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Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Como o turismo sem-noção está afetando Bali na pandemia

Como alguns viajantes estão dando um jeitinho de visitar a ilha, que está fechada ao turismo desde março de 2020

Por Adriana Setti
Atualizado em 31 Maio 2021, 16h04 - Publicado em 31 Maio 2021, 12h30

A essas alturas, já estamos calejados com influencers e pessoas comuns postando imagens de comportamentos irresponsáveis durante viagens em plena pandemia. Mas sempre aparece alguém que consegue se superar, como é o caso da russa Leia Se, que fez um vídeo viral enganando o atendente de um supermercado em Bali com uma máscara cirúrgica pintada no rosto. Cenas do tipo vêm indignando os moradores da ilha. Em teoria, o paraíso do surf da Indonésia está fechado ao turismo desde março de 2020. Mas tem gente que sempre consegue dar um jeitinho, não é mesmo? Para entender o que está acontecendo por lá, conversei com o meu amigo Claudio da Matta, que se casou com uma mulher indonésia, a Nur, e vive no país desde 2014, onde teve dois filhos lindos.

“Desde o fim do ano passado, foi liberado um tipo de visto chamado Business Visa que, na teoria, é pra quem vem fazer alguma reunião de negócios, participar de algum workshop ou coisa parecida”, conta Claudio. “Vendo isso, muitas agências que funcionam como despachantes se aproveitaram para fazer desse documento a porta de entrada pra quem morava na ilha, mas tinha saído de Bali no início da pandemia, e/ou pra quem queria vir aproveitando que por aqui não rolou um lockdown”. Pra obter o Businnes Visa on-line, basta pagar €300 e fornecer os dados de um “sponsor” local (uma pessoa responsável pelo convite, que os despachantes podem providenciar).

Logo depois dessa abertura, a ilha viveu o seu maior pico de casos de Covid-19. A partir daí, o governo começou a agir, tornando obrigatória uma quarentena de 5 dias na chegada ao país, além da apresentação de um PCR negativo. Mas o que é isso pra quem está determinado a postar a foto perfeita (de biquíni) fazendo pose de yoga em um templo sagrado? “Nos primeiros meses da pandemia, muitos balineses que trabalhavam com turismo acabaram voltando para suas vilas e trabalhando na agricultura ou pesca. Nessa época, dava a impressão que Bali finalmente tinha acordado para o fato de que a total dependência do turismo massivo era ruim, e que alguns agentes estavam querendo mudar um pouco isso, apostando em algo mais sustentável. Mas tudo em vão”, conta Claudio.

Longe das restrições impostas na Europa, nos Estados Unidos e em outros países, esses viajantes da pandemia começaram a tratar Bali com a mesma mentalidade colonialista que sempre alimentou o lado perverso do turismo: “tenho grana e posso tudo”. A começar por não respeitar a obrigatoriedade do uso de máscara, como a influencer idiota que foi ao supermercado com o rosto pintado. “Com a chegada da galera do visto de negócio, foi aumentando o número de relatos de estrangeiros que se negavam a usar máscaras e que desrespeitavam as normas. Mas, como eles também começaram a movimentar a economia local rolou muita vista grossa”, diz Claudio. Mesmo assim, só este ano, cerca de 346 turistas estrangeiros foram multados por violar os protocolos de saúde e 60 deles foram deportados da ilha, segundo a mídia local. Esta reportagem do jornal britânico The Guardian fala justamente sobre a preocupação de que o comportamento dessas pessoas sem-noção possa passar a imagem de Bali como um lugar inseguro, justo no momento em que a ilha luta para reabrir-se ao turismo, sua principal atividade econômica.

Em 2019, o ano que antecedeu a pandemia, Bali recebeu 6,3 milhões de turistas estrangeiros – um feito e tanto para uma ilha que tem 4,2 milhões de habitantes. No mesmo período, o Brasil recebeu exatamente a mesma quantidade de forasteiros. A comparação dá uma ideia do peso que o turismo internacional tem para esse pequeno paraíso da Indonésia. Com a entrada de turistas proibida desde março do ano passado, a economia balinesa encolheu quase 10% só em 2020. Eu mesma, que visitei a ilha pela última vez em 2013, recebi pelo Facebook pedidos de ajuda financeira de pessoas que conheci na viagem. É de cortar o coração.

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“Muitos hotéis fecharam e alguns deles estão abandonados e à venda, principalmente na região de Kuta, onde muitos tinham acordo com tour operadores grandes da Ásia e Austrália”, conta Claudio. Atualmente, o plano do governo indonésio é abrir Bali ao turismo a partir de julho, como uma zona especial com regras diferentes do resto do país. “Desde março, o ritmo de vacinação tem aumentado bastante, mas, em outras partes da Indonésia, como na vizinha Lombok, o ritmo é bastante lento”, conta Claudio. “Por isso, esse plano de abrir Bali ao turismo como uma pequena bolha está muito esquisito, já que ninguém sabe os detalhes de como vai ser e, principalmente, como vão impedir que os turistas se desloquem a outras partes do arquipélago”.

O “visto de negócio” também vem chamando a atenção de quem descobriu que pode trabalhar remotamente e decidiu fazer isso com vista para um arrozal. Um relatório recente da International Living, publicado pela Forbes, definiu Bali como um lugar baratíssimo para morar. “A bolha imobiliária está terrível e tudo está ficando mais caro pra quem é daqui”, conta Claudio, que mora em Denpasar, a capital da ilha, em um bairro afastado da zona turística. O barato, como sempre, sempre pesa na conta de alguém.

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