Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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O inesquecível mergulho no Blue Hole em Belize

Por Adriana Setti
Atualizado em 27 fev 2017, 15h48 - Publicado em 10 fev 2012, 11h22

Vista aérea do Blue Hole / Foto: Thinkstock

Uma circunferência perfeita de 130 metros de diâmetro desenhada em um azul profundo, contornada por uma delicada linha turquesa, no meio do mar. Esplêndido na famosa imagem aérea que é o cartão postal de Belize, o Blue Hole não é exatamente fotogênico quando se está ali, na cara no gol (a menos que você esteja voando). Com um pouco de imaginação, até é possível avistar parte do arco desenhado pelas bordas do arrecife. Mas não mais que isso. Para os mergulhadores, o buraco é mais embaixo.

A descida a um dos lugares mais cobiçados do mundo para a turma do cilindro começa com uma suave ladeira de areia branca. Mas a mamata dura pouco, e logo avista-se o despenhadeiro que leva a 120 metros de profundidade de uma tacada. A água fica subitamente muito mais fria e, acima de tudo, assustadoramente escura. Olhando para baixo, tive a nítida sensação de estar nadando rumo ao breu.

Segundo o procedimento combinado no barco, deveríamos descer diretamente a 40 metros de profundidade, tarefa na qual estava tão focada que já deveria andar pela metade do caminho quando tive a brilhante ideia de olhar para trás: na direção contrária à imensidão azul-quase-negra, era possível enxergar não só a parede em formações psicodélicas, mas também os meus companheiros. Relaxei, pero no mucho: perto de mim nadavam dois tubarões cinza de arrecifes de mais de três metros de comprimento. Muita gente os confunde com os agressivos tubarões-cabeça-chata, figurinha conhecida em Recife (medo!), mas o guia jurou (depois, obviamente) que a semelhança é mera coincidência.

Os tubarões, no entanto, estavam longe de ser o que mais me preocupava naquele momento. O que eu temia, de verdade, era que tico e o teco, dentro da minha caixa craniana, começavam a se desentender. Ao chegar aos 40 metros de profundidade, passei a sentir a famosa narcose por nitrogênio, que acomete algumas pessoas em mergulhos muito profundos. Para quem não sabe, a sensação é mais ou menos a de ter tomado umas e outras, o que não costuma ser recomendável quando se tem um arranha-céu de água sobre a cabeça (reza a lenda que cada 15 metros equivalem a uma dose de Martini — mas o meu, nesse caso, veio mais carregado do que o do resto da tchurma).

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Mas o tempo que estaríamos tão fundo seria curtíssimo, 7 minutos. Então preferi seguir em frente (ao invés de subir um pouquinho, o que reverte a leseira) para não perder o melhor da festa. Um dos guias notou que eu andava meio “dãã” e chegou mais perto de mim, o que me deu mais segurança).

Ali no fundo encontram-se as estalactites gigantescas que são a grande atração da imersão (além dos tubarões, claro). O cenário é surrealista e, até hoje, intriga os pesquisadores, uma vez que esse tipo de formação costuma ser esculpida pela ação da chuva. Como aquilo pode estar no fundo do mar?

Passados 7 minutos, que pareceram segundos, era hora de subir (sim, o mergulho é curtíssimo), desviando de outros tubarões enormes, rumo à luz. No caminho de volta a Caue Caulker, uma dezena de golfinhos saltitou ao lado da lancha, seguindo-nos por alguns minutos. Diz a lenda que quando o sujeito completa 100 imersões, deve comemorar submergindo como veio ao mundo. Aquele havia sido o meu centésimo mergulho. Não dispensei a roupa de neoprene, mas aquela celebração definitivamente estava de bom tamanho.

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