Barcelona quer transformar seu bairro mais movimentado em uma grande praça
O projeto que pretende reduzir drasticamente a circulação de carros na área central da cidade até 2030
O céu ficou mais azul em Barcelona durante a fase mais punk do confinamento. Com a redução do barulho do trânsito, dava para ouvir os passarinhos. Até os javalis aproveitaram a brecha e desceram dos bosques para dar um rolê na cidade. E, se a bike já era um dos principais meios de transporte, ganhou ainda mais adesão de quem evita se aglomerar no transporte público. Por essas e outras, ao invés de almejar voltar ao velho normal, a prefeitura da capital catalã vem encarando o choque da pandemia como uma oportunidade para redesenhar o modelo de ocupação da metrópole, dos pontos de vista social, econômico e meio ambiente.
Em maio, fiz um post adiantando várias novidades, como a ampliação da rede de ciclovias e do sistema público de bikes compartilhadas, e a diminuição do fluxo de trânsito em algumas avenidas da cidade. Mas a prefeitura de Barcelona acaba de anunciar planos ainda mais ambiciosos para curto e médio prazo.
O projeto dos “superquarteirões” (supermanzana, em espanhol, ou super illa, em catalão) é um sonho antigo para os urbanistas amigos da sustentabilidade e já está em andamento. O modelo a seguir é o superquarteirão do Mercado de Sant Antoni, no bairro do Eixample, que ficou pronto em 2018. Além de ter sido totalmente restaurado, ele teve todas as ruas ao seu redor interditadas para o trânsito, com vários antigos cruzamentos transformados em praças. Veja como é a super illa do mercado de Sant Antoni no vídeo abaixo:
A ideia inicial era ter alguns desses superquarteirões espalhados pela cidade, para servir de espaço de convivência e respiro na área central. Mas a prefeita Ada Colau resolveu radicalizar, propondo transformar praticamente todo o bairro do Eixample, onde vivo, em um megasuperquarteirão até 2030.
A ideia é bem ambiciosa, já que pretende restringir drasticamente o trânsito em uma das áreas mais movimentadas da cidade (por onde passam 350 mil carros diariamente), instalando 21 corredores verdes, com tráfego limitado aos moradores e serviços, e 21 grandes praças nos cruzamentos. Com essa medidas, a cidade ganharia seis hectares de áreas verdes e circular de carro pelo centro ficaria quase inviável.
Seria lindo de tudo isso fosse concretizado! Acontece que a gestão da atual prefeita vai só até 2023 e, obviamente, essa megatransformação não terá tempo de ser implantada até lá. O que Ada Colau pode garantir, por enquanto, é a entrega da primeira etapa, cujas obras devem ser iniciadas em 2022, com um orçamento de €37,8 milhões.
Pra que essa revolução urbanística vire realidade, será fundamental, em primeiro lugar, que @ próxim@ prefeit@ de Barcelona seja progressista e amig@ da sustentabilidade – o que, pelo histórico da cidade, tem boas chances de acontecer. Fora isso, vai ser preciso levantar uma grana violenta para implantar o projeto integralmente, o que representa um desafio extra em meio à crise econômica gerada pela pandemia. Mas, para uma cidade que ressurgiu das cinzas com as Olimpíadas de 1992 e passou por várias outras transformações radicais nas últimos décadas, esse é apenas o caminho natural das coisas.
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