Tóquio, bairro a bairro
Depois de séculos de resistência à influência estrangeira, a Revolução Meiji (1868) abriu os portos do país e transferiu a capital do império japonês de Kyoto para a então cidade de Edo, uma antiga vila de pescadores, que passou a se chamar Tóquio (“capital do leste”). À beira da baía em que deságua o rio Sumida, a cidade cresceu, foi destruída por um violento terremoto em 1923, reconstruída e destruída de novo nos bombardeios B-29s americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1964, estava pronta para sediar os Jogos Olímpicos – evento que a cidade abrigará novamente em julho de 2021, apesar da ausência de público externo devido à pandemia do novo coronavírus..
Considerando toda a sua região metropolitana, a Tóquio que abrigará os Jogos Olímpicos e Paralímpicos é uma megalópole que concentra coisa de 35 milhões de habitantes – a mais densamente povoada do planeta. A área central, espraiada em torno do Palácio Imperial, conta com 9 milhões de pessoas, que vivem, trabalham e se deslocam entre 23 bairros, cada um deles subdivido em distritos.
É um pouco assustador no início, mas a boa notícia ao viajante é que existe quase que uma organização “temática” para cada um dos bairros. Não há, dá para garantir, lugar melhor para quem gosta de bater perna por grandes cidades, com a vantagem de possuir uma rede de metrô e trens que leva literalmente a qualquer parte.
QUANDO IR
Os verões são bastante quentes em Tóquio, e os invernos podem ser rigorosos. O ápice da alta temporada é entre o fim de março e o início de abril, na primavera, quando desabrocham as flores das cerejeiras e as temperaturas são mais amenas. Boa época também é o outono.
COMO CHEGAR
Tóquio conta do dois aeroportos que recebem voos internacionais: Haneda, próximo à área central, e Narita, mais distante, localizado na prefeitura de Chiba, na área metropolitana. Não há voos diretos do Brasil para a cidade, mas, com uma conexão na Europa, pode-se embarcar por aqui em voos da KLM e da Air France em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. Nessas duas últimas cidades, há opções de passagens por companhias como Alitalia, Lufthansa, British Airways, Qatar e Emirates. Para ir de Narita ao centro de Tóquio, evite os táxis (que no Japão têm preços proibitivos) e embarque ou no trem expresso da Japan Rail que vai até a Tokyo Station ou no Limousine Bus (com a vantagem de ter linhas com paradas em diversos hotéis da cidade).
COMO CIRCULAR
Uma complexa rede de metrô, trens de superfície, monotrilhos e ônibus levam o passageiro a qualquer canto da gigantesca região metropolitana. Em Tóquio, o preço para se deslocar de metrô varia com o percurso e os bilhetes podem ser comprados em máquinas em inglês nas estações. Mas há ainda passes de 24, 48 e 72 horas.
Uma dificuldade é que, por serem administrados por empresas privadas distintas, os passes do metrô não incluem as linhas de trem de superfície. Entre elas está a fundamental Yamanote, linha circular que cobre os principais bairros da área central e se conectam a algumas estações de metrô. Uma solução para integrar trem e metrô é adquirir um cartão pré-pago Suica ou Pasmo, que cobrem os dois modais.
PASSEIOS
O seguinte percurso pelos bairros e distritos da área central de Tóquio pode ser feito numa combinação de metrô, trem e monotrilho. As estações têm sinalização em inglês, e há vários aplicativos para smartphone que ajudam o turista a não se desesperar com a quantidade de linhas do metrô. É muita coisa para ver e fazer, reserve alguns dias para a exploração.
MARUNOUCHI: JARDINS IMPERIAIS
No núcleo original da cidade, em Marunouchi, fica o Palácio Imperial, erguido numa área de 3,4 quilômetros quadrados, equivalente ao Central Park, onde ficava uma fortaleza xogum. Cercado por um grande fosso, o palácio só abre a visitantes duas vezes por ano – no resto, os súditos japoneses têm acesso ao jardim oriental que dá na Nijubashi, a “ponte dupla” de pedra com dois arcos refletidos na água. No entorno, os edifícios modernos abrigam os equipamentos administrativos federais. À vista estão os tijolos vermelhos da Tokyo Station, inspirada na neorrenascentista Estação Central de Amsterdã. De lá disparam trens-bala, os sempre pontuais shinkansen, para três das quatro ilhas principais do país.
GINZA: COMPRAS E SOFISTICAÇÃO
A leste do Palácio Imperial estão as avenidas largas de Ginza, antigo lugar de cunhagem de moedas de prata dos xoguns que se transformou em bairro sofisticado, com unidades da Shiseido, Chanel, Leica, o showroom da Sony e várias lojas de departamentos. Ali, as japonesas elegantes e bem maquiadas atravessam o cruzamento Yon-Chome, sob os painéis de LED gigantes instalados nas fachadas dos prédios. Às vezes, surge um grupo de mulheres de quimonos de seda floridos.
