Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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O que rola nos Sanfermines, a balada mais insana da Espanha

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 16h10 - Publicado em 8 jul 2008, 13h07

O encierro, que rola as 8 da matina

Muita gente acha que a festa de San Fermín, que acontece a cada verão em Pamplona, no norte da Espanha, se resume a touros furiosos perseguindo valentões vestidos de branco – com lenços vermelhos no pescoço – pelas ruas da cidade. Mas o encierro (o momento dos touros atrás dos malucos) é apenas uma das insânias cometidas entre os dias 6 e 14 de julho, todos os anos. Ou seja, há dois dias, os pamplonenses estão com as pantufas de jaca em ação.

A festa ficou famosa internacionalmente após ter sido imortalizada pelo escritor norte-americano Ermest Hemingway em O Sol Também se Levanta. E hoje em dia atrai uma multidão absurda, fazendo com que a densidade demográfica em Pamplona durante esses dias seja páreo para o carnaval de Olinda (que conheço muito bem).

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O “txupinazo”, no dia 6 de julho, na Plaza del Ayuntamiento

Conseguir um lugar pra ficar em cima da hora é missão impossível. Mas ninguém está nem aí. A coisa mais normal do mundo, para quem vai aos San Fermines, é virar mendigo por alguns dias, e vagar pela cidade dormindo onde couber mais um corpo esticado no chão. Banho? Pra que? Depois de três minutos você estará coberto de vinho, farinha e outras melecas. Ou seja, é preciso ter cojones e móóóita disposição para enfrentar essa balada.

Pouco antes do meio dia de 6 de julho, a multidão na Plaza del Ayuntamiento (praça da prefeitura) de Pamplona prova que até três corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Os veteranos da pipoca do Chiclete com Banana ficariam abismados. Ao escutar as doze badaladas, o prefeito (neste ano, uma prefeita) sai na varanda do edifício da prefeitura e grita: “Pamploneses, Viva San Fermín, Gora San Fermin”. E estoura um rojão. É o ritual do “txupinazo”. Neste momento, milhares de garrafas de vinho, cidra e cava estouram e a massa vai ao delírio. E está dada a largada para uma bagunça infernal que durará sete dias, 24 horas. Vale muito a pena ver o vídeo do txupinazo deste ano, abaixo. Acelere até a marca dos três minutos para ver o exato momento, sem enrolação.

Neste ano eu não fui. Mas como a balbúrdia segue o mesmo ritual desde que deixou Hemingway com as barbas em pé, vale contar aqui a minha experiência com os San Fermines. Inesquecível.

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Como decidimos ir em cima da hora, e estávamos em um grupo de mais de dez pessoas, nem cogitamos tentar reservar um lugar. E optamos por fazer um bate e volta Barcelona-Pamplona, com direito a umas 30 horas de festa. Pegamos o trem das sete da matina e chegamos em Pamplona pouco depois do txupinazo (a passagem só de ida custa de € 23,50 a €51,90, veja mais informações no site da Renfe).

Depois do rojão, o murundu de gente que se aglomera na Plaza del Ayuntamiento vai se espalhando, invadindo os bares da cidade, as ruas, as praças, a casa das pessoas (quando você menos espera entrou numa festa privada sem nem saber como)… As peñas, que são espécies de agremiações com uma função exclusivamente voltada para a farra, desfilam com suas bandeiras, acompanhadas por bandinhas. Esse intervalinho de tempo é uma espécie de concentração para a tourada, que rola às seis e meia da tarde, quando todo mundo já está beeeem mais pra lá do que pra cá.

Onde está Wolly? Encontre esta blogueira no meio da muvuca…

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Quem está interessado no duelo entre touro e toureiro (os grandes nomes costumam aparecer), senta no setor “sombra”. E quem quer continuar a folia, senta no setor “sol”. Na ala do oba-oba, é normal ver gente carregando uma paella inteira, que invariavelmente termina sendo arremessada na cabeça de alguém. No final do “espetáculo” todo mundo já está coberto de arroz, farinha, frango, vinho e o todas as melecas que possam aparecer pela frente.

O desfile das peñas, rumo à plaza de toros

Imundos e enlouquecidos, aqueles que estavam na tourada são recebidos pela multidão que ficou do lado de fora, onde o festerê rola com a mesma animação, mas sem touros. E assim a coisa segue durante toda a noite, até as oito da manhã, quando os animais saem enlouquecidos do curral passando por cima de quem estiver na frente até chegarem à praça de touros.

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Sim, aquilo lá acontece às oito da manhã, quando as únicas pessoas capazes de “fazer o quatro” na cidade são os caras que participam do encierro. Sim, porque há uma certa organização dentro do caos. O percurso por onde passam os touros é isolado por uma cerca alta de madeira. E os que estão muito borrachos são deixados de fora por não conseguirem mais parar em pé. Mesmo assim, a cada ano, ingleses, australianos e outros bêbados menos experientes acabam indo parar no hospital e até mesmo no cemitério.

Cada macaco no seu galho pra ver o encierro

Nas horas que antecedem o estouro da boiada, o negocio dá uma acalmada, porque todo mundo corre para a cerca, se empoleirando como pode. Até os postes de luz viram arquibancada. Os mais preparados alugam um espacinho na varanda das casas localizadas no percurso (mais informações no escritório de turismo).

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Antes de sermos enxotados pelos punks, soneca estilo mendigo. A criatura de moleton vermelho e jeans sou eu. Reparem no ser ao meu lado, dormindo com a cara na grama

Como eu estava no time dos que não conseguiam parar mais em pé, resolvi dar um bodinho na grama da praça antes do amanhecer. Mas poucos minutos depois, meus amigos e eu fomos acordados por um grupos de punks de quem, aparentemente, tínhamos roubado o metro quadrado de chão. Daí o jeito foi voltar para a guerra. A essas alturas, porém, a aglomeração na cerca do encierro já era tamanha que, da passagem dos touros, eu só ouvi um ruído parecido com o de um terremoto.

Para saber mais, acesse o divertidíssimo site www.sanfermin.com.

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