Imagem Blog Mochila Pride A jornalista Ludmilla Balduino leva na mochila uma vontade de percorrer o mundo ocupando as ruas, conhecendo o diferente, conversando com as pessoas e trocando boas ideias
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Mochilão pelo Nordeste: tudo que você precisa saber sobre transporte

Por Ludmilla Balduino
Atualizado em 27 fev 2017, 15h36 - Publicado em 24 jul 2014, 01h14

No ano passado, fiz um mochilão pelo Nordeste na época de baixa temporada (entre outubro e novembro) e foi um perrengue total maravilhoso. Eu e minhas mochilas viajamos sozinhas de Fortaleza (CE), até Salvador (BA), passando por todas as capitais nordestinas no caminho e conhecendo praias que valeram totalmente cada músculo dos meus ombros.

Cerca de 90% da minha viagem foi feita apenas com transporte público. Quer dizer, quando tinha transporte público. E o primeiro post desta que promete ser uma série sobre MOCHILÃO NO NORDESTE é sobre como se deslocar:

Entre as cidades menores do litoral nordestino, não há ônibus o tempo todo, e sim muito transporte alternativo

Entre as capitais, há ônibus sim. E é bem fácil encontrar ônibus (tem até de linha, baratinhos) que levam para as cidadezinhas menores. Vale a pena conhecer as capitais, mas é nessas vilazinhas que ficam os tesouros do Nordeste: as praias mais lindas do Brasil.

O problema, meu querido mochileiro, é sair dessas cidades pequenas. Algumas não têm rodoviária. Outras precisam de um esquema maluco para conseguir transportes. Vai vendo:

De Canoa Quebrada (CE) para Natal (RN)

Em Canoa Quebrada, por exemplo, eu tive de confiar. Depois de perguntar aqui e acolá, descobri que o único jeito de sair da cidade é comprando uma passagem totalmente falsificável no escritório de uma agência meio suspeita.

Paguei em dinheiro (R$ 80) e recebi um pedaço de papel que garantia a minha passagem para Natal (RN). Detalhe: me avisaram que o ônibus só passa por ali quando alguém compra passagem no dia anterior. Assim, o motorista é avisado de que precisa buscar passageiros na vila e a empresa não perde dinheiro desviando o veículo do caminho (o ônibus sai de Fortaleza e poderia seguir em quase linha reta pela BR 304. Quando não tem passageiro, ele não entra na estrada vicinal e passa direto).

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A Duna do Pôr do Sol, em Canoa Quebrada: fácil de chegar, difícil de ir embora (foto: Ludmilla Balduino)

A Duna do Pôr do Sol, em Canoa Quebrada: fácil de chegar, difícil de ir embora (foto: Ludmilla Balduino)

No dia seguinte, acordei cedinho (prepare-se para sempre acordar antes do café da manhã nos dias de deslocamento), me despedi da bela Canoa Quebrada, peguei uma van cheia de adolescentes que tinham forrozado até o sol raiar e cheguei à tosquíssima rodoviária de Aracati (Canoa é um distrito dessa cidade). Alguns bêbados e dois viajantes faziam hora por ali, os quiosques estavam fechados, não havia nenhum mochileiro ao alcance da minha vista e… O ônibus chegou com uns 10 minutos de atraso. Ufa!

No fim deu tudo certo: fui ouvindo música e lendo no caminho, cheguei na rodoviária de Natal sã e salva, peguei uma van (pasmem: van de linha!) com destino a outro lugarejo fácil de chegar e difícil de sair: a Praia de Pipa.

Não, pera. Deu quase certo. Mas o que aconteceu na viagem foge um pouco ao tema. Prometo que conto no próximo post.

Pirocópteros gigantes de energia eólica na beira da estrada sinalizam: você está saindo de Canoa Quebrada (foto: Ludmilla Balduino)

Pirocópteros gigantes de energia eólica na beira da estrada sinalizam: você está saindo de Canoa Quebrada (foto: Ludmilla Balduino)

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Da Praia da Pipa (RN) para João Pessoa (PB)

Pipa fica no finalzinho do município de Tibau do Sul. A dona do hostel (que é muito bacana, por sinal) não tinha muita ideia de como sair de lá pegando transporte público. Segundo ela (e o resto da cidade, porque saí perguntando para todo mundo), era preciso pegar a van que passa a cada 10 minutos (isso é verdade) e ir até o ponto final – um restaurante na beira da rodovia. Se o restaurante estiver aberto, os garçons (!!!) podem informar se tem ônibus vindo ou não. Se o restaurante estiver fechado, a indicação era ficar na beira da rodovia e acenar para os ônibus que passassem com o letreiro para João Pessoa (PB): o meu próximo destino.

Formações rochosas malucas na Praia de Pipa (foto: Ludmilla Balduino)

Formações rochosas malucas na Praia de Pipa (foto: Ludmilla Balduino)

Quando cheguei na beira da rodovia, haviam vários restaurantes. O primeiro que vi estava fechado. Atravessei uma passarela para chegar ao outro lado da rodovia, já que os ônibus que iam para João Pessoa passavam do outro lado. Ali, sim, tinha um restaurante aberto. E tinha até um balcão de uma companhia de ônibus. Só que o balcão estava meio abandonado. E o garçom, meio mal educado, me falou para eu sentar num ponto de ônibus que ficava a uns 500 metros dali e acenar para os veículos que passassem com destino a João Pessoa.

