Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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San Juan Chamula, Chiapas, México: um lugar muito estranho

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h49 - Publicado em 30 dez 2011, 12h21

A visão geral de San Juan Chamula com a Igreja de San Juan ao fundo: um lugar singular

É uma pena que não possa ilustrar este post com imagens mais ricas. Mas as restrições quanto a fotografar o que acontece em San Juan Chamula são seríssimas. Quem se atreve a desrespeitá-las pode entrar em uma grande roubada e, inclusive, levar alguns sopapos.

Os chamulas são uma facção da população indígena tzotzil, um dos grupos étnicos que compõem o caldeirão cultural do estado de Chiapas, uma das regiões mais fascinantes do México, no sul do país. Grande parte dos chamulas vivem em pequenas aldeias espalhadas pelo município de San Juan Chamula, 10 quilômetros ao noroeste da charmosa e cosmopolita San Cristóbal de las Casas (cidadezinha pela qual me derreti no post passado, onde passei o Natal na companhia de amigos novinhos em folha).

Apegadíssimos às suas tradições ancestrais, os chamulas seguem um sistema de organização social que muitas vezes entra em conflito com as leis nacionais – os homens muitas vezes têm mais de uma mulher, por exemplo. Os membros da tribo são arredios e não acham graça no turismo que respinga em seu QG, em sua maioria curiosos vindos de San Cristóbal. Quem se atreve deve ser discreto e fazer o máximo para não interferir na dinâmica local.

Quando cheguei a San Juan Chamula, na véspera do Natal, o ar cheirava fortemente a incenso. Na porta da igreja de San Juan, um tapete de folhas de pinho formava um quadrilátero ao redor da praça que abriga o templo. Homens vestidos com mantos de lã clara e mulheres de tranças longas e negras entoavam uma espécie de mantra. O pequeno grupo se movia lentamente, levando nos ombros a imagem de um santo. Durante todo o tempo em que estive lá (cerca de uma hora), não chegaram a cumprir um quarto do que imaginei ser um trajeto, marcado pelas folhas perfumadas do pinho no terreiro.

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Chamula é a perfeita tradução do sincretismo religioso característico de Chiapas. Aos símbolos e ritos católicos misturam-se tradições milenares tribais, que foram transmitidas ao longo das gerações, pesar dos esforços dos missionários cristãos.

Dentro da escura Igreja de San Juan (à qual é possível ter acesso mediante uma autorização emitida pelo escritório de turismo após o pagamento de 20 pesos, o equivalente a pouco mais de 1 euro), pequenos grupos se reuniam ao redor de velas longas e finas algumas negras, outras brancas) fixadas no chão. Mais folhas de pinho estavam espalhadas pelo chão. Ao redor das velas, ovos e garrafas de suco ou refrigerante serviam de oferenda a San Juan Batista, a quem os chamulas veneram mais que a Jesus Cristo. Copos de posh, um destilado de cana e milho, era compartilhado por uma família inteira, inclusive crianças. Segundo eles, o ritual etílico é uma forma de entrar em contato com deus. De repente, ouço o cacarejar de uma galinha. Dentro de um saco preto, a bichinha esperava a hora de ser sacrificada. Não fiquei para ver.

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