Como é a visita à casa onde Portinari cresceu, em Brodowski
A residência da família, na região metropolitana de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, virou museu e tem entrada gratuita
O pintor Candido Portinari, conhecido por obras como “Os Retirantes” e “O Lavrador de Café”, nasceu na pequena Brodowski, na região metropolitana de Ribeirão Preto. A casa em que ele cresceu com seus onze irmãos foi transformada em um museu em 1970, alguns anos após a morte do pintor.
A exposição exibe de forma muito completa a carreira e a vida em família do artista, que além de pintor também escrevia poesias. Rodeada por uma cidadezinha bucólica, a casa é muito charmosa e tem um belo jardim. Veja como é a visita ao Museu Casa de Portinari:
História
Filho de pais italianos que imigraram para o Brasil para trabalhar nas lavouras de café, Candido Portinari demonstrou talento na pintura desde muito jovem – aos 15 anos ele deixou a cidade de Brodowski para fazer aulas de pintura no Rio de Janeiro.
Mas ele sempre retornava à terra natal para temporadas, mesmo após ver o sucesso internacional de suas obras – na casa, é possível conhecer seu ateliê e as diversas ferramentas utilizadas por ele.
Além disso, uma das partes da exposição mostra a evolução da casa ao longo dos anos. A residência começou muito simples, com apenas quatro cômodos onde viviam os pais de Portinari e seus onze filhos. Mas, a partir do momento em que Portinari começou a ter prestígio, a situação da família foi melhorando, o que trouxe várias ampliações e melhorias para a residência.
Antes de ser tombado, o terreno possuía uma grande casa principal e mais duas casas anexas, onde moravam a avó e o tio do pintor, além de um belo jardim nos fundos.
Sala São Jorge e o Dragão
Essa história é muito bem contada ao longo da exposição, que tem recursos audiovisuais, interativos e itens do acervo de Portinari e sua família, como roupas, móveis e objetos. Ao ver a casa de frente, não dá para imaginar a quantidade de coisas que há lá dentro.
Quando cheguei à casa museu, um dos funcionários me recepcionou e contou sobre todos os espaços que estão livres para visitação, o que corresponde a maior parte dos aposentos. À esquerda, há uma lojinha com souvenires e livros.
Seguindo em frente, é onde começamos a entender sobre o cotidiano da família: já me deparei com dois murais originais pintados pelo artista diretamente na parede.
Ali, fica a saída para o jardim, que possibilita ao visitante seguir por diferentes caminhos. Eu optei por começar pela sala “São Jorge e o Dragão”, à esquerda. Ela tem esse nome por ostentar em uma de suas paredes um mural original belíssimo que ilustra a batalha mítica entre homem e criatura – foi o meu favorito dentre todos os que estão expostos pela casa.
Uma curiosidade é que alguns desses murais foram reposicionados. Pinturas que foram feitas pelos corredores foram realocadas para a sala principal, sem qualquer dano às obras.
Na sala São Jorge é onde acontecem exposições temporárias. Durante minha visita, estava acontecendo uma exposição com cartas escritas à mão por Portinari, cujos destinatários eram familiares, amigos, o que também inclui figuras ilustres, como os amigos de longa Mário de Andrade e Graciliano Ramos.
A casa principal
Dali, virando à esquerda, está a sala principal da Casa Portinari. Ali há mais alguns murais, junto a itens de mobília da família, como a mesa de jantar posta com louças originais.
A cozinha, que foi construída após uma das expansões da casa, é um dos cômodos mais interessantes. Ali há uma curiosa máquina de moer café que o pintor trouxe de presente para sua família de uma viagem à Itália – e o visitante pode moer o café na hora, com o auxílio de uma manivela. O aroma que fica no ar é uma delícia.
O café, inclusive, foi importantíssimo na história dos Portinari, já que foi o que garantiu o sustento da família e também a atividade central da economia de Brodowski. A vivência nas lavouras também inspirou o pintor em várias de suas obras, como a obra “Café”, que retrata os trabalhadores do campo.
Voltando à sala principal, dali é possível seguir por dois corredores com diversos recursos de interatividade, como totens digitais em que é possível brincar de jogo da memória com obras do artista e ver em mais detalhes uma linha do tempo sobre sua vida. O quarto de Portinari também está em uma dessas portas, com itens de seu acervo pessoal.
A Capela da Nonna
Depois, fiz a volta pelo jardim (e aproveitei para tirar fotos das flores, lindíssimas e coloridas, assim como a casa). Logo, cheguei em um dos lugares mais especiais do museu: a “Capela da Nonna”, que Portinari pintou em 1941. Sua avó, muito religiosa, estava em idade avançada e não conseguia mais ir até a Igreja.
Por conta disso, Portinari pintou dentro da própria casa uma capelinha para que a avó mantivesse a rotina de orações. Cada um dos santos pintados nas paredes foi inspirado em integrantes da família. Ali ao lado há um pequeno anexo, que é a casa onde o tio de Portinari, Pepe, morava.
Caminhos de Portinari
Para conhecer ainda melhor a história do pintor, a cidade presta várias homenagens e preserva o legado de seu mais prestigioso filho. Em Brodowski, há um roteiro a pé chamado de “Caminhos de Portinari”, em que é possível caminhar por onde o artista circulava no seu dia a dia. Em frente à casa está a Praça Candido Portinari, onde fica uma Capela de Santo Antônio que guarda pinturas originais do artista.
Seguindo pela rua Floriano Peixoto, chega-se até o Coreto de Brodowski, que era um centro da vida social na cidade. Logo em frente, fica a antiga estação ferroviária, que é de onde Portinari embarcou rumo ao começo de sua carreira, no Rio de Janeiro. Por último, avançando duas quadras para a esquerda, chega-se ao Bebedouro Público de Animais, que inspirou um dos poemas do artista.
Outro ponto que não está no roteiro e que pode ser visitado é a Exposição Giardino Portinari, que é um museu ao ar livre com algumas das obras mais icônicas do artista. Um pouco mais afastado dali, em Batatais (13 km adiante, seguindo pela BR-265), fica a Matriz de Batatais, outra igreja com pinturas originais.
Serviço
O Museu Casa de Portinari fica na Praça Candido Portinari, 298. Aberto de terça a domingo das 9h às 18h (na quarta fecha às 20h).
A entrada é gratuita, mas grupos maiores de doze pessoas precisam fazer o agendamento pelo telefone (16) 3664-4284.
Brodowski fica a 330 km de São Paulo e a 23 km de Ribeirão Preto. O principal acesso é feito pela BR-265, também chamada de Rodovia Candido Portinari.