Pousada do Café tem clima de roça a um pulo de Poços de Caldas
Município paulista de São Sebastião da Grama reserva uma pousada que é puro aconchego em meio a cafezais

Minha relação com café talvez seja a mesma que a de muitas pessoas: gosto dele coado, sem açúcar e não muito forte. Ainda que a onda dos cafés especiais, microlotes e blends tenha chegado para ficar, eu sabia muito pouco desse movimento até dias atrás, quando tive a chance não só de conhecer in loco o processo de produção de café, mas também passar a noite praticamente em meio aos cafezais.
O meu destino foi a Pousada do Café, que fica dentro da Fazenda Cachoeira da Grama, no município de São Sebastião da Grama, a um pulo da mineira Poços de Caldas. A fazenda foi fundada em 1890 e segue até hoje nas mãos da mesma família.
Com produção de cafés especiais e parte dos grãos vendidos para a Nespresso, o local mantém viva a tradição cafeeira do interior ao mesmo tempo que recebe hóspedes em busca de tranquilidade, contato com a natureza e simplicidade. Ainda que oficialmente faça parte de São Paulo, a fazenda fica a apenas 3 quilômetros da fronteira com Minas Gerais, de maneira que a cultura mineira é muito presente – na decoração, na culinária e até no sotaque.

Ao me hospedar na Pousada do Café, pude conhecer de perto não só a rotina da fazenda durante a colheita, que acontece de maio a agosto, como também aproveitar algo que eu nem sabia que precisava: silêncio, calmaria e uma profunda sensação de paz. Vindo de São Paulo, acostumada com o ritmo urbano, encontrar esse lugar tão reservado e sereno foi um alento. Li deitada em redes (não as sociais, ainda que o wi-fi seja muito bom), escutei a natureza e andei pelas trilhas dentro da fazenda, quase sempre vazias.

A pousada tem apenas seis chalés, que ocupam antigas casas de colonos e foram batizados com nomes de cafés: Bourbon Vermelho, Bourbon Amarelo, Icatú, Mundo Novo, Acaiá e Catuaí. Cada chalé tem seu estilo: alguns funcionam como suítes, outros são pequenos apartamentos, ideais para famílias e grupos. Há opções com fogão a lenha, e um deles atende bem pessoas com mobilidade reduzida, com rampas e banheiro adaptado. É o tipo de lugar que acolhe bem casais, grupos pequenos, famílias e até os ciclistas que costumam cruzar a região. A Pousada do Café não faz parte de nenhum circuito de charme ou design, mas encanta pela simplicidade e despojamento. Luxo, mesmo, é a calmaria.

Da varanda do meu chalé, a paisagem se abria para o jardim da pousada e, ao fundo, chamava atenção o imenso terreiro de concreto onde as cerejas de café, com casca e tudo colhidas dias antes, são deixadas para secar. Da minha varanda pude ver, ao longo do dia, um trator entrar no terreiro para cuidadosamente espalhar e revirar os grãos para uma secagem mais uniforme. Na sequência, em outra área da fazenda, entra em cena o despolpador mecânico, que retira a casca e separa as sementes, que são o ouro do café.

Ao lado do terreiro principal, também pude conhecer as estufas, ou terreiros suspensos, onde os grãos de café já parcialmente descascados ficam espalhados para a secagem. Guiada por especialistas da Nespresso, tive a oportunidade de ver, tocar e entender os grãos em diferentes fases do processo.

Embora o acesso à pousada seja tranquilo com carros pequenos, circular por outras áreas da fazenda, como os cafezais e trilhas, exige um 4×4 ou disposição para andar pelas estradas de terra, o que está longe de ser um problema. As trilhas são sinalizadas, com placas mostrando o caminho, e o trajeto leva a diferentes pontos da propriedade, incluindo áreas de cultivo, secagem e manejo dos grãos.

