Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Uma viagem (com emoção) ao Fish River Canyon, o segundo maior cânion do mundo, na Namíbia

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h09 - Publicado em 28 mar 2016, 18h19

Qual foi a última vez que você estremeceu diante de uma paisagem? A minha foi no remotíssimo sul da Namíbia, em meio ao deserto. O Fish River Canyon é uma das grandes maravilhas da África – literalmente. Com 161 quilômetros de extensão, 27 quilômetros de largura nos trechos mais amplos, e uma profundidade que chega a alcançar 550 metros, a colossal rachadura é a segunda maior do gênero, depois do Grand Canyon, nos Estados Unidos. Imensidão. Silêncio. As nuvens projetando sombras mutantes nas reentrâncias do cânion. O deserto ao redor. Não cabe em imagem alguma.

 

O tamanho já seria suficiente para causar impacto e fazer o ser humano se sentir insignificante. Mas o calor de mais de 45 graus e a absoluta solidão cutucam fundo a nossa onipotência. Por essas e outras, tiro o meu chapéu aos destemidos capazes de embarcar na caminhada de cinco dias pelas entranhas do cânion (considerada “extrema”). Permitida apenas de maio a setembro, quando as temperaturas são menos tórridas, a aventura envolve uma descida vertiginosa pela parede, uma subida dificílima e (principalmente) um teste de resistência absurdo para sobreviver a longas caminhadas num lugar tão quente e árido.

O começo da trilha: para os fortes

O começo da trilha: para os fortes

Mas você não precisa ser uma pessoa-camelo para viver o lugar intensamente. Basta ir de carro até o mirante principal para ter uma vista panorâmica. E depois dar uma chegadinha no lugar onde a trilha “extrema” começa. Entre uma coisa e outra, você pode andar pela beira do cânion observando paisagens alucinantes — se você acha que é pouca coisa, experimente caminhar mais de quinze minutos sob um calor de mais de 45 graus centígrados. Fora isso, há uma região onde supostamente só se deve ir com um 4X4. Meio sem querer, fomos até lá com o nosso carrinho mequetrefe e prometo pra você que não é nada demais (a estrada é mais pedregosa, apenas).

 

Nos últimos posts sobre a África, tenho falado em “lidar com o desconhecido”, “enfrentar medos” e coisas do tipo. Um dos momentos mais tensos da viagem, para mim, foi chegar ao Fish River Canyon. O mais surreal é que, no fim das contas, é simples. O grande problema foi não ter sabido disso antes.

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Pouquíssima gente viaja para a Namíbia. Pouquíssima gente HABITA a Namíbia. Consequentemente, é difícil encontrar informações detalhadas na internet. Portanto, ao cruzar a fronteira, vindo da África do Sul, eu achava que daria para chegar até a boca do cânion com o meu mini-carinho-econômico, porque eu também pensava que a estrada era asfaltada do começo ao fim. Olhando pelo google maps, não havia nenhuma distinção entre a pista pavimentada e o trecho de cascalho. Ao constatar in loco que teríamos cerca de 80 quilômetros de terra, engoli em seco. Não há cidade ao redor. Não há posto de gasolina. Pouquíssima gente passa por ali. Atolar, no caso, pode significar passar horas (uma noite?) no meio do deserto, onde faz mais de 45 graus e há animais selvagens soltos. Não foi à toa, portanto, que depois de uns 60 quilômetros no meio do nada, fiquei literalmente emocionada quando vi uma escavadeira estacionada. “Um ser humano por perto”, pensei. Sofri à toa – a estrada é muito bem conservada. Mas, naquele momento, foi uma nóia bem intensa.

 

Há pouquíssimas opções de hospedagem ao redor do cânion, quase todas administradas pela NWR (Namibia Wildlife Resorts). O sistema dos caras é meio primitivo. As reservas pelo site não são imediatas. O melhor é ligar para um dos escritórios deste link, de preferência o de Windhoek, a capital da Namíbia. Fiz a minha reserva de manhã, e ao chegar em Ai-Ais à tarde (depois de passar aquele nervosinho na estrada), a minha confirmação não havia chegado ao resort pelo sistema (fui de carro e cheguei antes!). Não foi um problema (apesar do sustinho). Mas, se o hotel estivesse lotado, seria um MEGA perrengue, porque os resorts e campings ficam muito espalhados (o mais próximo nesse caso ficava a uns 80 quilômetros). Ou seja, é melhor se organizar com um pouco de antecedência.

A estrada: nada nem ninguém

A estrada: nada nem ninguém

Eu fiquei no Ai-Ais Hotsprings Resort Spa (o link não é o oficial, mas é o melhor para visualizar o hotel), um lugar bem louco na beira do Fish River onde há uma fonte de água termal. Ai-Ais fica a 80 quilômetros dos principais mirantes para o cânion, sobre o qual falo lá em cima. O lado bom disso é que a estrada entre uma coisa e outra é maravilhosa. No meio de toda aquela secura, o resort tem uma série de piscinas de água quente e outras nem tanto que salvaram vidas nos momentos mais insuportavelmente tórridos do dia. À noite, sob um céu absurdamente estrelado (e uma temperatura mais humana), era espetacular se jogar na piscina pelando, ao ar livre. O hotel tinha lá os seus problemas de serviço (além de uma arquitetura meio bizarra), mas achei o preço de US$ 90 por dia por pessoa, com café da manhã e jantar (comida bem ok), razoável para os padrões da região. Se estivesse podendo, teria ficado no Fish River Canyon Lodge, mais próximo aos mirantes e às partes mais cenográficas do cânion, além de superestiloso.

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A linda estrada entre Ai-Ais e o mirante do cânion

A linda estrada entre Ai-Ais e o mirante do cânion

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