A tragédia da Semana Santa em quarentena na Espanha
Suspensão das celebrações religiosas em Sevilha, Málaga e Córdoba geram prejuízos milionários
Que a Páscoa é importante para os católicos, todos sabemos. Mas, na Espanha, a data é sinônimo de catarse religiosa. O feriado (que faz muita gente emendar até 10 dias de folga!) é especialmente importante e grandioso na Andaluzia, onde os desfiles das irmandades arrastam milhões de pessoas pelas ruas, em procissões carregadas de devoção às quais boa parte da população entrega sangue, suor e lágrimas. Por essas e outras, a ausência das procissões de Semana Santa nesta região ao sul do país devido à pandemia de covid-19, pela primeira vez desde 1933, está sendo o primeiro grande trauma do confinamento.
Fazendo uma analogia com o Brasil, do ponto de vista espiritual, seria mais ou menos como cancelar o Sírio de Nazaré, em Belém, ou a Lavagem do Bonfim, em Salvador. Mas com um prejuízo material muito mais significativo, já que a celebração se arrasta por mais de uma semana, em várias cidades.
Só em Sevilha, estima-se que o prejuízo pelo cancelamento dos eventos devido ao coronavírus seja de € 400 milhões. Além de contabilizar as perdas dos hotéis, restaurantes e afins, as procissões também envolvem um investimento altíssimo em flores, velas, trajes, bandas, entre outros recursos que movimentam setores que praticamente só existem para fazer a celebração acontecer. Em Málaga, estima-se que o rombo seja de € 100 milhões e, em Córdoba, outros € 300 milhões.
A Semana Santa espanhola não se limita às festas religiosas, é claro. Aproveitando a semana inteira de férias escolares, à qual muitos pais acabam aderindo, milhões de pessoas costumam viajar pelo país nessas datas, inaugurando a temporada de praia no Mediterrâneo. Franceses, italianos e outros europeus também aproveitam a chegada do calor para visitar o país. Com tudo isso, a Páscoa gera 15% dos ganhos anuais do setor do turismo, que representa 12,3% do PIB do país e emprega mais de 2,6 milhões de pessoas, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas. Em poucas semanas, Sevilha voltará a lamentar o adiamento de seu carnaval do flamenco, a Feria de Abril. Mas, pelo menos, a festa acontecerá no modo micareta, no mês de setembro.