Portugal profundo: um passeio pelas salinas de Rio Maior
Aqui a extração tradicional do sal é uma ciência passada de geração em geração e um passatempo delicioso de acompanhar
Portugal é cheio de segredinhos bem guardados. Descobri-los é das melhores e mais enriquecedoras experiências por aqui. É o mestre cuteleiro à moda antiga no Alentejo, o velho queijeiro que ordenha as ovelhas e produz maravilhas da mesma maneira há décadas, a quinta pequenina que produz vinhos e geleias dos deuses… Foi em busca de mais uma história dessas para contar que fui parar nas salinas de Rio Maior.
Para começar, uma curiosidade: elas são as únicas salinas portuguesas longe do mar. Mais precisamente: a 30 quilômetros de distância da costa.
O fenômeno acontece pela proximidade da Serra dos Candeeiros, onde há uma imensa jazida de sal gema. Ali, características geográficas permitem que as águas da chuva penetrem na rocha criando cursos de água subterrâneos. O contato com o sal dá origem a uma água que é impressionantemente sete vezes mais salgada do que a água do mar. O resto é trabalho do homem.
Depois de bombeada para poços, a água vai para piscinas rasinhas onde, sob a ação do calor e do vento, evapora naturalmente dentro de uma semana, em média. O manejo é pura sapiência. No final, grandes pirâmides de sal ficam secando antes de serem embalados para a venda. Assim, sem nenhum aditivo químico. Iodo? Nem pensar.
Em volta das piscinas, existe uma vilinha de casas de madeira e ruas de pedra. As casas, antigos armazéns de sal, são hoje lojinhas que vendem sal, claro, mas também peças de cerâmica e artesanato em geral. Há cafés gostosos. E uma bifana (sanduíche de carne de porco grelhada) que fica simplesmente imperdível acompanhada de uma cervejinha gelada. Pronto, só assim o programa está completo.
Duas casinhas são passagem obrigatórias: a Picota, onde a Dona Maria e o Sr. Ramiro vendem pães caseiros deliciosos (o de alfarroba é de matar) e servem quitutes quentinhos providenciais para um lanchinho à tarde; e a Loja do Sal, com várias versões gourmet do produto, muitas inclusive em receitas desenvolvidas em parceria com grandes chefs (aguarde o próximo post!).
As salinas, cujos documentos mais antigos remontam ao ano de 1.177, podem ser visitadas o ano todo, mas a produção de sal concentra-se entre os meses de abril e outubro – as chuvas do inverno impedem a evaporação natural da água. É um passeio gostoso para fazer em família pelo centro do país, especialmente para quem está por Fátima, Santarém, Alcobaça. Elas ficam a 3 quilômetros da cidade de Rio Maior e a cerca de 75 quilômetros de Lisboa.
Além do sal tradicional, vale levar na mala vários potinhos de flor de sal com temperos diversos (tem até de baunilha!), chocolate negro com cristaizinhos de sal e o famoso queijinho de sal, uma curiosa peça de sal cozida em forma de queijo que, raspada, libera um sal ultra fino e delicioso.