Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Será que não falta um pouco de realidade nos blogs de viagem?

Ao nem sempre falar de flores, me considero uma prestadora de serviço. E assim seguirei

Por Adriana Setti
Atualizado em 10 jul 2019, 18h45 - Publicado em 12 ago 2015, 08h27

Em mais de dez anos de Achados, venho observando que nem sempre a realidade faz sucesso no universo da blogagem de viagem. Como jornalista profissional, tenho convicção de que devemos relatar um mesmo assunto sob vários aspectos, princípio que tento seguir neste blog. Justamente por isso, ao invés de me ater a descrever “a natureza exuberante pontilhada de pousadas requintadas”, também costumo falar das roubadas, dos micos, dos mosquitos, das agruras do viajante e daquilo que não deu certo. O lema do glorioso e finado guia Quatro Rodas, ao meu ver, resume o espírito do jornalismo de viagem: “a gente vai antes para você ir melhor”. Ampliando um pouco a ideia, seria o seguinte: “A gente vai antes, muitas vezes se ferra, pra você ir melhor ou decidir não ir”.

Ao nem sempre falar das flores, me considero uma prestadora de serviço. Mas a cada vez que relato uma roubada, tenho um feedback bipolar. Uma parte do eleitorado dá risada e, penso eu, fica com a história no chip para não passar o mesmo perrengue. Do outro lado, sempre aparece o time que me acusa de ser uma pessoa “negativa”. Também é típico: “se você viaja para ficar reclamando, é melhor ficar em casa”. Exemplos? Foi assim quando escrevi sobre o céu e o inferno de Veneza (uma cidade universalmente famosa por estar sucumbindo aos efeitos negativos do turismo de massa), quando listei as coisas que mais me irritavam num quarto de hotel, quando falei sobre os problemas que o excesso de turismo vem causando em Barcelona

Acabo de ler um post genial no blog americano This World Rocks, que mostra o lado idílico e o lado real de vários cartões postais do mundo. Será que nós, blogueiros de viagem, não precisamos fazer mais isso? Ao falar das maravilhas de Angkor Wat, não seria importante contar, também, que ao redor dos templos uma multidão de miseráveis é mantida atrás de uma linha de segurança para não incomodar os turistas? Ao listar as belezas de Bali, não convém dizer que o viajante também corre o risco de topar com uma maré de lixo em suas praias mais famosas? Devemos tentar colocar os pés do leitor no chão? Ou devemos nos limitar a alimentar sonhos?

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Beleza e miséria. Mar cristalino e lixo. Achados e micos. Pessoas mágicas e mágicos pilantras. Momentos felizes e outros difíceis. Tudo isso faz parte da experiência imensamente enriquecedora que é explorar o mundo. Por isso, sinceramente acredito que nosso papel como blogueiro é ajudar o leitor a viajar no mundo REAL, com seus cenários paradisíacos e seus perrengues infernais. Caso contrário, não passamos de folhetos publicitários interativos (papel que muitos blogs “independentes” cumprem direitinho com seu turbilhão de adjetivos barrocos).

Anos atrás quando levantei a bola da invasão de sargaço nas praias do Caribe, cheguei a ser acusada de mentirosa (o mais “curioso” é que, dando uma espiada no perfil de algumas dessas pessoas, pude constatar que eram vinculadas a hotéis de Cancún e outros serviços turísticos). Em compensação, naquela ocasião, recebi mensagens como as que copio abaixo:

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“Obrigada por todas essas informações tão importantes. É sempre bom saber com o que podemos contar. Vou viajar para a Riviera Maia e sinceramente agradeço a pesquisa feita, assim não sou apanhada de surpresa.”

“Acho que prestas um serviço público ao divulgares tais informações. Muito obrigada.”

É por gente assim que sigo firme no meu propósito.

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