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As redes sociais e as armadilhas do consumismo romântico

Nem sempre jogar tudo para o alto e cair na estrada é uma boa ideia

Por Diego Macedo
11 mar 2019, 00h42

Carnaval passou e, ao contrário de todos os seus amigos que estavam viajando e caindo na folia, apenas você estava em casa tendo que se contentar com Netflix e pipoca.

Ache o erro nesta frase.

Bom, existem pelo menos dois, você não foi o único ser humano do planeta que não viajou neste carnaval e nem todos os seus amigos caíram na folia, por mais difícil que possa parecer depois de cinco minutos de Instagram, entre um episódio e outro da maratona da série da vez. Isso vale também, claro, para aquele feriadão prolongado ou suas férias.

Mas é para isso mesmo que serve o Instagram, não é mesmo?

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No Facebook tretamos, no Twitter somos críticos e politizados, no Linkedin profissionais impecáveis e no Instagram compartilhamos a vida perfeita que levamos, oras. Claro que existem os lados bons das redes sociais, inclusive agradeço por bem provavelmente você ter chegado até este texto por alguma delas, mas vamos deixar combinado que aqui o drama está liberado.

Para viajar precisamos de dinheiro e, basicamente, existem duas formas de ter aquela grana sobrando: ganhar mais ou consumir menos. Como ganhar mais é algo que não está apenas em nossas mãos, precisamos nos controlar e consumir menos, já falamos sobre isso aqui no blog.

Ótimo, vou me livrar de alguns luxos, afinal de contas luxos geram novas necessidades, que geram novas obrigações, que geram novos custos e te fazem gastar ainda mais dinheiro e tempo. Ufa, me sinto até mais leve por estar levando uma vida acumulando experiências e não bens materiais.

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Só que a vida prega suas peças e continuamos presos, se não ao tradicional consumismo dos bens materiais, ao sedutor consumismo romântico, aquele que faz você se sentir mal por não estar curtindo sua vida com viagens incríveis, internacionais por favor, como aquelas que vemos a cada scroll no Insta!

Será que é só você mesmo que está ai de bobeira agora? (Pixabay/Reprodução)

Vender o seu carro, comprar menos roupas, comer menos fora de casa e economizar cada centavo possível em busca de uma vida com menos apego material e mais experiências não te fará mais feliz se você for para o outro extremo. Aliás, extremos nunca são bons, então se você cair na armadilha de que a felicidade é medida em likes e check-ins, algo está dando errado.

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Escuto muito sobre utopias de se ganhar o primeiro milhão até os 30 anos, viver de renda e partir atrás do verdadeiro sonho das vidas que é conhecer o mundo. É possível? Claro, depende do quão privilegiado você é. Recalque? Talvez, já trintei e estou bem longe disso.

Exemplos não faltam na grande rede, jovens descolados e casais apaixonados que largaram tudo na vida em busca da felicidade e do prazer de cair na estrada estão aí arrancando nossos suspiros e nos fazendo sonhar com nosso lugar na fila do avião.

Mas na realidade, é como o tal do jovem empreendedor que largou tudo para ficar rico com sua ideia inovadora. Eles existem, usam roupas iguais todos os dias para não cansar o cérebro pela manhã, mas, de fato, poucos são os Marks Zuckerbergs da vida real.

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A realidade mais comum é a de jovens recém-formados, que aceitam empregos em grandes empresas dos sonhos e passam bem mais horas no escritório do que aquelas que de fato recebem para trabalhar. Chegam aos 30 anos com muitos boletos para pagar e com a sensação de que a vida não vale a pena sem férias caras no exterior.

Como disse Yuval Harari no seu livro Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, não há nada de natural ou óbvio no desejo de se gastar pequenas fortunas em viagens. “A elite do Egito antigo gastou sua fortuna construindo pirâmides e mumificando seus cadáveres, mas quase ninguém pensou em ir fazer compras na Babilônia ou esquiar na Fenícia.”

Hoje fazemos isso pois realmente acreditamos neste consumismo romântico, que apesar de se vestir de boa gente é tão nocivo quanto aquele financiamento de veículos em 60 meses com as taxas mais atrativas do mercado. Como finaliza Yuval Harari, “não é preciso muito para satisfazer nossas necessidades biológicas. Depois que tais necessidades são satisfeitas, mais dinheiro pode ser gasto na construção de pirâmides”, ou em lagar tudo por aí para cair no mundo.

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Assim como a humanidade, essas “pirâmides” evoluem e mudam de tempos em tempos, mas no final do dia, a obsessão por qualquer coisa pode ser danosa para você, inclusive a fixação por viver nos muitos pequenos paraísos que temos espalhados pelo globo.

Este texto é uma autorreflexão na minha luta diária na busca por um equilíbrio que não me tire de uma prisão para me colocar em outra. Mas não se engane, assim como você, amo viajar e acredito que desta forma nos tornamos pessoas melhores.

 

Mais histórias e fotos no Instagram: @dms.macedo

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