Como explorar Uluru (Ayers Rock), a grande pedra do deserto da Austrália
>> Escalar ou não escalar?
Você já viu alguém fazendo rapel na cúpula da basílica de São Pedro no Vaticano? E subindo pelas paredes da Mesquita Azul de Istambul? Pelo mesmo motivo – respeito a um lugar sagrado –, escalar Uluru deveria estar fora de cogitação. Porém, desde que os turistas começaram a chegar no coração do deserto australiano, nos anos 1950, subir até o topo do maior monolito do mundo entrou para a lista de “coisas para fazer antes de morrer” de muita gente. Com medo de espantar os turistas, a comunidade aborígene local ainda tolera essa atividade. Mas, ao mesmo tempo, faz um apelo enfático para que os visitantes coloquem a mão na consciência e desistam da empreitada. E tem mais: escalar a pedra é muito mais perigoso do que parece. Apesar da subida parecer relativamente fácil, as temperaturas brutais multiplicam os riscos. Dezenas de pessoas já morreram ali. Ou seja, pense e repense.
>> O que mais você pode fazer lá?
O turismo sustentável e respeitoso em Uluru consiste em caminhar ao redor da pedra – e também da formação rochosa de Kata Tjuta, assunto do próximo post –, além de aprender sobre a cultura aborígene. Pode até não parecer tão emocionante quanto escalar. Mas, acredite, as formas insólitas esculpidas nas paredes do monolito, as texturas e as cores são alucinantes. Quem curte fotografia vai simplesmente delirar. Eis aqui os passeios mais populares:
CLIQUE AQUI para descarregar o mapa acima, assim como a tabela oficial com o preço e os horários de entrada no parque nacional conforme a época do ano.
>> Quais são as melhores caminhadas?
Mala Walk (caminhada dos Mala)
Os Mala foram os primeiros aborígenes a ocupar a região. O trajeto, que começa no ponto base para a escalada da pedra, é um dos mais importantes do ponto de vista cultural. O trecho de um quilômetro passa por cavernas em formas alucinantes recheadas de pinturas rupestres. O gran finale acontece no Kantju Gorge (garganta de Kantju), um cenário de paredes abruptas que despencam num pequeno reservatório de água.
Kuniya Walk
Foi, sem dúvida, o meu trecho preferido. A caminhada de um pouco menos de três quilômetros começa perto do estacionamento Kuniya, onde está o maior e mais bonito reservatório de água natural de Uluru, o Mutitjulu. O lugar é um dos mais verdes e ideais para a observação de pássaros – ficar em silêncio ouvindo os barulhinhos da natureza por ali dá uma paz… O trajeto até o estacionamento Kuniya Piti passa por desenhos incríveis esculpidos pedra. Foi o pedaço que rendeu as melhores fotos.
Uluru Base Walk (Volta completa)
A volta completa na pedra é uma caminhada de 10,6 quilômetros. A distância não parece assustadora, mas no calor do deserto qualquer esforço físico se torna três vezes mais pesado. O passeio demora uma média de quatro horas. Por isso, é preciso calcular muito bem a hora de sair. No verão, por exemplo, a temperatura é tolerável até umas nove da manhã. Como amanhece lá pelas seis, o melhor é acordar cedíssimo e dar a largada com os primeiros raios de sol. Também é questão de sobrevivência levar pelo menos uns três litros de água por pessoa. O programa é indicado para quem tem pouquíssimo tempo e quer ver tudo de uma vez, ou para hiperativos incontroláveis. Se não, vale mais a pena curtir com calma em caminhadas curtas e homeopáticas. Uma boa alternativa é fazer a volta de bicicleta, já que a trilha é plana.
Para preguiçosos e pessoas com dificuldade de locomoção
Ao contrário do que eu imaginava, Uluru é um programa muito democrático. Praticamente todos os principais pontos de observação têm acesso para cadeirantes. Quem não pode (ou simplesmente não quer) caminhar ainda pode observar a pedra de mirantes estratégicos com áreas de piquenique e estacionamento, ou simplesmente encostando o carro num lugar seguro da estrada.
>> Passeios guiados X passeios independentes
Tours guiados
Eu fiz todos os passeios com guia, porque eles estavam incluídos no programa do acampamento de luxo (o tal do “glamping”) Longitude 131 – CLIQUE AQUI para ler o post completo sobre o lugar. Todos os guias eram extremamente bem informados, tanto na história como na geologia do lugar, além de visivelmente apaixonados pelo deserto. O transporte era feito em veículos novíssimos 4X4 com ar condicionado e, no final da tarde, éramos esperados com um coquetel de altíssimo nível nos lugares mais incríveis para ver o pôr do sol. Se você está em busca de uma experiência realmente fora do convencional e tem altíssimo nível de exigência, eis uma boa pedida. Também é possível contratar uma lista enorme de tours guiados que operam com base na cidadezinha de Yuara (onde estão todos os demais hotéis). Clique aqui para ver os operadores indicados no site oficial no parque nacional. Uma das grandes vantagens do tour guiado é que as caminhadas não precisam começar e terminar no mesmo estacionamento (uma vez que o transporte pode esperar o grupo no ponto final). Quem vai de carro próprio sempre tem que voltar ao ponto inicial, o que dificulta as caminhadas mais longas, a não ser que seja uma volta completa.
Turismo independente
Explorar Uluru por conta própria é extremamente fácil. O único perrengue, como já disse, é ter que sempre voltar até o carro. Se perder é impossível, uma vez que todas as trilhas passam rente à pedra. O parque nacional tem painéis excelentes que dão explicações resumidas sobre história e geologia. Confesso que achei certas explicações dos guias um pouco longas demais (coisas de quem definitivamente não está acostumada a fazer programas guiados). Outra grande vantagem de fazer os passeios de forma independente é poder estar a sós com toda aquela imensidão, o que é perfeitamente viável se você fizer um pouco de esforço para driblar os grupos. Por essas e outras, em alguns momentos eu desejei não estar num esquema empacotado (ainda que o pacote fosse de superluxo).
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