Achados

Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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5 grandes besteiras que fiz com passaportes, fronteiras e afins

Esquecer de checar se o país exige visto, perder os documentos e outras agruras

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 14h35 - Publicado em 16 jan 2017, 19h42

Sempre que escrevo sobre as roubadas e gafes que enfrentei por aí aparece alguém para reclamar do post (“se você é tão otária assim, o que tem a nos ensinar?”). Mas, senhores, insisto. Nem só de maravilhas se faz uma viagem. E a gente sempre pode aprender com os erros – inclusive dos outros. Recentemente, falei sobre algumas agruras que vivi no Sudeste Asiático. E aqui faço um apanhado geral dos micos com passaportes, fronteiras e afins:

1. Perder todos os meus documentos (junto com meus cartões e dinheiro) em Bangcoc

E o Óscar de maior vacilo da vida vai para… A pior situação que já passei como viajante começou com um encontro feliz. Estava descendo de um táxi no meio de Bangkok e deparei-me, ao acaso, com amigos queridíssimos que estavam dando a volta ao mundo. Do nada, eles estavam lá, tomando uma cervejinha em uma mesa na calçada. A euforia foi tanta que não quis perder tempo. Ao invés de subir ao quarto do hotel (eu estava chegando do litoral), larguei a mala na recepção e engrenei na balada levando a famosa bolsinha das coisas cruciais dentro da bolsa. Acontece que, a partir daí, a noite evoluiu para uma espécie de episódio da saga Se Beber, Não Case! Corta. No outro dia, faltou apenas o tigre do Mike Tyson no banheiro para que o meu panorama fosse mais similar ao do filme. Entre uma dose e outra de SangSom (o demoníaco rum tailandês), minha bolsa tinha sumido, com meus dois passaportes (europeu e brasileiro), carteira, cartões, câmera, dinheiro. Passei umas 12 horas de agonia (além da pior ressaca desta encarnação) até que deu-se o milagre. Ao voltar pela terceira vez no último bar que lembrávamos ter estado, eis que uma criatura havia devolvido os meus pertences. INCLUINDO O DINHEIRO.

O que aprendemos: a regra do passaporte no cofre do hotel não pode ser burlada nunca. Nem por cinco minutos. Nem por um minuto. Principalmente se houver uma noite de loucura envolvida na parada.

2. Entregar meu passaporte em mãos erradas no Camboja

Nossa pousada-espelunca em Phnom Penh, a capital do Camboja, ofereceu cuidar do visto para o Vietnã por uma quantia irrisória. A preguiça de ir na embaixada falou mais alto e entregamos o documento nas mãos da recepcionista. Segundo ela, como o dia seguinte era feriado (uma sexta), teríamos que esperar até segunda. Vinte e quatro horas mais tarde, descobrimos que a história do feriado era mentira. Achamos estranho, pedimos os passaportes de volta e ela alegou que já estavam com a embaixada. Fomos até lá e… tcharan… nem sinal. A funcionária vietnamita sacou a roubada na hora e disse que, muito provavelmente, haviam enviado nossos passaportes a Sihanoukville, um vilarejo turístico no litoral, onde tirar o visto era alguns dólares mais barato (assim eles lucrariam mais com a operação, além de manter-nos hospedados na espelunca por mais dias). Resultado? Passamos quatro dias sem os nossos passaportes e ainda tivemos que continuar na pior pousada da cidade como forma de, pelo menos, controlar a situação de perto. Cada vez que leio sobre o brasileiro que está preso na Índia por tentar sair do país com visto falsificado (muito provavelmente conseguido de forma semelhante) eu tenho calafrios de pensar nos riscos que corremos.

O que aprendemos: a maneira correta de tirar qualquer visto é ir pessoalmente na embaixada de um país. Ponto.

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Sihanoukville, no Camboja, onde o meu passaporte foi passar férias sem im (Pixabay)

3. Perder o voo na frente do portão de embarque

Esta é recente. Meu marido e eu tínhamos lugar separado no avião. Ele teve que embarcar antes pela sequência de números. Eu sentei para esperar a minha vez e fui sugada pelo Facebook. Quando acordei para a situação, era tarde. Ele foi e eu fiquei (e só consegui um voo oito horas mais tarde, com uma escala). Foi bizarro.

O que aprendemos: a largar de ser idiota. Sem mais.

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4. Não checar se o país exigia visto

O Lesotho é um micro país que fica dentro do território da África do Sul, que não exige visto para brasileiros. Por associação, simplesmente achamos que não faria sentido algum o Lesotho exigir o documento. Assim como Andorra não exige visto para quem está na Espanha, ou Mônaco para quem está na França. Só que não. Estávamos a caminho da fronteira, no meio de uma região altamente remota da África do Sul, quando essa ideia veio nos assombrar: a gente tinha esquecido de checar. Paramos para dar uma pesquisada e… sim, precisávamos do visto. Pior: a única forma de consegui-lo era em Pretória, capital sul-africana, a uns 1000 quilômetros de onde estávamos. Pior ainda: estávamos numa região meio desértica sem nenhuma atração conhecida num raio de muitos e muitos quilômetros. Mas houve final feliz. Depois de passar horas pesquisando e esbravejando em um posto de gasolina, descobrimos Clarens, uma joia de cidadezinha artística próxima ao lindíssimo Golden Gate Highlands National Park.

O que aprendemos: a checar tudo o que se refira a visto, mesmo que algo lhe pareça óbvio.

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Até as cabras do Lesotho sabem que o país exige visto de brasileiros. Já eu… (Pixabay)
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5. Viajar para a Argentina de carro só com a carteira de motorista

Foram muitos e muitos quilômetros de carro de Porto Alegre até Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, onde passaríamos uma noite para descansar. E eis que surge a pergunta: todo mundo trouxe RG ou passaporte, né? Pois eu estava apenas com a carteira de motorista, que hoje em dia faz as vezes de RG no Brasil para praticamente tudo, mas NÃO funciona para cruzar fronteiras. Só eu não sabia (vale dizer que isso foi em 2006 e ainda não era uma viajante muito experiente). Foi uma odisseia. Minha mãe mandou o RG para Porto Alegre via aérea. Um primo do meu marido foi pegar no aeroporto e levou até a rodoviária, onde convenceu o motorista a fazer esse biscate. Enquanto isso, passamos 72 horas em Uruguaiana, com um calor de 40 graus nadando em um piscinão imundo (onde meu marido pegou uma otite de bônus). Isso sem falar na crise conjugal.

O que aprendemos: novamente, a checar tudo o que se refira a visto, mesmo que algo lhe pareça óbvio.

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