Depois de esperar cerca de meia hora, surgiu um ônibus. Como não dava para ler o letreiro, acenei. O motorista parou e me disse que só ia até Campina Grande. Dispensei, ele foi-se embora e eu fiquei lá, esperando.

De repente, uma cena bizarra: um carro aparece do nada dando marcha á ré EM PLENA BR-101. O motorista para na minha frente e pergunta:

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“Tá indo pra onde, moça?”

Tinha uma mulher com uma menininha no banco de trás. Como eu já sabia que rola um esquema de transporte ilegal por aquelas bandas, saquei logo que ele estava me oferecendo uma carona (e que a mulher e a menina eram passageiras).

Desfilei com meu mochilão nessa passarela e passei bons momentos sentada no ponto de ônibus da esquerda (foto: Google Street View)

Desfilei com meu mochilão nessa passarela e passei bons momentos sentada no ponto de ônibus da esquerda (foto: Google Street View)

Caronas (mediante pagamento, claro) são supercomuns. Os preços são menores do que os praticados pelas empresas de ônibus, mas a garantia são eles: pessoas totalmente desconhecidas, que viajam muito pelas estradas nordestinas e aproveitam para fazer uma renda extra no caminho.

Apesar de já ter ouvido algumas histórias de sucesso sobre as caronas alternativas, recusei e esperei pelo ônibus. Ele apareceu! Depois de umas loongas horas, estava eu sã e salva em João Pessoa. E ainda deu tempo de almoçar na capital da Paraíba e curtir uma praia.

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De Porto da Rua (AL) (que não tem porto, nem rua, nem ponte) para Maragogi (AL)

O terceiro perrengue de transporte da minha viagem foi em Porto da Rua, em Alagoas. A vila é uma das tantas simples de São Miguel dos Milagres, ao sul de Maragogi (ali estão as praias mais lindas que visitei).

São Miguel dos Milagres (AL) é isso tudo mesmo (foto: Ludmilla Balduino)

São Miguel dos Milagres (AL) é isso tudo mesmo (foto: Ludmilla Balduino)

Eu cheguei de lá de carro. Só que a minha carona voltou para Recife (PE), e eu fiquei mais uns dias. Para ir embora, o dono da pousada (não tinha hostel :p) me colocou em contato com um mototáxi (eles ainda existem por lá!). Combinamos o preço, o horário, e o motoqueiro me buscou na pousada.

Foi a primeira vez que encarei uma estrada de moto. Passamos por casas de pau a pique e muita pobreza. Incrível como uma região tão bonita seja totalmente carente de tudo. Pelo menos o turismo predatório (leia o próximo texto, abaixo) não chegou por lá. Aliás, se chegar agora, será pior. Nem saneamento básico aquelas vilas têm. Grande parte do esgoto é depositado nos rios, onde (ainda) vivem peixes-bois.

Pegamos uma balsa para cruzar o rio – uma embarcação minúscula para pedestres e motos. Deu o maior medo de aquilo afundar! Mas a balsa não afundou e continuamos pelas estradinhas até Maragogi.

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A minibalsa e a motoca

A minibalsa e a motoca

De Maragogi (AL) para Porto de Galinhas (PE)

Depois de Maragogi, meu próximo destino seria Porto de Galinhas – um desafio enorme, já que praticamente não existe transporte público entre cidades pequenas. Entre vilas de estados diferentes, então… Pode esquecer a possibilidade.

A água transparente do mar de Maragogi (foto: Ludmilla Balduino)

A água transparente do mar de Maragogi (foto: Ludmilla Balduino)

A minha sorte é que estava quase chegando a hora do check-out e ainda estava sem saber como fazer para dar no pé de “Mara”. Estava a caminho do hotel quando vi uma fileira de uns 1o táxis estacionados na rua, com adesivos de “táxi de Ipojuca” (o nome oficial de Porto de Galinhas). Saí perguntando se eles teriam uma vaga para me levar até lá. E não é que tinha um táxi com um banco dando sopa?

É comum ver táxis e microônibus transportando hordas de turistas de Ipojuca a Maragogi, só para povoar e destruir visitar as galés (os recifes que formam piscinas naturais com água cristalina e mil peixinhos) por um dia, num bate-e-volta. O motorista de um destes táxis (o carro era tão grande que parecia uma van) me pediu para esperar, que ele ia conversar com o grupo dele. Os turistas concordaram e lá fomos nós!

Voltei pro hotel, tomei um banho rápido e parti para Ipojuca! No fim, o taxista me cobrou R$ 70 pelo “passeio”.

Os recifes lindões de Porto de Galinhas (foto: Ludmilla Balduino)

Os recifes lindões de Porto de Galinhas (foto: Ludmilla Balduino)

Extra: se você quer chegar em Porto de Galinhas partindo de Recife, a dica é pegar um ônibus que te deixe na rodovia, bem no trevo para a entrada em Ipojuca. É só pedir para o motorista parar no trevo de Ipojuca. Ali, sempre há uns táxis que já estão esperando por passageiros. É só embarcar em um deles e seguir para a vila.

Os táxis estão proibidos de trafegar nas ruas principais de Porto de Galinhas (e quando são liberados, fazem corpo mole). Então, prepare-se para andar pelas vielas no meio da multidão (independente da época do ano), com mochila nas costas, buscando a sua hospedagem.

Tem mais?

Tem sim! As próximas dicas serão publicadas nos próximos posts. Sim, esse mochilão ~arretado~ me rendeu muita experiência e quero compartilhá-la com vocês. 😉

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