Botucatu sem chabu: um guia do refúgio romântico-radical (tem orgânicos, remo no Tietê…)
Quem é paulista e se interessa pelo riscado radical sabe que, quando se pensa em ecoturismo no estado, a associação é implacável como o Chuck Norris: Brotas e Socorro comandam.
Botucatu, até então, era lembrada como cidade universitária, terra do Felipe Massa… Até alguns amigos comentarem sobre a profusão de atividades que turbinam a adrenalina e a cacetada de cachoeiras, motivo pelo qual a Viagem e Turismo até deu uma matéria no ano passado. O jornalista Fellipe Abreu, que esteve lá para apurar e fotografar, me ajuda com algumas das dicas abaixo.
Pra que está a fim de descansar a mente (quiçá a dois) ou acelerar os batimentos com o ecoturismo, é um destino legal pra ir num fim de semana, tipo de sexta à noite a domingo, embora o ideal seja investir uns três dias, visto que não é tão próximo da capital, por exemplo.
Como chegar a Botucatu
Mora na Pauliceia? Rodarás 225 quilômetros pelas rodovias Castello Branco e SP-209 (Professor João Hipólito Martins). Calcule o gasto de combustível para ter uma estimativa do que vem. Certo é que, assim como na viagem a Olímpia, aporrinha o pedágio de R$ 86,40 somando ida e volta.
De repente é melhor pegar um ônibus no Terminal Barra Funda: a Vale do Tietê cobra R$ 61,80 na ida e R$ 59 na volta. Tem também a Rápido Fénix.
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As cachoeiras de Botucatu
Pra quem só quer ficar na maciota (sobretudo quem vai em casal), sem se enfiar em trilha ou voo de paraglider, o lance é pasmar pelas 30 cachoeiras pra gente se esbaldar.
Uma das mais gostosas é a Da Marta, bem na região central da cidade. Ou melhor, a Marta é um combo de duas quedas. Tem de ir de carro, deixá-lo nas imediações e andar mais uns 12 minutos pelo mato.
Aí é ficar esperto com os degraus de madeira: em alguns trechos, estão soltos como os dentes do genial Tião Macalé. Logo vem a chamada Da Marta I, detentora de uma queda tem 48 metros. É curioso como a mata que a circunda é bem fechada, e o sol só a penetra geralmente entre 11 da manhã e 2 da tarde, logo prefira visitá-la nesse período do dia.
Erma que só é a Marta II. A rota que leva até ela é uma descida chata pra c*#§@… Um barranco que exige que a gente se agarre às raízes e às pedras para dar conta do declive. Tens vertigem nas alturas? Dificuldade de locomoção? Esqueça a Marta II. Os locais costumam recomendar que você vá sozinho apenas até a da Marta I e contrate um guia para o segundo trecho. Tem quem combine os serviços dele com um rapel na Cachoeira da Pavuna, 50 metros de descida, ou na cachoeira Canela III, de 40 metros.
Está com apenas um dia disponível? A boa é pegar a caminhada a partir da Marta I, passando pela Marta II e pela Canela I, II e III.
Ao contrário da Marta, que é mais vaziona, a aclamada cachoeira Do Véu de Noiva é crowdiada, é bom dizer.
Esportes radicais em meio à natureza de Botucatu (remando no Tietê)
Pessoas esbaforidas vão extravasar com diferentes práticas. De cenário, a Cuesta de Botucatu, que marca o ponto de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. Cuesta? Trata-se de uma formação geológica que tem um relevo escarpado de um lado e um suave declive do outro, o que forma uma espécie de degraus, conhecidos como socalcos.
Salta a vista nesse palco também ao Mirante da Pedra do Índio, onde descortina-se a vista mais bonita do lugar. Ali se costuma fazer escalada na subida e rapel na descida. É legal ir com um guia do povo da agência Eco Cuesta, que faz todo tipo de passeio por lá. Para atingir o cume, o séquito trekkero segue por 10 quilômetros saindo da Pedra do Índio. Quem está fora de forma também tem vez: é só estacionar o carro perto da base das Três Pedras e fazer a escalaminhada até o topo, a 1 200 metros.
Não quer caminhar? Botucatu vem investindo em modalidades sobre rodas: cicloturismo e mountain bike; passeios em motos, caminhonetes 4×4 e em quadriciclos alugados. Sem falar que dá pra tripular um carro em um rally.