O tradicional mercado atacadista de peixes de Tsukiji, que era perto de Ginza, foi transferido em outubro de 2018 para o distrito de Toyosu, depois do canal Harumi, logo ali. As instalações são bem mais modernas e seguras, mas o esquema é o mesmo: é lá que donos de restaurantes e varejistas arrematam, ainda de madrugada, atuns gigantes, ovas de bacalhau e outros peixes e frutos do mar mais exóticos. É um dos melhores lugares no mundo para comer sushi e sashimi.
ODAIBA: MODERNIDADE KITSCH
Além da baía, e da pênsil Ponte do Arco-Íris, fica Odaiba, centro comercial moderno e algo kitsch. Vire criança na roda-gigante de 110 metros de altura ou diante do bonecão do robô Gundam em frente ao shopping Diver City; abstraia (ou não), o outlet VenusFort, em estilo romano, e a réplica da Estátua da Liberdade. Para chegar lá, pega-se o monotrilho.
AKIHABARA: PARAÍSO NERD
Mais ao norte da cidade fica Akihabara. Muvucado e colorido, o bairro concentra uma série de lojas de eletrônicos de todos os portes, além de imensas livrarias com vários andares inteiramente dedicados a mangás e animes. Por ali também ficam vários dos famosos cafés temáticos japoneses – como os Cat e Owl Cafes, pra quem não tem espaço pra pet em casa fazer cafuné em gatos e corujas.
UENO: PARQUE DE MUSEUS
No distrito de Ueno, no bairro Taito, está o Parque Ueno, com o zoológico (com direito a ursos panda) e vários museus: o National Museum of Nature and Science, o Tokyo National Museum, o Tokyo Metropolitan Art Museum, o Ueno Royal Museum, o National Museum of Western Art e o Shitamachi Museum. Nessa vizinhança tranquila, a atmosfera é outra. Quem conhece os filmes de Yasujiro Ozu sabe que, no Japão, pelo menos uma vez, se verá um trem passando e se ouvirá o grasnar de corvos.
ASAKUSA: TEMPLOS E TORRES
Perto, Asakusa abriga o principal templo da cidade, o Senso-ji, erguido depois que dois pescadores acharam, no rio Sumida, uma estátua da deusa budista da misericórdia, Kannon. O destino espiritual é antecedido de um portão (Kaminarimon, “do trovão”), que afunila a multidão numa estreita rua comercial, a Nakamise-dori. Tem todos os suvenires de que você precisa: hashis, ímãs de geladeira, camisetas, quimonos meio fajutos, darumás à espera do segundo olho, gatinhos da sorte e kokeshi dolls, as bonequinhas japonesas de madeira.
O templo, em si, fica entre um grande pagode de cinco andares e um santuário xintoísta, a religião original do Japão antes de o budismo indiano chegar por lá via China. No pátio há um queimador de incenso e uma regulamentar fonte de purificação, necessária para entrar no templo. Com uma moedinha de ¥ 100 dá também pra conferir sua fortuna nas omikuji – caixinhas de madeira com varetas de bambu numeradas, que correspondem a gavetas que guardam tirinhas de papel com sua sorte. Se der ruim, o certo é deixá-las por lá mesmo, amarradas num suporte especial ou, tradicionalmente, numa árvore.
Há uma grande logo ali. A Skytree, torre de 634 metros, foi inaugurada, em 2012, para dar mais potência às telecomunicações digitais, em substituição à Tokyo Tower, uma Eiffel vermelha (e maior) que segue firme no horizonte do sul da cidade. Aqui, no velho norte, a Skytree banca o posto de a mais alta do mundo do gênero, com dois observatórios, de onde, em dias limpos, pode-se ver, a sudoeste, o Monte Fuji. Ao lado, à beira do rio, outra construção chama a atenção: a sede da cervejaria Asahi, projetada por Philippe Starck em forma de copo de chope estilizado; anexo, uma estranha escultura com aparência de “chama” dourada.
+ A Civitatis vende ingresso para a Skytree
SHINJUKU: ARQUITETURA E BOEMIA
A oeste do Palácio Imperial, a linha circular de trens Yamanote interliga os bairros mais novos. Shinjuku, que abriga as impressionantes torres do governo metropolitano e outros edifícios modernos, é o lugar também da estação metro-ferroviária mais movimentada do mundo, com 3,5 milhões de passageiros por dia entrando, se amassando em várias composições e chegando à rua por alguma de suas mais de 200 saídas. É um labirinto, em parte subterrâneo, cheio de lojas e restaurantes. Perder-se um tanto é inevitável. Relaxe, portanto.
Nas saídas a leste fica o distrito red-light de Kabukicho, vibrante, saturado com as luzes de néon coloridas que nos acostumamos a associar à cidade. Acrescida do rumor permanente dos trens, dos telões gigantes e do formigueiro humano, a noite mergulha numa hipnótica atmosfera futurista de Blade Runner. Ali, a vocação boêmia disseminou os hotéis-cápsula, abastecendo também as lojas de conveniência com artigos como camisa branca, roupas de baixo e até gravata – pra quem perdeu o último trem depois de um saquê a mais. Pertinho fica Golden Gai, um emaranhado de ruazinhas e becos em que se amontoam dezenas de bares e izakayas, alguns só com um balcãozinho.
