Detesto dirigir e sou feliz não tendo carro há quase 17 anos. Mas ir de San Francisco a Los Angeles a bordo de um jipão (upgrade de lambuja) – e sozinha – foi uma das coisas mais legais que fiz nos últimos tempos. Uma das estradas mais espetaculares dos Estados Unidos, a Pacific Coast Highway (também conhecida como Highway 1 ou Route 1) corta a Califórnia de Norte a Sul pelo litoral, passando por praias sensacionais, colônias de focas e leões-marinhos, parques nacionais e cidadezinhas interessantes. Ainda que 710 quilômetros seja uma distância palatável para um ou dois dias, o caminho rende pelo menos 20 paradas que valem muito a pena. Querendo se jogar, dá pra ficar uma semaninha por lá.
Para fazer essa viagem, segui este precioso roteiro da minha amiga Marina Vidigal, do Ideias na Mala. Ela é fervorosa militante de que fazer essa viagem em menos de três dias não é o ideal. Mas, como eu não tinha outra alternativa, mandei ver no roteiro compacto que ela montou e saí de barriga muito cheia. Se você também for dar essa rapidinha, eis algumas dicas que considero bem importantes:
Não adianta sair muito cedo de San Francisco
Fazer essa viagem com tempo ruim é perda de tempo. Tive uma demonstração disso nos primeiros quilômetros, um pouco antes de chegar em Monterey, quando uma névoa louca deixou tudo absolutamente branco para, minutos depois, dispersar milagrosamente. Principalmente no verão, a neblina costuma atrapalhar a vista até lá pelo meio-dia. Ou seja, não adianta sair tão cedo de San Francisco – até porque, até umas 10h, você ainda vai pegar um trânsito péssimo.
A primeira metade do caminho é, disparado, a melhor parte
A melhor parte da viagem é, indiscutivelmente, a primeira metade, quando a estrada atravessa as montanhas abruptas do Big Sur. Saindo de San Francisco lá pelas 10h30 da manhã, eu cheguei nos arredores de Cambria, onde parei para dormir, exatamente na hora do pôr do sol. A cidadezinha fica praticamente no meio do caminho e, na minha opinião, marca o lugar onde a estrada começa a ficar menos espetacular. Talvez o melhor fosse ter feito menos quilômetros com mais calma no primeiro dia, deixando um pouquinho do Big Sur para o segundo dia também, parando mais vezes por ali e acelerando a partir de Cambria.
A hospedagem na rota é cara
Eis um dos motivos pelo qual decidi fazer o caminho em apenas dois dias. Um motel básico custa uns US$ 130 no Big Sur. Eu fiquei no Silver Surf Motel e achei bastante ok. Já no diner ao lado, que eles recomendam, comi uma das maiores gororobas da minha história recente. Prefira comer em Cambria, que fica uns 5 quilômetros adiante.
Monterey e 17 Mile Drive
Para quem vem de San Francisco e tem pouco tempo, o melhor a fazer é ir até Monterey numa tacada só pela autopista e fazer lá a primeira parada. Mas não deixe de pegar a 17 Mile Drive até Carmel. A estradinha atravessa um condomínio de luxo repleto de campos de golfe, passando por praias incríveis. É obrigatório parar na Bird Rock, onde vive uma colônia de focas e leões-marinhos. Outro cartão postal é o cipreste solitário que resiste bravamente sobre uma rocha no meio do mar. Para fazer essa parte caber no roteiro indicado pela Marina no Ideias na Mala, basta trocar o almoço por um sanduíche rápido (comprei um ótimo em uma deli de Monterey e comi pelo caminho) e passar rapidinho por Carmel.
Carmel não está com essa bola toda
A cidadezinha de Carmel costuma ser citada entre os grandes destaques da rota. De fato, é uma das praias mais bonitas e frequentáveis da região, de areia branca e fofa (no Big Sur, muitas praias são pedregosas e de difícil acesso—mais para ver do que para qualquer outra coisa). Já a cidadezinha, me pareceu um grande shopping center a céu aberto, pontilhado de restaurantes caríssimos. Ainda tive o dom de topar com um encontro de donos de poodles por lá. Definitivamente não é meio tipo de lugar. Tudo isso pra dizer que o Big Sur merece mais do seu tempo precioso.
Big Sur
Refúgio de artistas, hippies, místicos e doidões desde os anos 70, essa região árida e selvagem é formada por imensas montanhas que despencam sobre o mar. Pontes cinematográficas vencem abismos altíssimos e deixam o lugar ainda mais fotogênico e único. Há uma série de parques naturais ao longo do caminho. Se tiver que escolher um, fique com o Julia Pfeiffer Burns State Park. Uma trilha de mais ou menos um quilômetro contorna uma praia perfeita e chega até um mirante de onde se tem a melhor vista da Mcway Falls (uma cachoeira que desagua na areia). Com sorte, nestes e outros mirantes da Hwy1 você pode avistar baleias (não tive esse privilégio… snif).
A bicharada é incrível
Mesmo sem ver baleias, atribuo à bicharada alguns dos pontos altos da rota. O esquilinho que me seguiu numa trilha, os pássaros, as lontras fofas da 17 Mile Drive, as colônias de focas e, principalmente, a colônia de elefantes-marinhos nos arredores de Cambria. Um mirante sobre a praia permite chegar bem perto dos animais (sem comentários sobre o cheiro). Eu simplesmente PIREI e fiquei ali até o pôr do sol épico, como só o Pacífico sabe fazer.
Santa Barbara e Michal Jackson
Santa Bárbara é uma das cidades costeiras mais agradáveis da Califórnia e, definitivamente, a grande atração do segundo dia da rota. Mas não menospreze Los Olivos, nos arredores. Cercada de vinhedos e oliveiras, a cidadezinha tem um astral bacana, bons restaurantes, lojas de vinhos… Não seria má ideia passar uma noite ali se eu tivesse mais tempo. Agora, o que me levou a Los Olivos foi a insuportável curiosidade de conhecer Neverland, o rancho onde Michael Jackson construiu o seu mundo bizarro. Do centrinho, ainda é preciso pegar uma estradinha rural por uns 15 minutos (o Google Maps tá sabendo onde é). O que dá pra ver? Basicamente nada. Apenas a porta, com algumas homenagens já envelhecidas pelo tempo. Mas, como fã e curiosa, adorei ter ido lá mesmo assim.