Chiloé: como chegar, hotéis, restaurantes, passeios e mais

Por Almir de Freitas Atualizado em 29 abr 2021, 15h40 - Publicado em 18 nov 2019, 15h22

Entre as inúmeras lendas locais, conta-se que há muito tempo atrás Chiloé era uma porção de terra única, integrada ao continente sul-americano. Um dia, porém, Coicoi-vilu, divindade das águas na mitologia dos indígenas mapuche, surgiu na forma de uma serpente e ordenou que as águas do mar inundassem planícies, vales, colinas. Contra ela se insurgiu a cobra Tentén-vilu, divindade da terra e da fecundidade, e a longa guerra que se seguiu resultou na formação de dezenas de ilhas no Oceano Pacífico – uma Grande, separada do Chile, e outras menores ao redor, compondo um conjunto de incrível beleza natural.

Assim é Chiloé, arquipélago que se estende do sul da região dos lagos e ao norte da Patagônia. A quantidade de ilhas oscila de acordo com a maré, variando entre 35 e 40. Foi essa geografia acidentada que manteve Chiloé isolada do resto do Chile durante muito tempo, mantendo a força das tradições locais – daí a enorme riqueza de sua mitologia, em que figuram entidades famosas com o Trauco (criatura sem pés, sedutor mortal de donzelas) e aparições como o navio fantasma Caleuche, de velas negras, carregado de bruxos.

A geografia também explica as paisagens urbanas, formadas por pequenas cidades, em que se destacam as casas de madeira de alerce elevadas em relação ao solo, típicas do sul do Chile; dependendo do lugar e da vulnerabilidade em relação à maré, as construções em Chiloé se elevam em palafitas altas, sustentando as paredes coloridas, cobertas de tejuelas – pequenos retângulos de madeira que, encaixados, servem de impermeabilizante e adorno. A técnica é replicada na maioria das cerca de 70 igrejas de madeira seculares espalhadas pelo arquipélago – 16 delas declaradas patrimônio da Humanidade pela Unesco.

As coloridas palafitas de Chiloé (Chile Travel/Sernatur/Divulgação)

Em grande parte selvagem e rural, Chiloé guarda uma variedade invejável de espécies de aves (incluindo o emblemático pica-pau chileno, o tapaculo, o cisne de pescoço preto e até pinguins, que dão as caras entre setembro e fevereiro), o que a transformou num destino cobiçado para os adeptos do bird watching. Para os menos contemplativos, não faltam atividades na natureza. Há uma série de trilhas de todas as dificuldades, passeios de cavalo e de bicicleta, além, é claro, de muitas opções náuticas: caiaque e passeios de barco ou lancha.

O pica-pau chileno, o pássaro Tapaculo (Joel Rosenthal/Flickr)

QUANDO IR

A época ideal é o verão, entre dezembro e março, quando as temperaturas são mais elevadas e, principalmente, chove menos. As precipitações são comuns o ano todo, mas se intensificam no inverno.

COMO CHEGAR

Latam voa direto de São Paulo e Rio de Janeiro a Santiago, onde é preciso trocar de avião rumo ao aeroporto da comuna de Castro, na região centro-norte da Ilha Grande, ou para o aeroporto de Puerto Montt. De lá, uma hora de carro leva ao povoado de Pargua, onde se toma um ferry para atravessar o canal de Chacao e desembarcar no norte de Chiloé.

COMO CIRCULAR

Alugar um carro é uma boa opção para explorar as paisagens da Ilha Grande, mas será necessário recorrer a barcos para conhecer as menores – o melhor jeito de unir o útil ao agradável é contratar passeios nos hotéis (quando oferecidos) ou agências de turismo, que providenciam os deslocamentos. Entre as cidades, há linhas regulares de ônibus.

Passeio de barco para explorar o arquipélago de Chiloé, oferecido pelo hotel Tierra Chiloé (Tierra Chiloé/Divulgação)

PASSEIOS

Nas pequenas cidades de Chiloé, a paisagem combina a tranquilidade rural com as marcas históricas e geográficas. Há casas de palafita espalhadas nas ilhas, e um conjunto que virou cartão-postal é o do bairro de Gamboa, em Castro, onde inclusive se oferece hospedagem aos turistas. Outro fica na quase fantasma ilha de Mechuque, no pequeno arquipélago Chauques, lugar alcançado por barco desde a cidade de Dalcahue. Esta ilha serviu de cenário para a escritora Isabel Allende, no romance O Caderno de Maya.

