Achados
Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
Puerto Morelos: Cocoon ao lado de Cancún
A praia de Puerto Morelos: a Cancún de muitos e muitos anos atrás
Acordei da siesta com uma cantoria mística. Mas então tive a certeza de ter ouvido acordes de Hava Nagila. Será? Segundos depois… “Hare Krishna, Hare Hama”. Afundei a cabeça no travesseiro na esperança de um chorinho de sono e, quando voltei à tona, Jesus Christ era a bola da vez. Santo deus? O que estaria acontecendo? Abro a janela e custo a entender o que todos aqueles senhores em idade avançada estariam fazendo, em roda e de mãos dadas, embaixo da minha janela. Devidamente vestidos com saias indianas e com cabeças adornadas por cabeleiras grisalhas desgrenhadas, eles cantavam pela paz do universo e o entendimento entre as religiões. “Venha! Venha!”, gritava um magrinho entusiasmado na minha direção. “It is a very cool thing to do” (“é uma coisa super cool para se fazer”). Ali estava o espírito de Puerto Morelos.
Climinha de vila de pescadores, sem prédios altos ou grandes resorts
Se celebrar a paz universal não está entre os seus projetos para as férias, no passa nada. Pense por outro lado: se você perdeu a oportunidade de conhecer Cancún antes de que todos aqueles resorts e complexos de lazer tomassem a dianteira de uma das praias mais belas do México, não repita a dose com Puerto Morelos: a hora é agora.
Entre a frenética Cancún e a glamorosa Playa del Carmen, esse balneário à beira do Caribe sobreviveu milagrosamente ao boom hoteleiro que acometeu as duas vizinhas nas últimas décadas e conserva praticamente intacto o seu ar de vila de pescadores. Por essas e outras, caiu nas graças de quem já passou da idade para o frenesi de “Playa” e Cancún, mas ainda está cheio de energia e amor para dar. Turmas, casais, solteirões simpáticos, grupos em retiros espirituais e muita gente que ainda ostenta o mesmo rabo de cavalo que usava nos anos 60 compõem a lista de habitués dessa espécie de Cocoon, entre os quais predominam canadenses e americanos – muitos deles com residência fixa na cidade.
Típica habitué de Puerto Morelos super preocupada com as nevascas no Canadá
Durante o dia nada desvia o foco do azul eletrizante do Caribe. Grupos de yoga se reúnem na praia ao amanhecer. Alguns entregam-se sem culpa ao dolce far niente, alugando espreguiçadeiras e guarda-sóis (US$ 5 pelo dia inteiro) para dourar ao sol sobre a areia alvíssima. Outros seguem ao recife de corais que escora a praia, protegido por um parque nacional marinho. Com água cristalina e morna (a temperatura nunca baixa de 27o C), Puerto Morelos é um paraíso para mergulhar com snorkel. A visibilidade é perfeita e permite enxergar uma lista enorme de peixes coloridos, além de barracudas, arraias, lulas, moreias e outros animais.
Quando bate uma fominha, o endereço certo para ir, ainda em roupa de banho, é a marisqueria pé na areia La Playta (11h/20h; $), administrada por uma família local, que serve peixe, camarão, lagosta e um ótimo ceviche com matéria prima recém pescada, a preços irrisórios. Mais tarde, não faltam restaurantes sofisticados para um jantar romântico ou entre amigos seguido de uma boa cerveja mexicana ou uma margarita. O pequenino La Terraza (Avenida Rojo Gómez, em frente à praça principal) serve uma combinação inusitada – mas muito bem sucedida – da cozinha mexicana com a indiana (não deixe de provar os camarões ao molho de tequila por nada deste mundo).
Para entrar no clima, melhor do que hospedar-se em um resort dos arredores é escolher uma pousada no centrinho para poder fazer tudo a pé. O Hotel Villas Latinas tem quartos simples, mas grandes, arejados, com ar condicionado, TV a cabo e internet wi-fi. A área comum tem uma boa piscina e a localização é irretocável, de frente para o mar.
Acabei ficando uma semana por lá, tirando férias das férias, algo a que todo ser humano deveria ter direito.
@drisetti
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