HARAJUKU: JUVENTUDE COSPLAY
De lá, o trem leva a Harajuku, epicentro da cultura cosplay – a do povo pintado e vestido como personagem de anime. É o bairro da moçada, que se exibe entre a entrada do sereno Parque Yoyogi, onde fica o santuário xintoísta Meiji, e a apinhada Takeshita-dori, ruazinha comercial. O menu inclui lojas como a Daiso, com artigos a ¥ 100, e a Bic Camera, de eletrônicos. No fim dela, abre-se a arborizada, chique, Avenida Omotesando.
SHIBUYA: CRUZAMENTO DE CINEMA
Sacolejando mais uma estação dentro do trem, chega-se a Shibuya, outro point-maior-do-mundo. Filmes como Encontros e Desencontros, Resident Evil: Afterlife, Velozes e Furiosos etc. já mostraram a multidão atravessar, em linha reta e na diagonal, as faixas do cruzamento-formigueiro líder em passadas diárias. Numa das esquinas, outro personagem de cinema: a estátua de Hachiko, o fiel cachorrinho akita que, todos os dias entre 1925 e 1935, ia à estação esperar o dono, que havia morrido, voltar do trabalho.
ROPPONGI: ARTE COM VISTA
Uma passagem de metrô na linha Hibiya (que pode ser acessada na Estação de Shinjuku, por exemplo) leva a Roppongi, onde foi erguido o complexo de lazer Roppongi Hills, com shoppings center, restaurantes e o Mori Art Museum, dedicado às artes moderna e contemporânea. Do observatório se vê, vizinha, a Tokyo Tower.
ARREDORES DE TÓQUIO
Pertinho da cidade há uma grande variedade de bons passeios. De metrô é possível chegar na Tokyo Disneyland, opção para quem viaja com crianças. Na vizinha Yokohama você encontrará um excelente parque aquático, com um enorme aquário, uma das melhores Chinatown do Japão e uma área portuária bastante agradável. Aproveite que está aqui para conhecer Kamakura e seu grande Buda. Para se aprofundar mais em história, não deixe de ir a Nikko, ao norte da capital, uma excursão que leva um dia inteiro, mesmo período que é necessário para fazer um bate-e-volta ao Monte Fuji.
ONDE FICAR
Como uma das principais cidades do mundo, a oferta de quartos aqui é farta. Há inúmeros hotéis de redes internacionais que possuem os serviços e estrutura de sempre, com staff fluente em inglês e preços razoáveis (para os padrões japoneses). Em Shinjuku, o luxo do Park Hyatt ganhou fama por ter sido locação do filme Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola. Caro demais? Mais próximo da estação, você se aperta no quarto do Ibis, mas ganha folga nas contas. Para os lado do Palácio Imperial, a três minutos da estação de metrô Akasaka-mitsuke, o Otani Tokyo conta um espetacular jardim japonês de 40 mil metros quadrados. Em Roppongi, a rede APA tem quartos ainda mais em conta. Albergues da juventude encontram-se entre as opções mais baratas, e os hotéis-cápsula são só para os desesperados – ou para quem quer viver a experiência.
ONDE COMER
Tóquio é a terra do sushi, que surgiu em volta de mercados como o hoje desativado Tsukiji. Aqui encontram-se as melhores casas especializadas no prato com preços normalmente dolorosos. Mas há opções viáveis, como o Sushizanmai Okunoin, da rede Kiyomura, tocada por um campeão de arremates de atum gigante no mercado de Toyosu. Tempurás de respeito se acham no centenário Kaminarimon Sansada, ao lado o portão que leva ao Templo Senso-ji. À noite, o destino é o animado Gonpachi, izakaya em Roppongi que inspirou Quentin Tarantino a criar o restaurante em que Uma Thurman arrasa com os Crazy 88’s no filme Kill Bill. Ainda por Roppongi, não deixe de comer shabu-shabu em outra casa tradicionalíssima, a Shabuzen.
Durante o dia, uma boa dica é entrar em uma loja de departamentos, como a Mitsukoshi ou a Takashimaya, e explorar seus andares dedicados à gastronomia. Neles você encontrará diversos pequenos e simpáticos restaurantes, especializados em diversas cozinhas. Não se acanhe também frente aos excelentes cafés locais, sempre servindo tortas e bolos muito melhores do que a média brasileira.
DOCUMENTOS
Para tirar o visto, brasileiros devem preencher o formulário próprio e apresentar a documentação, que inclui o cronograma de viagem e reserva da passagem. A validade é do visto é três meses para uma única entrada. O passaporte deve ser válido para o período de estadia.
DINHEIRO
A moeda oficial é o Iene.