E tem mais: cavalgadas, canionismo, voos de paraglider, asa-delta e balão que decolam do Morro da Indiana e estripulias náuticas como o kitesurf, rolês extremos com skate e scooter elétricos. Um barato maior para o paulistano, que está acostumado ao Rio Tietê podre, é apreciar o melhor pôr do sol de Botucatu num passeio de caiaque numa área represada e límpida do Rio Tietê.
Outro sol poente imperdível é no Rio Bonito, com uma brisa que comunga com a etimologia da cidade: Botucatu significa bons ares (vem tupi-guarani ybytu-katu).
Aqui você acha todos os contatos dos receptivos para curtir esses rolês.
Skate, jogos de tabuleiro e outras diversões botucatuenses
Dá pra andar em skates elétricos alugados (R$ 20 meia-hora) no bairro Jardim Tropical, coisa do Rodrigo Jow, que também tem uma pista indoor, o Jows Skate Park. Mais eletrizantes são os passeios de quadriciclo. Dá para pilotar ou ir na garupa. Nada de asfalto: é chão virgem, grama, lama e cascalho até o cume da Pedra do Índio com aquela da vista das Três Pedras, com término na Serra do Calvário.
Quem vai na contramão da tecnologia, ou simplesmente não tira do coração a analogia, pode participar ou tentar encarar os torneios mensais de jogo de tabuleiro (tem até de zumbi) na Casa da Juventude, na Vila Jaú.
Vale conhecer o Museu do Café (Rua José Barbosa de Barros, 1780, 14/3811-7240; grátis), que relembra a atividade áurea paulista em uma antiga fazenda produtora, a Lageado, hoje sede da Unesp.
Botucatu tem um bairro hipster, Demétria
O bairro Demétria é uma região alternativa e mais charmosa do que o Centro, que está a 10 quilômetros.
É um reduto da agricultura biodinâmica: ali se produz frutas, legumes e laticínios sem agrotóxico nem fertilizante químico. Rola uma feira de produtos orgânicos toda terça pela manhã, e também resiste, dentro do Sítio Bahia, a Bioloja da Demétria, onde se compra chocolate, pão, sorvete etc., tudo lapidado sem arriscar o futuro do planeta.
Lá tem inclusive uns bons lugares para rangar, que você confere no tópico a seguir.
Onde comer e agitar em Botucatu
Depois do trekking até as Três Pedras, prove à vontade, por R$ 27, a comida caseira da Dona Neuza no restaurante Cantinho da Figueira (Estrada das Três Pedras, 14/999612-0150), que funciona normalmente no fim de semana, mas que pede que você ligue antes durante a semana.
Na meiuca da cidade tem restaurante vegetariano, o Irië (Rua General Teles, 1523, 14/3361-4688), que é por quilo ou, pra quem quer comer à vontade, R$ 24,90. Aos sábados, o Tempero Mineiro (Avenida Camilo Mazoni, 378, 14/3813-6282) serve uma feijoada da boa, a R$ 20 por pessoa e à vontade, que faz boa tabelinha com o suco de limão com couve. Tem ainda o Mandacaru (Rua Tenente João Francisco, 412, 14/3882-2073) é um self-service com custo/benefício, que cativou o repórter Fellipe Abreu com seu doce de leite com batata-doce.
No charmoso e natureba bairro Demétria, os mantimentos se concentram na Rodovia Gastão Dal Farra. Negócio firmeza é se jogar no joelho de porco (R$ 90, para 4 pessoas) e outras especialidades alemãs da Cervejaria Empório Stammtisch, os petiscos e as carnes do Celeiro, com música ao vivo e que vai do jazz ao rockabilly. e a engajada Pizza Bel (Km 4, 3815-1707), a mais saborosa da cidade e que bota ingredientes orgânicos nas receitas.
Onde ficar em Botucatu
Mesmo com tantos pais de alunos da Unesp que vivem precisando de um pouso, a hotelaria deixa um pouco a desejar.
Quem não faz questão de conforto paga a partir de R$ 45 no Hostel Cuesta. Melhores e mais bem localizados são o Primar Plaza, com diárias na casa dos R$ 200; o Hotel Botucatu, na faixa dos R$ 100; e o Chaillot Plaza, com diárias desde R$ 165.
Quem quer se isolar em meio aos orgânicos do Demétria encontra a simples e aconchegante Pousada Somé (Rodovia Gastão Dal Farra, km 4, 14/3882-0008; diárias desde R$ 80).