As palafitas da Ilha de Mechuque (Tierra Chiloé/Reprodução)

Com cerca de 13 mil habitantes, Dalcahue guarda uma das principais estrelas entre as igrejas de madeira tombadas pela Unesco, a Tenaún – ou Nossa Senhora do Patrocínio. No interior, ela exibe o teto construído em forma de casco de barco invertido – solução que os carpinteiros chilotas do século 19, sem grandes conhecimentos de engenharia civil, mas experts na construção naval, encontraram. Na ilha de Achao fica a igreja mais antiga, a Santa Maria de Loreto, do século 17. Em Castro, rume para a São Francisco, roxa e amarela. Todas foram feitas sem pregos, apenas com tábuas encaixadas.

Igreja de Tenaún – ou Nossa Senhora do Patrocínio -, patrimônio mundial da Unesco, em Chiloé (Tierra Chiloé/Reprodução)

Entre as excursões à natureza, as opções incluem trilhas como a Duahatao-Chepu, ao norte do Parque Ahuenco, cujo percurso abrange pântano, floresta e, no final, praia. Opção semelhante, mas mais fácil, começa com um passeio de barco no rio Chepu, onde se avista uma floresta submersa – consequência do tsunami provocado por um grande terremoto em 1960. A trilha em si desemboca na praia Guabil, onde jaz uma embarcação enferrujada filipina, afundada pela própria companhia madeireira de olho no dinheiro do seguro. No verão, pinguins podem fazer parte do cenário.

Não muito longe, em Ancud, fica o Muelle de la Luz, uma passarela de madeira em espiral que se eleva à beira do penhasco, de onde o turista pode contemplar a imensidão azul do Pacífico. Ao sul, no Parque Tepuhueico, o Muelle de las Almas também faz sucesso no Instagram.

A vista impressionante do Muelle de las Almas, em Chiloé (Adam Clark/Tierra Chiloé/Reprodução)

A diversidade da fauna e da flora fica evidente nas trilhas pelo parque privado Bosquepiedra, entre o Parque Nacional Chiloé e o Ahuenco, e no Parque Tantauco, no extremo sul. Navegando entre as ilhas, é possível ver de perto os criadouros de salmão e moluscos – mexilhões e ostras – que sustentam a economia local.

O Parque Nacional Chiloé (Chile Travel/Reprodução)

Além da pesca, muitos habitantes de Chiloé dependem do comércio de artesanato – de lã, em especial –, coisa que pode ser conferida em feiras como a Feria Artesanal Dalcahue.

ONDE FICAR

Localizado na Península de Rillán, a meio caminho entre Castro e Dalcahue, o novinho Tierra Chiloé é o must da região. Sustentável, de arquitetura ousada inspirada nas palafitas, o hotel da rede Tierra foi finalizado em 2017 em uma colina à beira da baía Pullao, exibida em todos os janelões de seus 24 quartos confortáveis.

O luxuoso hotel Tierra Chiloé (Tierra Chiloé/Divulgação)

A vista se repete no restaurante, que serve pratos sofisticados baseados nos ingredientes locais. Há uma pequena trilha no seu entorno e um cais, onde um barco próprio, o Williche, leva os hóspedes em excursões incluídas no preço (duas de meio dia ou uma de dia inteiro por diária). Conta ainda com um spa com piscina de borda infinita.

Você pode explorar Chiloé a cavalo com os pacotes de excursão do hotel Tierra Chiloé (Tierra Chiloé/Divulgação)

Em Gamboa, na cidade de Castro, o Patio Palafito, o Palafito Waiwen e o Palafito Azul Apart Hotel, entre outros similares, oferecem, com preços e estilos diferentes, acomodações confortáveis em casas típicas da ilha. Já bangalôs e cabanas de madeira podem ser reservadas no Parque Natural Rio Bravo Lodge e nas Cabañas Trayen.

ONDE COMER

Quase inescapável, o curanto en hoyo, prato típico de Chiloé, pode ser ser saboreado em casas como o El Meson Chilote (Ancud), o Restaurante y Fogón Chilote “Playa” (Dalcahue) e o Nueva Galicia (Castro). De origem indígena, o prato leva ingredientes que incluem carnes de frango e de porco, linguiça, peixe, mariscos, batatas, cebolas, cenouras… um mix que, tradicionalmente, é cozido em uma fogueira ao ar livre, entre folhas gigantescas de nalca, arrumadas em pedras quentes assentadas em um buraco no chão.

Em Castro, bem avaliado é o Rucalaf Chiloé, que esbanja frutos do mar, pescados e carnes em seu cardápio. No Mercadito, todos os ingredientes são locais, com um menu que varia sazonalmente ao longo do ano. Em Dalcahue, famosas são as Cocinerias De Dalcahue, um galpão cheio de barraquinhas com comidas locais – empanadas, batatas, ceviche, frutos do mar, sopas,  além de curanto de panela.

DOCUMENTOS

Brasileiros não precisam de visto para permanecer até 90 dias no Chile. Na imigração, o passaporte não é necessário, apenas o RG (não vale carteira de motorista).

DINHEIRO

A moeda é o peso chileno

Por Almir de Freitas

Publicidade