Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Para fazer antes de morrer: mergulhar em um cenote mexicano

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h49 - Publicado em 23 jan 2012, 18h33

O visual surreal embaixo da água / Foto: Adriana Setti

Além de ser um dos destinos praianos mais incríveis do mundo, o estado de Quintana Roo (onde estão todas as praias famosas do México: Cancún, Playa del Carmen, Tulum) é envolto por uma bruma de misticismo. Não só pelo passado maya, mas por sua condição geográfica única. Toda a península sustenta-se sobre uma rede de rios e cavernas subterrâneas que até os dias de hoje não foi totalmente mapeada.

Os cenotes são pequenas aberturas que deixam entrever as águas azulíssimas e cristalinas dessas artérias que, ao longo de milhares de anos, abasteceram a região de água doce. Não à toa, os mayas acreditavam que os cenotes eram passagens a um outro mundo.

Não é todo dia que se mergulha em um lugar assim, definitivamente.

O jogo de luzes / Foto: Adriana Setti

Na noite anterior eu não consegui dormir. Se voltar a mergulhar depois de alguns meses fora da água já gera um certo nervosismo, aquilo que eu me propusera a fazer no dia seguinte gerava muito mais ansiedade. Seria a minha primeira imersão em água relativamente fria (em torno dos 24 graus, enquanto estava habituada aos 28 dos mares dos trópicos) e doce (o que faz com que você tenha que readaptar a quantidade de peso que usa habitualmente). Seria, acima de tudo, o meu primeiro mergulho em uma caverna de verdade, onde perderia o contato com a luz do sol — e obviamente não poderia voltar à superfície a qualquer momento, caso desse uma surtada básica.

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Claustrofobia pra quê? / Foto: Adriana Setti

O lugar escolhido para a primeira imersão era fácil: poderíamos ver pelo menos uma nesga de luz ao longo de todo o mergulho (isso, claro, se desse uma olhadinha para trás nos momentos em que a caverna ficasse mais escura, o que não é exatamente fácil, uma vez que também precisaria desviar de estalactites e afins). O Gran Cenote fica a três quilômetros de Tulum e também é um dos melhores para nadar, por que tem uma “piscina” grande ao ar livre.

O segundo que visitaríamos, Calavera (ou Temple of Doom, em homenagem ao filme de Indiana Jones), teria apenas três aberturas (os olhos e a boca que lembram o formato de uma caveira) pequenas e profundas para a superfície e estaríamos na escuridão durante quase toda a imersão. Para cair na água, era preciso se atirar de uma altura de dois metros e pouco com o equipamento.

Teoricamente, um mergulho assim parece uma grande aventura. Mas a visibilidade de mais de cem metros (inimaginável em mar aberto), a pouca profundidade (em torno de quinze metros), a ausência total de correntes e as medidas de segurança extremas fazem com que a experiência seja transcendental e tranquilíssima. Os guias devem ir com dois tanques, todo o trajeto é sinalizado com uma corda e as partes mais estreitas da caverna são sinalizadas ostensivamente: é proibidíssimo entrar caso você não seja um mergulhador com um certificado técnico.

Salões gigantescos se revelam a cada movimento de lanterna, decorados com estalactites e estalagmites das mais variadas formas que fazem com que todo o cenário pareça estar derretendo. Colunas inteiras, esguias, unem teto e chão, como se tivessem sido esculpidas por Gaudí. A luz do sol que penetra por brechas de luz traça raios de neon que rasgam a escuridão.

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No cenote Calavera, água fria doce e água salgada do mar (o sistema de rios está conectado ao oceano em vários pontos) se misturam, gerando efeitos psicodélicos por causa da diferente refração da luz. Sentir claustrofobia num lugar assim está fora de cogitação.

Mergulhar em um cenote parece difícil, mas não é / Foto: Adriana Setti

PARA QUEM NÃO MERGULHA: Alguns cenotes, como o belíssimo Dos Ojos, oferecem passeios guiados com snorkel com os quais é possível ter uma boa ideia do que é o lugar.
PARA QUEM MERGULHA: Duas imersões em dois cenotes diferentes custam US$ 120. Por indicação de um amigo, escolhi o Dive Center Pro-Tech, disparado o melhor de Tulum (e talvez de toda a América Latina), administrado pelo sueco Kim, um mergulhador técnico que está ajudando a mapear o sistema de rios subterrâneos e conhece o lugar como ninguém. Recomendo entusiasticamente. A empresa também oferece uma lista enorme de cursos técnicos hardcore, para os mais valentes.

 

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