Continuando o post anterior, sobre o bate e volta de San Sebastián, no País Basco, a Mundaka…
Depois de Getaria, a próxima parada foi uma “não-parada”. Nós bem que tentamos, mas é impossível estacionar na linda Lekeitio num domingo de verão, especialmente se o céu estiver totalmente azul – um fenômeno comemorado com rojões no País Basco.
Mas como há males que vêm para o bem, fomos nos embrenhando pela cidade em busca de uma vaga e só achamos lugar no fim da linha, já no farol de Santa Catalina, bem longinho do centro. E não é que lá havia um barzinho super bem aprumado, todo de vidro, com uma vista panorâmica para o mar? A julgar pelo cardápio exclusivamente em euskera, tratava-se de um segredo bem guardado pelos locais.
Algumas anchovas, cervejinhas e nacos de bonito (um primo do atum que o garçom fez questão de frisar que era das redondezas) depois, desencanamos de Lekeitio, ainda que eu tenha ficado com o lugar na cabeça. A cidade é uma belezinha, tem uma igreja gótica superimponente à beira-mar e uma ilhota enfeitando a baía, aonde se pode chegar por uma passarela sobre o mar. Voltarei.
Nesse momento a estrada adquiri formas de caracol. E segue em ziguezague – colocando os nacos de bonito para bailar com as anchovas — por 22 quilômetros até finalmente chegar em Guernika. Você certamente já ouviu esse nome: a cidade foi retratada por Pablo Picasso após ter sido destruída na Guerra Civil Espanhola – o que lhe rendeu a sua obra prima. A partir dali, la carretera se bifurca em duas para contornar um braço de mar. Pegue o rumo da direita, em direção às praias de Laida e Laga (há placas indicando) e deixe Mundaka (aonde se chega pela bifurcação da esquerda), para depois.
Laida é uma praia diferentona: um areial dividido em alguns blocos que avançam sobre o braço de mar que a separa de Mundaka. Parece uma praia de rio. E, ao menos aquele dia, ventava pra caramba. Algumas pessoas prevenidíssimas estavam pegando praia com quebra-ventos (umas barraquinhas que se parecem a iglus) a tira-colo, o que me leva a crer que o vento é praxe. Agüentamos o quanto pudemos e decidimos conferir Laga. Sábia decisão: chegamos à praia mais bonita do País Basco.
Selvagem, a praia tem areia dourada e é escoltada por um penhasco rochoso que parece ter “despejado” algumas pedras gigantes cujas pontas vencem a água apontando ao céu. O público é jovem, bonito e “surfero” (como se diz por aqui). Pena que já estava ficando tarde para chegar em Mundaka a tempo de dar um último mergulho. Voltarei.
Por fim, Mundaka. E… fom fom foooom. Êta prainha feia! Ou melhor, vitima da infinita burrice humana, capaz de construir um viaduto medonho num lugar daqueles. Nem me dei o trabalho de tirar a canga da bolsa, mais valia sair em busca de uma iguaria típica da região: o frango assado das famosas pollerías.
No caminho, parada rapidinha no Castillo de Butrón, que tem pinta de conto de fadas (no caso, onde moraria a bruxa má), todo cercado de bosques, meio sinistrão. E poucos quilômetros adiante estávamos no micro pueblo de Maruri, na pollería Jatabe. Eu adoro esse tipo de programa meio farofa, quando é legítimo: família locais baixam ali em massa para ocupar mesonas coletivas espalhadas pelo jardim.
Você mesmo vai até o balcão e traz o rango numa bandeja: salada, batata frita, croquetes de bacalhau e um frango assado caseiro e delicioso (até para quem não é lá muito chegado no galináceo, como eu). A conta é brincadeira: menos de 10 euros por pessoa para comer e beber até cair no chão.
Hora de tocar de volta para San Sebastián, dessa vez pela autopista.
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