Festivais de Barcelona: Sónar ou Primavera Sound?
Um duelo entre os maiores eventos do verão na capital catalã
Acaba de ser dada a largada para a 18a edição do Primavera Sound. O festival, que atinge a sua maioridade em 2018, rivalizada com o Sónar (que, este ano completa 25 aninhos), pelo título de principal evento musical do calendário de Barcelona.
Posicionados entre os melhores da Europa (e do mundo), esses dois festivais sempre acontecem com duas ou três semanas de diferença. Empregando um pouco de organização, quem está de rolê pelo Velho Mundo pode até dar um jeito de ir nos dois. Mas a grana, a energia e as ressacas envolvidas no processo fazem com que essa missão seja pesada até para quem mora na cidade (digo por experiência própria). Sendo assim, como escolher? Eis os argumentos de um fã incondicional do Primavera (meu irmão Daniel), balanceados com os de uma dinossaura que tem 17 Sónars estampados no fígado (a que vos escreve):
Estilo musical
Em linhas gerais, o Primavera Sound é mais indie/alternativo, enquanto o Sónar é essencialmente eletrônico. No entanto, ao longo dos anos, ambos foram se tornando mais ecléticos. Essa abertura se deu, principalmente, no Primavera Sound, uma vez que o universo fora da música eletrônica é feito de possibilidades infinitas.
Essa elasticidade do Primavera Sound acaba fazendo com que a quantidade de nomes de peso seja maior do que no Sónar – onde o line-up costuma ter alguns figurões, misturados a muitas novas apostas nas quais 99% do público nunca ouviu falar (o que é interessante para quem está de mente aberta e afim de garimpar tendências). Este ano, o Primavera terá Björk e Nick Cave. Já o Sónar, terá Gorillaz e LCD Soundsystem.
Público
Em festivais que reúnem mais de 150 mil pessoas, qualquer generalização é furada. Mas dá pra dizer que, até mesmo pelos nomes de peso do seu line-up, o público do Primavera Sound é formado, em grande parte, por gente que curte música, entende do assunto e está afim de escutar o som das bandas em questão. Já o Sónar, tem mais o perfil de uma grande (enoooorme) balada, onde grande parte do público (na qual me incluo) está lá mais pelo oba-oba do que para prestar atenção nos shows. O que os dois têm em comum é a presença em massa de pessoas de todas as partes do mundo, que empata ou supera a de espanhóis.
Vibe
Vamos combinar que o grau de loucura sempre é alto em qualquer festival que se preze. Mas, justamente por esse caráter “a balada pela balada”, no Sónar o bicho pega com mais intensidade. Chegue sóbrio lá pelas 3 da manhã e você provavelmente terá pesadelos recorrentes com o que verá. Não estou querendo dizer que o Primavera seja mais “comportado”. Mas arrisco palpitar que o consumo de substâncias ilícitas por lá é menor, ou pelo menos mais diluído. Por essas e outras, a conexão entre artistas e público parece ser maior no Primavera (o que torna os shows mais energéticos, quase uma catarse), enquanto a interação público-público é mais intensa no Sónar.
Estrutura
Neste quesito, até o maior fã do Sónar há de reconhecer que o Primavera Sound dá de mil. O festival acontece à beira-mar e ao ar livre, em um espaço que já foi pensado para receber eventos assim. Para completar, está pertinho do metrô e dentro da cidade de Barcelona. O lado B é que os palcos estão espalhados por uma área gigantesca e você terá que caminhar muitos quilômetros para dar conta.
Já o Sónar, se divide entre dois recintos principais; um para o dia e outro para a noite (que fica na cidade vizinha de L’Hospitalet de Llobregat – vulgo perifa). Anos atrás, a versão diurna do festival era mais intimista e acontecia entre dois museus no centro da cidade – era lindo! Mas, a partir do momento em que passou a rolar em um lugar semelhante ao da programação noturna (ambas em espaços frios, destinados a feiras e convenções), o esforço de deslocamento de um lugar ao outro perdeu o sentido e dá uma preguiça desgraçada – ninguém merece pegar duas filas de entrada no mesmo dia, né? Recentemente, o metrô finalmente chegou perto do Sónar Noite. Mesmo assim, ainda parece muito longe e inóspito. Fora isso, se por um lado os palcos não estão muito distantes uns dos outros, os espetáculos principais acontecem em lugares fechados e gigantescos, zero apropriados para shows e com acústica ruim. Amo o Sónar, mas não há como negar esse ponto fraco.
Eventos paralelos
Ambos os festivais lançaram os seus tentáculos para outras áreas fora da música e oferecem uma quantidade desesperadora de eventos paralelos. No Sónar, o grande destaque é o Sonar+D, que acabou se tornando um senhor congresso focado em inovação e tecnologia. No Primavera, a sacada são os shows (alguns gratuitos) que acontecem em vários pontos da cidade ao longo de mais uma semana. Ambos os rivais ainda incluem conferências, exposições e afins.
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