Durante a estadia, aproveitei para explorar alguns desses caminhos a pé. Passei por trechos de estrada de terra cercados por mata fechada, com árvores altas formando um túnel natural sobre minha cabeça. Seguindo a trilha, cheguei a um ponto com uma vista linda para os talhões de café: um cenário amplo, com as plantações desenhando curvas nos morros e as montanhas como pano de fundo.

Em outro caminho, atravessei literalmente o meio dos cafezais. Pude observar as plantas de perto, notar as cerejas em diferentes estágios de maturação e até colher algumas com a mão. Chegar ao mirante, depois dessa caminhada, foi como um presente: uma das vistas mais bonitas do lugar.

Um breve balanço: vi de perto o processo, acompanhei a seleção manual dos grãos e até provei a fruta do café em diferentes estágios de maturação – a gosminha interna do fruto, chamada mucilagem, tem um sabor adocicado.

O café da manhã é simples e caseiro: pães, frios, frutas, geleias, café passado na hora (claro) e, o destaque absoluto, o pão de queijo mineiro, que chega à mesa quentinho. À noite, um jantar leve também está incluso na estadia.

No almoço, foi aquela comida farta e com gostinho de casa de vó: carne, ovo frito, feijoada, mandioca, linguiça, salada e uma farofa de banana divina. As sobremesas foram o ponto alto. Tinha cocada, geleia de laranja, goiabada, pudim, abacaxi e, meu favorito, o doce de leite. Gostei tanto que comprei alguns potes para levar pra casa.

Alguns itens, como o doce de leite, o doce de abóbora e a cocada, são produtos de estabelecimentos da região e estão à venda na pousada. Lá, também estão a venda algumas cervejas artesanais da Cervejaria Gonçalves, de Poços, azeites da Fazenda Irarema, que está a 5 quilômetros da Cachoeira da Grama. A pousada vende ainda uma geleia artesanal de laranja murcote de produção própria, uma deliciosa opção de doce.

Além da estrutura e da paisagem, o clima acolhedor vem muito dos próprios donos da fazenda, Ana e Jorge Carvalho Dias, um casal simpático e presente, sempre disposto a conversar, dar dicas e contar mais sobre a história da propriedade, que está na família há gerações. Os cachorros que circulam livremente entre os chalés e a sede ajudam a reforçar a sensação de casa no campo, um ambiente familiar e tranquilo.
A região é bastante segura e silenciosa e, apesar da localização mais isolada, a fazenda é de fácil acesso para quem vem de carro pequeno. A proximidade com Poços de Caldas também é um ponto positivo: dá para encaixar a visita em um roteiro maior, combinando a calmaria do campo com um pouco da estrutura urbana da cidade.
À noite, a experiência se transforma. A temperatura cai, principalmente agora no inverno, que encaixa justamente com o período da colheita e é a melhor época para visitar a região. Por ser bem afastado de centros urbanos e no meio das montanhas, o céu é limpo e estrelado. Voltar para o chalé depois do jantar, ligar o aquecedor do quarto e me enrolar nos cobertores enquanto o frio aperta do lado de fora foi uma das minhas memórias favoritas da viagem. Urbana que sou, não pude deixar de perceber, pouco antes de cair no sono, que a noite era embalada apenas pelo som dos grilos e do vento entre as árvores.

As reservas na Pousada do Café podem ser feitas pelo Booking (links para reservas: Chalé 1, Chalé 2 e Chalés 3, 4 5 e 6). Diárias desde R$ 576 (para duas pessoas) até R$ 1356 (para seis pessoas), com café da manhã e jantar. O almoço, a R$ 90 por pessoa, é servido quando houver o mínimo de 10 pessoas. Aos sábados, café da manhã e feijoada também são servidos para quem não estiver hospedado – é preciso agendar.
Mapas das trilhas – três para serem feitas a pé e cinco de bicicleta – estão disponíveis na página do Instagram da pousada.
Para ver um roteiro de 48h em Poços de Caldas, clique aqui.
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