A autoria da frase é insondável. Mas andam dizendo que a Albânia é “o último país punk da Europa”. A ideia não tem nada a ver com cabelos moicanos e couro cravejado de metal, mas faz sentido. Ao entrar em território albanês, nos Balcãs, a sensação é de rebobinar um par de décadas. Os bares ainda são esfumaçados, os motoqueiros não usam capacete, turistas ocidentais chamam a atenção nas ruas (quando eles existem) e os preços são inimagináveis em qualquer outro lugar do Velho Continente. E por isso entenda bons hotéis a € 25 e refeições completas (com vinho) por menos de € 10 por cabeça.
A defasagem no tempo é fácil de entender. A Albânia abriu-se para o mundo só em 1991, com a queda do regime comunista linha duríssima implantado com o fim da Segunda Guerra. De 1941 até o ano de sua morte (1985), o ditador Enver Hoxha governou o país e sagrou-se como um dos maiores cachorros-loucos da história recente. Ele perseguiu, torturou e massacrou seus opositores. Discípulo de Stalin, não só proibiu todas as religiões como o uso da barba (um ícone tanto ortodoxo como muçulmano). Depois, rompeu com a União Soviética (e com os outros do países do Leste Europeu) e aproximou-se da China. Também vetou a TV a cores, a máquina de escrever e ergueu 750 mil bunkers (quase 1 para cada 3 habitantes), na eterna paranoia de uma invasão por parte de Iugoslávia. Indestrutíveis, esses cogumelos de concreto estão por todos os lados e são um dos símbolos bizarros do país, ao lado da águia de duas cabeças que estampa a bandeira vermelhona. Hoxha pregava o “isolacionismo” e, a partir de 1968, proibiu os albaneses de viajar ao exterior. Nem precisa dizer que fazer o caminho inverso era uma coisa raríssima até a reabertura. Ou melhor, ainda é: você conhece alguém que já esteve por lá?
Desde 1991, o país e sua jovem democracia correram atrás do prejuízo. Mas ainda falta muito: a Albânia é a segunda nação mais pobre da Europa, depois da Moldávia. Isso explica, em partes, os preços baixos, compatíveis com o orçamento de turistas vindos de países como o Kosovo, a Macedônia e a Polônia.
Além de ser baratíssima, e de ter essa atmosfera de fim de mundo quase impossível de encontrar no resto da Europa, a Albânia tem muito a oferecer. Minha principal motivação foi o litoral. Dando uma olhada no mapa, você verá que o país é o último reduto do Mediterrâneo europeu sobre o qual quase ninguém ouviu falar. E isso porque está bem ao lado das ilhas Jônicas da Grécia, da Riviera Croata e do salto da bota da Itália. Por associação, era de supor que a costa albanesa tivesse mar azulíssimo e cristalino, praias bonitas, oliveiras, vinhedos e muitos dias de sol ao ano.
Tudo isso se confirmou. O pedacinho conhecido como “Riviera Albanesa”, que vai de Sarande até Dhërmi (veja o mapa abaixo), é marcado por montanhas altíssimas que despencam vertiginosamente sobre praias de pedrinhas arredondadas, com água absolutamente cristalina. Um pouco ao sul de Sarande, Ksamil tem alguns trechinhos de areia branca. Vou falar disso tudo com calma nos próximos posts. E dos pontos fracos também: as urbanizações são medonhas, o que exige uma certa abstração e, sem dúvidas, é meio broxante.
Já no interior, há duas cidadezinhas albanesas onde não há risco de que um edifício rosa-choque ou verde limão estrague o melhor da festa: Berat e Girokastra, ambas fundadas como Patrimônio Universal pela UNESCO em 2008. A primeira é conhecida como “a cidade das mil janelas”, cuja história remonta ao Império Bizantino e ao século 3. A segunda é Girokastra (cidade natal de Enver Hoxha), coroada por um castelo do século 12. Aguardem os próximos posts…
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