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Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Dançando no escuro: assim começou o festival Sónar 2015 em Barcelona

Um dos mais importantes festivais de música eletrônica de vanguarda do mundo, que inaugurou a sua edição 2015 ontem em Barcelona

Por Adriana Setti
Atualizado em 26 set 2019, 15h23 - Publicado em 19 jun 2015, 12h06
img_5207A luz foi sumindo
img_5208E assim ficamos

Dançando no escuro – duplamente literalmente

O show da dupla britânica Autechre era um dos mais esperados do primeiro dia do Sónar, um dos mais importantes festivais de música eletrônica de vanguarda do mundo, que inaugurou a sua edição 2015 ontem em Barcelona. Depois da apresentação do sueco Kasper Bjorke no Sónar Village, que botou o público pra dançar ao ar livre com batidas fáceis de assimilar, uma multidão começou a fluir em direção o Sónar Hall, tradicionalmente o palco mais experimental do festival. Espanto: atrás de uma cortina negra, a sala se encontrava num breu total. Com a ajuda de lanterninhas de celular, o público foi se acomodando. Então veio o primeiro acorde, pancadão distorcido, junto com um flash de luz branca que invadiu as pupilas dilatadas da multidão e terminou de cegar o público. Em seguida, escuro total até o final do show. Estranho, muito estranho.

Calculo que havia mais de três mil pessoas no espaço, totalmente lotado. Mas ninguém passou a mão na bunda de ninguém. Ninguém berrou piadinhas infames. Não houve empurra-empurra. O público calou, ouviu, dançou na medida do dançável (ritmo não é a palavra pra definir a coisa). O som era tão potente que nossas peles vibravam. Passado certo choque inicial, a grande maioria se tocou de que estragar o momento com a luz da tela do celular estava fora de contexto. Tudo escuro. Foi muito bonito ver o nível de educação e de respeito. E também foi inevitável pensar: imagina no Brasil?

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Avessos a tocar ao vivo, os esquisitões do Autechre são considerados os magos da música eletrônica abstrata e da IDM (intelligent dance music). Recentemente,  a FACT Magazine elegeu a faixa “Flutter” como o número 1 da lista das 100 melhores músicas de IDM da história. Não foi fácil resistir bravamente lá dentro a acordes tão distorcidos e imprevisíveis – confesso que fugi antes do final. Mas foi uma experiência e tanto.

img_5184O magricelo sueco Kasper Bjorke botando o povo pra dançar
img_5214Hot Chip mandou Dancing in the Dark pra encerrar o show. Foi pro Autechre???
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Depois do “sacrifício”, a recompensa: um showzaço do Hot Chip no palco aberto, Village, que fez bombar o primeiro dia do Sónar  como nunca vi, em 14 anos frequentando o festival (a quinta feira é tradicionalmente um dia meio “esquenta”). Foi pra mim, tenho certeza: mandando uma banana para a modernidade, o grupo encerrou o show inacreditavelmente com a minha música favorita do amado e idolatrado Bruce Springsteen, Dancing in the Dark (podia vir mais a calhar depois do show “dançando no escuro” do Autechre?).

Coisas do Sónar

A novidade deste ano é o “Sónar cashless”. Praticamente não circula dinheiro dentro do festival. Você ganha uma pulseirinha, carrega com ela com crédito e vai sendo escaneado a cada bebida ou comida que consome. Também é notória a volta dos catalães ao festival. No auge da crise econômica, o preço da entrada tinha ficado muito caro para quem mora aqui e os estrangeiros (principalmente britânicos) dominaram o Sónar. Ontem havia mais da metade do público local, o que dá uma outra atmosfera ao festival.

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O Sónar +D – um congresso internacional sobre criatividade e tecnologia que acontece paralelamente ao festival — também engrenou com força total. A programação de conferências é matadora, com nomes como Google, Vimeo, Pinterest e Wired no cardápio. É uma pena que o alugar onde acontecem os encontros seja tão barulhento.

img_5219Sonar style
img_5220Isso é o que chamo de “ter brilho próprio”
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img_5222O Sónar avisa que o verão está chegando

O que vem aí

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Ontem à noite o festival teve um show especial do Chemical Brothers, a grande atração desta edição, que volta a tocar no sábado à noite. Se eu sobreviver até lá, prometo voltar aqui para contar como foi. E hoje ainda tem os sul-africanos do Die Antwoord, mais Hot Chip, Tiga fazendo ao vivo (o que não é muito comum) e mais um moooooonte de nomes super vanguardistas e pouco conhecidos do grande público, o que é praxe no Sónar.

* Fotos de Cássio Leitão

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