louças, taças de cristal…
Mimos
Garrafinha d’água de alumínio (linda e “verde”) e boné para o safári (ótimos suvenires), toalhinha fresca e drinque refrescante ao voltar do game drive, jantar “beduíno” surpresa numa tenda ao ar livre…
Upgrade
A Africa House, uma vila nababesca anexa ao lodge, abriga grupos, com direito a staff próprio e mordomo(s).
Perfeito para: lua-de-mel, dias de “eu mereço moooito” e outras ocasiões que exijam um tiro certeiro.
Contra-indicado para: quem viaja com crianças. O lodge só aceita os pequenos nas suítes.
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